O Arquipélago de Alcatrazes é uma área marinha protegida que contribui para a conservação de espécies e, potencialmente, para a captura de carbono (foto: Leo Francini)
Imagine um lugar onde o mar guarda segredos que podem ajudar a combater as mudanças climáticas. No Arquipélago de Alcatrazes, no litoral sul de São Paulo, uma única espécie de coral-cérebro (Mussismilia hispida) está fazendo um trabalho impressionante: capturando cerca de 20 toneladas de carbono por ano. Isso é o equivalente ao carbono emitido pela queima de 324 mil litros de gasolina! Um estudo recente, publicado na revista Marine Environmental Research, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), revela o potencial desses corais subtropicais como aliados na luta contra o aquecimento global.
Os corais-cérebro têm um esqueleto feito de carbonato de cálcio (CaCO3), um composto que armazena carbono de forma duradoura. Usando tomografias computadorizadas, os cientistas conseguiram medir o crescimento anual das colônias, observando as chamadas bandas de crescimento – como anéis de árvores, que marcam um ano de vida. Com isso, estimaram que os corais de Alcatrazes produzem 170 toneladas de CaCO3 por ano, o que significa que estão retirando uma quantidade significativa de carbono da atmosfera, evitando que ele se transforme em CO2, o gás do efeito estufa.
“Queríamos entender como esses corais crescem, mas cortar seus esqueletos é complicado. A tomografia nos permitiu ver as bandas de crescimento e calcular quanto carbono eles armazenam anualmente”, explica Luiz de Souza Oliveira, mestrando da Unifesp e primeiro autor do estudo, financiado pela FAPESP.
Os corais de Alcatrazes surpreenderam os pesquisadores. Diferentemente do que se esperava, a taxa de crescimento deles é semelhante à de corais tropicais, como os de Abrolhos ou Fernando de Noronha. “Esses corais subtropicais vivem no limite de suas condições ideais, então imaginávamos que cresceriam menos. Foi uma surpresa descobrir que são tão produtivos”, conta Guilherme Henrique Pereira Filho, coordenador do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LABECMar) da Unifesp.
Para mapear a área ocupada pelos corais, a pesquisadora Mônica Andrade da Silva usou técnicas sonográficas, que revelaram a extensão das colônias no fundo do mar. Esse trabalho, também apoiado pela FAPESP, foi essencial para calcular a produção total de carbonato de cálcio no arquipélago.
Apesar de sua produtividade, os corais de Alcatrazes não formam grandes recifes, como os encontrados em regiões tropicais. Uma teoria é que eles chegaram à região há apenas 2 mil a 3 mil anos, um tempo curto para construir estruturas maiores. Outra possibilidade são as tempestades frequentes, que podem destruir as colônias antes que se acumulem. Ainda assim, o fundo marinho de Alcatrazes é rico em sedimentos de carbonato de cálcio, vindos não só dos corais, mas também de conchas e outros organismos, que podem armazenar carbono por séculos ou até milênios.
Os corais de Alcatrazes oferecem mais do que beleza e biodiversidade: eles são potenciais sumidouros de carbono. Diferentemente dos recifes tropicais, que podem emitir mais carbono por causa da alta atividade biológica, os ambientes subtropicais como Alcatrazes parecem absorver mais do que liberam. Isso acontece porque, além dos corais, macroalgas que crescem nas rochas do arquipélago capturam CO2 por meio da fotossíntese. “O carbono mineralizado nos corais pode ficar armazenado por milhares de anos, diferente do carbono orgânico, que volta rápido para a atmosfera”, explica Pereira Filho.
O Arquipélago de Alcatrazes, uma área marinha protegida gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), é conhecido por abrigar espécies marinhas de valor pesqueiro. Mas o estudo da Unifesp, parte do Projeto Mar de Alcatrazes em parceria com a Petrobras, mostra que ele também presta um serviço essencial ao clima. “A sociedade muitas vezes valoriza áreas protegidas só pela pesca, mas Alcatrazes está fazendo muito mais, ajudando a mitigar as emissões de carbono”, destaca Pereira Filho.
Com o aumento das emissões globais de CO2, entender o papel dos corais subtropicais pode ser uma peça-chave para estratégias de conservação e combate às mudanças climáticas. Saiba mais sobre a conservação em Alcatrazes.
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