Belém, cidade que se tornou o centro nervoso das negociações climáticas globais, é palco de um chamado que ecoa do coração da floresta: chegou o momento de agir. O Greenpeace Brasil, ao abrir a Cúpula dos Líderes da COP30, lança uma advertência clara e urgente — o limite de 1,5°C está à beira do colapso, e o planeta não pode mais esperar pela diplomacia morna que tem marcado as conferências internacionais.

A mensagem, transmitida pela diretora-executiva da organização, Carolina Pasquali, não é apenas um apelo, mas um ultimato. Ela lembra que o planeta se aproxima de pontos de inflexão irreversíveis e que a Amazônia, anfitriã simbólica da conferência, corre o risco de atravessar seu próprio ponto de não retorno. “Tudo começa aqui em Belém”, afirma, chamando a atenção para a responsabilidade histórica do Brasil e o papel de seus povos originários, que guardam não apenas a floresta, mas o conhecimento necessário para redesenhar o futuro climático da Terra.
A fala de Pasquali é também um alerta político: a COP30 precisa ser mais que um evento diplomático. É o momento de transformar promessas em decisões concretas e encerrar de vez a era dos combustíveis fósseis — uma mensagem que ecoa além das margens do Guajará, alcançando governos, empresas e instituições financeiras que ainda sustentam um modelo energético ultrapassado.
O chamado à coerência europeia
Do outro lado do Atlântico, o recado do Greenpeace França, representado por Jean-François Julliard, mira diretamente a União Europeia. Ele exige que o bloco recupere o protagonismo climático que marcou o Acordo de Paris. “Precisamos de ações urgentes — não mais conversas ou metas diluídas”, resume.
A crítica é incisiva: enquanto o planeta arde, líderes europeus seguem presos a cálculos eleitorais e concessões à indústria fóssil. O tom da nota aponta que a França e seus parceiros precisam não apenas discursar, mas agir com coerência e assumir sua responsabilidade histórica como grandes emissores. O limite de 1,5°C não é uma meta simbólica — é o divisor entre o caos climático e a sobrevivência planetária.

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A voz do Pacífico e o peso da legalidade
A contundência aumenta com o posicionamento do Greenpeace Austrália-Pacífico, por meio de Shiva Gounden. Sua fala conecta a ciência à ética e à justiça: o limite de 1,5°C, diz ele, é uma linha de vida para as nações insulares ameaçadas pela elevação dos mares. A recente decisão da Corte Internacional de Justiça, que reconheceu a obrigação legal dos países de manter o aquecimento dentro desse limite, dá nova força à cobrança moral e jurídica.
Gounden não poupa palavras ao denunciar a complacência de governos e o poder corrosivo do lobby fóssil. Ele exige o fim imediato de subsídios e isenções fiscais para empresas que lucram com a destruição do planeta. “A responsabilidade moral e política nunca foi tão clara”, reforça, pedindo coragem e humanidade diante do colapso climático.
As exigências de um novo pacto global
O documento apresentado pelo Greenpeace propõe um roteiro de transformação. A organização convoca os líderes da COP30 a adotar um Plano Global de Resposta Climática, capaz de fechar a lacuna entre as metas atuais e o objetivo de limitar o aquecimento a 1,5°C.
Entre as medidas urgentes estão:
A criação de um Plano de Ação Florestal de cinco anos, para frear e reverter o desmatamento até 2030 — compromisso assumido, mas ainda não cumprido, desde a COP28.
A ampliação do financiamento climático internacional, com impostos sobre grandes poluidores e mecanismos de transferência de recursos a países em desenvolvimento, em forma de doações e empréstimos de baixo custo.
A implementação de uma meta global de adaptação (GGA) baseada na justiça climática, com triplicação do financiamento público até 2030.
Essas demandas colocam em xeque a credibilidade dos líderes. A COP30, realizada no coração da Amazônia, será o termômetro da coragem política mundial. Se a reunião dos chefes de Estado em Belém não for capaz de preparar um terreno sólido para decisões ambiciosas, o planeta avançará inexoravelmente para a era das catástrofes previsíveis.
Belém como fronteira moral
A presença do Greenpeace na Cúpula dos Líderes reforça que a luta climática deixou de ser apenas técnica — é ética, social e civilizatória. A Amazônia, que há séculos resiste à exploração predatória, agora pede reciprocidade. Belém não é apenas uma anfitriã, mas um espelho: o que o mundo fizer (ou deixar de fazer) aqui refletirá em todos os continentes.
Enquanto os líderes discutem, a floresta observa. E dela parte o imperativo que ecoa das vozes indígenas, dos cientistas e das comunidades que vivem na linha de frente da crise: agir agora é o mínimo. O futuro exige urgência, coragem e compromisso.







































