Desmatamento avança em 76% do futuro polo agrícola na Amazônia


 

Um estudo recente revelou que 76,5% do desmatamento total nos estados de Amazonas, Acre e Rondônia, conhecidos coletivamente como Amacro, ocorreu na região onde se planeja estabelecer um polo agrícola. Publicado na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation, o estudo aponta que o desmatamento tem aumentado desde que foi anunciada a intenção de criar uma Zona de Desenvolvimento Sustentável (ZDS) em 2018.

A pesquisa utilizou dados de sensoriamento remoto para analisar uma área de aproximadamente 454 mil km², equivalente ao território da Suécia. A área, que abriga cerca de 1,7 milhão de habitantes e engloba 32 municípios na fronteira entre o sul do Amazonas, o leste do Acre e o noroeste de Rondônia, tem sido chamada de “o novo arco do desmatamento”.

O pesquisador Michel Eustáquio Dantas Chaves, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), observou que o desmatamento tem aumentado na região desde 2012, coincidindo com um período de crise econômica e enfraquecimento da regulamentação ambiental no Brasil. Entre 2012 e 2020, 5,2% da área da ZDS Abunã-Madeira foi convertida para usos antrópicos do solo, principalmente de floresta para pastagem.

Os pesquisadores descobriram que o desmatamento foi mais frequente e crescente em terras privadas, mas também avançou de forma preocupante sobre as Unidades de Conservação (UCs) entre 2018 e 2022. Em relação às terras públicas, que representam grande parte da área de zoneamento, incluindo reservas extrativistas e Terras Indígenas (TIs), também houve pressão e ameaça.

Os cientistas expressaram preocupação com a ausência de estudos de impacto ambiental e de políticas públicas socioambientais para proteger as comunidades tradicionais. O pesquisador Marcos Adami, do Inpe, ressaltou a importância de garantir que a produção agrícola obedeça às leis, gere renda e se transforme em desenvolvimento para a região, não apenas exploração.

O estudo contou com a participação de vários pesquisadores e recebeu apoio da FAPESP. Chaves lembrou que a proposta de criação da zona “nasceu” com foco na produção de soja, por isso chegou a ser chamada de “Matopiba do Norte”, em referência à fronteira agrícola que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

A Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) descreve a criação da ZDS Abunã-Madeira como uma proposta que visa fomentar o desenvolvimento socioeconômico, potencializando as vocações locais de bioeconomia, circuitos produtivos agrossustentáveis e ações multissetoriais. No entanto, a Sudam não retornou aos contatos da Agência FAPESP para comentar sobre o assunto.

O artigo completo, intitulado “Amacro: the newer Amazonia deforestation hotspot and a potential setback for Brazilian agriculture”, pode ser acessado no site da revista Perspectives in Ecology and Conservation.


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