Enquanto a COP30 se desenrola em Belém, uma voz diplomática da China anunciou que o país trabalhará com todas as partes para gerar “resultados positivos e equilibrados” na governança climática global. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, reafirmou que o princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, seguirá orientando o engajamento chinês no enfrentamento das mudanças climáticas.

Guo enfatizou que, uma década após a assinatura do Acordo de Paris, o regime internacional de ação climática entra numa fase decisiva. Nesse contexto, a China se coloca como um ator “executor prático”, conforme suas próprias palavras, e assinala que apoiará o Brasil na presidência da COP30. Segundo ele, a cooperação entre Norte Global e Sul Global não é opcional: “todos nós estamos a bordo do mesmo navio”. A metáfora revela uma estratégia explícita de inclusão de países em desenvolvimento, justificando o papel que a China deseja ocupar.
Além disso, Guo mencionou o papel de Ding Xuexiang — integrante do comitê central do Partido Comunista da China (PCCh) e vice-primeiro-ministro — como representante especial do presidente Xi Jinping. Ding participou da Cúpula do Clima em Belém e fez declarações que, segundo Guo, impuseram uma “direção certa” para o esforço internacional: converter compromissos em ações concretas, aprofundar a abertura e intensificar a cooperação.
Do lado técnico, a China revelou números expressivos: segundo Guo, o país deslocou sua política energética para alcançar o pico de emissões e a neutralidade de carbono como prioridades nacionais. Ele relatou que 70% dos equipamentos de energia eólica e 80% dos componentes fotovoltaicos fabricados no mundo têm origem chinesa, o que teria permitido quedas nos custos globais de geração renovável de mais de 60% e 80%, respectivamente. Com uma estrutura institucional descrita como “a mais sistemática e completa” para redução de emissões, a China reforça seu argumento de liderança prática.

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O discurso vai além da autoproclamação: ele insere a China num quadro de cooperação global, no qual as nações devem agir em conjunto, respeitando diferenças históricas e capacidades distintas. Essa narrativa ecoa em Belém, onde o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou que a China está desenvolvendo soluções que beneficiam a todos. O objetivo declarado: não deixar que apenas países desenvolvidos definam o rumo, mas assegurar que o Sul Global possa assumir protagonismo.
Vale ressaltar que a ausência de um enviado de alto nível dos Estados Unidos na COP30 é interpretada por analistas como um indicativo da mudança de eixos no debate climático. Para Guo e para o conjunto de diplomatas chineses, isso reforça a necessidade de cooperação entre economias emergentes e em desenvolvimento. A mensagem é que o futuro da governança do clima depende menos de promessas solenes e mais de práticas robustas e replicáveis.
Sob esse prisma, o compromisso chinês — anunciado por Guo — assume três dimensões: diplomática, industrial e tecnológica. Diplomática porque reafirma o princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas; industrial porque demonstra o peso da produção chinesa de equipamentos renováveis; tecnológica porque mostra que a China está disposta a converter escala de produção em redução de custos e acesso global.
Para além da retórica, esse momento da COP30 simboliza uma virada: os países tradicionais do Norte Global passam a ser desafiados pelo dinamismo do Sul. A China coloca-se não apenas como engenheira da própria transição, mas como facilitadora de mecanismos de cooperação que possam viabilizar essa transição em outras partes do mundo. A referência à liderança do Sul Global não é retórica vazia — é parte de uma narrativa meticulosamente construída.
É importante observar que os compromissos chineses não se limitam a metas relativas ou de intensidade; Guo lembrou que a China apresentou pela primeira vez uma meta de redução absoluta de emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores econômicos. Esse passo, segundo ele, demonstra a “determinação firme e esforço máximo” do país.
Enquanto o mundo observa e debate políticas e tecnologias, as ruas de Belém refletem uma engrenagem maior: a mobilidade elétrica, os leilões de carbono, as cooperações Sul-Sul, as importações de equipamentos renováveis e, sobretudo, a redefinição de quem dita os rumos do planeta. A China, mais do que nunca, não aparece apenas como participante, mas como protagonista no palco climático global. E a COP30, ao apropriá-la de instrumentos como os veículos elétricos chineses ou os cofres da ação industrial, confirma que a agenda climática está em plena mutação.







































