Doença redefine o mapa da citricultura no Brasil, impulsionando migração de plantios com apoio da ciência

Autor: Redação Revista Amazônia

O avanço do huanglongbing (HLB ou greening), considerada a pior doença dos cultivos de citros no mundo, está provocando uma mudança significativa na geografia da citricultura brasileira.

Cinturão Citrícola

O tradicional Cinturão Citrícola, que abrange São Paulo (exceto o litoral), Triângulo Mineiro e sudoeste de Minas Gerais, está se expandindo para incluir novos estados, como Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e Distrito Federal, formando o chamado Cinturão Citrícola Expandido (CCE). Cientistas da Embrapa e do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) estão à frente de estudos de zoneamento de riscos climáticos e fitossanitários para auxiliar os produtores nessa transição.

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Fonte: Portal Embrapa

“A Embrapa está comprometida em colaborar para mitigar e controlar o HLB, mas a realidade é que a citricultura pode e deve se expandir para novas áreas”, afirma Francisco Laranjeira, pesquisador e chefe-geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA). “Vamos continuar trabalhando não apenas no Cinturão Citrícola Expandido, mas avaliando todo o país. É um compromisso com a cadeia produtiva”, reforça.

Zoneamento de riscos climáticos e fitossanitários

Pesquisas como o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), desenvolvido pela Embrapa, têm sido fundamentais para orientar os produtores. O Zarc avalia riscos de perda de produção associados a diferentes fases do cultivo, desde a floração até a colheita, considerando fatores como déficit hídrico e temperaturas elevadas.

“Com os resultados do Zarc, conseguimos identificar regiões limítrofes ao Cinturão Citrícola tradicional e avaliar os riscos climáticos para planejar a expansão da citricultura”, explica Mauricio Coelho, pesquisador da Embrapa e coordenador do Zarc Citros. Ele é um dos autores da publicação “Expansão do cinturão citrícola – Quais as aptidões e os riscos climáticos?”, que serve como guia para os citricultores.

Além do Zarc, está em desenvolvimento um zoneamento específico para o psilídeo-vetor da bactéria causadora do HLB e para a podridão floral dos citros (PFC), outra doença que afeta a produção. O projeto, liderado por Alécio Moreira, analista da Embrapa, e financiado pela Fapesp, deve disponibilizar mapas de risco até 2025.

“Essas informações são cruciais para que os produtores tomem decisões mais seguras sobre onde e como plantar, especialmente em um cenário de mudanças climáticas”, destaca Moreira.

Migração dos pomares e desafios logísticos

A migração dos pomares para novas áreas começou a ganhar força em 2023 e continua em ascensão. Segundo Renato Bassanezi, pesquisador do Fundecitrus, muitos produtores estão buscando regiões com baixa incidência de greening. “Em 2024, o aumento da doença em São Paulo foi menor do que no ano anterior, o que trouxe algum alívio ao setor. No entanto, a migração para áreas como Mato Grosso do Sul exige adaptações, como o uso de irrigação para antecipar a florada”, explica.

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Danilo Yamane, da FortCitrus Consultoria, ressalta que os produtores enfrentam três grandes desafios: o clima adverso, a logística de transporte e a falta de mão de obra especializada. “As novas áreas não têm a laranja como cultura tradicional, o que exige um esforço adicional para capacitação e infraestrutura”, observa.

Empresas apostam na expansão

A Cambuhy Agrícola, sediada em Matão (SP), é uma das empresas que decidiram migrar para novas áreas. “A decisão foi tomada devido ao aumento expressivo do HLB e vai gerar 1.200 empregos diretos”, conta Fabrício Lanza, gerente de P&D da empresa. A companhia está plantando laranjas Pera em Ribas do Rio Pardo (MS), com densidade de 444 plantas por hectare.

Outra empresa que está investindo na expansão é a Agroterenas. “Começamos os plantios em 2024 e devemos concluir 1.500 hectares até 2026”, afirma Ezequiel Castilho, diretor agroindustrial da AGT Citrus. Ele destaca o apoio do governo estadual e as orientações técnicas do Fundecitrus e da Embrapa como fatores essenciais para o sucesso do projeto.

Futuro da citricultura no Brasil

A migração dos pomares para novas áreas é vista como uma resposta natural aos desafios impostos pelo HLB e pelas mudanças climáticas. A ciência tem um papel fundamental nesse processo, fornecendo ferramentas e informações que ajudam os produtores a tomar decisões mais seguras e sustentáveis.

Enquanto o setor se adapta, a expansão da citricultura para novas regiões não apenas preserva a produção de frutos, mas também impulsiona o desenvolvimento econômico local, gerando empregos e fortalecendo a cadeia produtiva. Com o apoio da pesquisa e da tecnologia, o Brasil continua a se consolidar como um dos principais players globais na produção de citros.

A citricultura na Amazônia

A citricultura na Amazônia é uma atividade agrícola que envolve o cultivo de frutas cítricas, como laranja, limão, tangerina e lima, em uma região predominantemente conhecida por sua floresta densa e clima equatorial. Embora o clima quente e úmido da Amazônia possa ser desafiador para o cultivo cítrico devido à alta umidade e incidência de pragas, há áreas na região que conseguem produzir essas frutas com sucesso.

Desafios

  1. Clima Úmido e Chuvoso: A alta umidade pode favorecer doenças fúngicas, como a gomose e o oídio, que prejudicam o desenvolvimento das plantas.
  2. Pragas: A região é propensa a pragas como a mosca-da-fruta, que pode afetar a qualidade e a quantidade da produção.
  3. Solo: Embora existam áreas com solos adequados, muitos locais amazônicos têm solos pobres em nutrientes, exigindo manejo adequado e fertilização.

Vantagens:

  1. Mercado Regional: Há uma demanda crescente por cítricos frescos e produtos derivados na região Norte do Brasil.
  2. Potencial de Exportação: Com manejo adequado, a produção pode atender mercados externos, especialmente na América do Sul.
  3. Sustentabilidade: Projetos que integram a citricultura com a preservação ambiental podem gerar renda sem comprometer a floresta.

Práticas Agrícolas:

  • Uso de Porta-enxertos Adaptados: Para melhorar a resistência das plantas às condições locais.
  • Controle Integrado de Pragas: Combinação de métodos biológicos e químicos para minimizar danos.

Citricultura no município de Capitão Poço, estado do Pará

Capitão Poço, localizado no nordeste do estado do Pará, é um dos municípios que se destacam na citricultura na região amazônica. O clima quente e úmido do Pará, aliado à fertilidade do solo em algumas áreas, cria condições favoráveis para o cultivo de frutas cítricas, especialmente a laranja, que é a principal cultura cítrica do município.

Capitão Poço é reconhecido como um dos principais produtores de laranja do Pará, contribuindo significativamente para a economia local. A cidade tem uma tradição no cultivo de frutas cítricas, que são tanto consumidas localmente quanto enviadas para outras regiões do Brasil.

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Fonte: Folha do Progresso

Características da Produção:

  1. Laranja como Principal Produto: A laranja é a fruta cítrica mais cultivada, com variedades adaptadas às condições climáticas e de solo da região.
  2. Produção Sustentável: Muitos produtores buscam práticas agrícolas sustentáveis, incluindo o uso de fertilizantes orgânicos e o manejo integrado de pragas.
  3. Mercado e Comercialização: A produção atende principalmente o mercado interno do Pará e de estados vizinhos, com algumas iniciativas para expansão em outros mercados.

Desafios Enfrentados:

  1. Pragas e Doenças: Assim como em outras regiões amazônicas, pragas como a mosca-da-fruta e doenças fúngicas são desafios constantes para os citricultores locais.
  2. Infraestrutura: Questões como transporte e armazenamento podem impactar a eficiência da cadeia produtiva.
  3. Clima e Solo: A alta umidade e a intensidade das chuvas podem afetar a qualidade da fruta e a saúde das plantas.

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Perspectivas para o Futuro:

O potencial de crescimento da citricultura em Capitão Poço é significativo, especialmente com investimentos em tecnologia agrícola, infraestrutura e acesso a mercados. Melhorias no manejo das culturas, no combate a pragas e doenças e no processamento das frutas podem aumentar ainda mais a competitividade da região.


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