Mais de 2 mil drones ilegais desafiam segurança da COP30


O avanço da tecnologia costuma trazer novas possibilidades, mas também novos desafios — e um dos mais evidentes durante a COP30, em Belém, foi o uso irregular de drones. A Polícia Federal (PF), responsável pela segurança do evento, divulgou dados que revelam um cenário preocupante: mais de dois mil drones circularam sem autorização em áreas onde o controle do espaço aéreo é crítico.

Reprodução - EBC

Entre os dias 31 de outubro e 15 de novembro, o sistema de vigilância aérea contabilizou 2.270 aparelhos irregulares operando na capital paraense. O número, por si só, já indica um ambiente de risco elevado, especialmente durante um evento internacional que reúne autoridades de alto nível e mobiliza estruturas de segurança complexas. Ao mesmo tempo, reforça como a popularização dos drones ainda não foi acompanhada por uma cultura sólida de responsabilidade e conformidade legal.

O monitoramento é coordenado pelo Centro Integrado de Controle de Aeronaves Remotamente Pilotadas e Contramedidas (CIC-ARP/CM), estrutura criada justamente para lidar com situações em que drones podem interferir na segurança física ou operacional de grandes eventos.

Segundo o centro, além de identificar os voos não autorizados, as equipes também impediram 184 tentativas de acionamento de drones em zonas de interdição total — áreas nas quais a decolagem e o sobrevoo são completamente proibidos. Essas zonas incluem setores estratégicos, como o entorno do Aeroporto Internacional de Belém, o Parque da Cidade, os portos de Miramar e Outeiro, e todos os locais onde o presidente da República estivesse presente.

A atuação dessas aeronaves em espaços sensíveis não é tratada apenas como uma infração administrativa. Dependendo da intenção e do dano potencial, pode configurar crime previsto na legislação aeronáutica e penal brasileira. A Polícia Federal reforça que operar drones sem permissão é uma conduta sujeita a penalidades que podem incluir multas, responsabilização civil e processos criminais.

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Bruno Peres/Agência Brasil

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Esse tipo de apreensão revela um fenômeno que cresce silenciosamente no país: a percepção equivocada de que drones são dispositivos recreativos simples, cujo uso dispensa autorizações ou cuidados. Na prática, a operação responsável exige conhecimento, registro de equipamentos, habilitação de pilotos e respeito às normas de tráfego aéreo — requisitos especialmente rigorosos durante um evento como a COP30, que concentrava autoridades internacionais, lideranças indígenas, chefes de Estado, diplomatas e milhares de participantes.

O alerta da PF destaca ainda um segundo problema: a desinformação sobre o que é permitido ou não quando se trata de aeronaves remotamente pilotadas. Para muitos usuários, as regras de voo são vistas como burocracia. No entanto, quando se interditam áreas em torno de aeroportos, portos ou espaços presidenciais, não há margem para relativizações. Drones podem interferir em pousos e decolagens, causar acidentes, gerar pânico, comprometer operações policiais e até abrir brechas para atentados ou espionagem.

As medidas adotadas pelo CIC-ARP/CM envolvem tecnologias de detecção que vão desde radares específicos até sistemas de radiofrequência capazes de identificar, rastrear e neutralizar aparelhos não autorizados. A operação é coordenada de modo integrado com outras forças de segurança, o que demonstra a crescente profissionalização brasileira no tema. A COP30, portanto, funcionou como um grande laboratório real de defesa do espaço aéreo urbano.

Mesmo diante do número expressivo de drones irregulares identificados, a PF afirma que o monitoramento continua e será intensificado até o encerramento das atividades relacionadas à conferência. As equipes que atuam no centro de controle permanecem em operação para proteger delegações, autoridades e o público geral.

O episódio reforça uma discussão mais ampla: à medida que drones se tornam ferramentas corriqueiras — usadas em jornalismo, entregas, filmagens, lazer ou vigilância — cresce a necessidade de educação, regulamentação clara e fiscalização eficiente. O Brasil possui legislação robusta sobre o assunto, mas muitos operadores ainda desconhecem suas obrigações.

Em vez de um simples dado estatístico, os mais de dois mil drones irregulares flagrados durante a COP30 representam um alerta sobre a relação do país com essa tecnologia. Eles expõem o desafio de equilibrar inovação e segurança em tempos de transformação digital acelerada.