Influência da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas
Instituições de ensino que engajam seus alunos na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) demonstram superioridade nos resultados do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Conforme estudo do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), divulgado hoje, essas escolas não só exibem índices elevados de aprovação, mas também sincronia entre a idade dos alunos e o ano escolar cursado.
Escolas com participação de pelo menos 65% dos alunos na segunda etapa da Obmep evidenciam que o progresso em matemática se estende além dos estudantes mais destacados, beneficiando a classe como um todo. “Quanto maior a mobilização gerada pela Olimpíada, maior o impacto no desempenho dos alunos”, analisa Ernesto Faria, pesquisador e diretor executivo do Iede.
Um contraste surge nas escolas premiadas na Obmep, mas com baixa adesão dos alunos: a disparidade de desempenho entre eles é notável. “Sem um efeito mobilizador, a Olimpíada pode favorecer apenas um grupo específico de estudantes, negligenciando aqueles com menor rendimento”, adverte Ernesto.
Média das notas de matemática no Enem
A média das notas de matemática no Enem para escolas com medalhistas da Obmep foi de 516,1, enquanto instituições sem participação ou premiação tiveram média de 488,5.
O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) também reflete essa tendência, com escolas medalhistas alcançando médias de 270,3 pontos no ensino fundamental e 288,8 no médio, superando as que não participaram ou não foram premiadas, com médias de 240,2 e 269,8, respectivamente.
“A Obmep é crucial para incentivar o estudo da matemática e já produziu resultados significativos. No entanto, é vital assegurar que não promova desigualdades”, pondera Ernesto Faria.
Além disso, a participação na Obmep potencializa o acesso ao ensino superior, com escolas ativas e premiadas apresentando maior proporção de alunos atingindo médias no Enem que satisfazem os critérios de admissão em universidades.
A Obmep
A Obmep, criada em 2005 e organizada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), é uma política pública essencial para o fomento do ensino matemático no Brasil. A 19ª edição da competição estabeleceu recordes de abrangência territorial e participação, com inscrições de escolas em 99,9% dos municípios brasileiros e envolvimento de 56.513 instituições.
O Impa, juntamente com o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Superior da Universidade de São Paulo (Lepes/USP) e o apoio da B3 Social, colaborou tecnicamente na pesquisa.
Ernesto Farias destaca a importância da pesquisa para reformular o cenário educacional brasileiro, especialmente em matemática, onde o Saeb de 2021 indicou o menor índice de aprendizado adequado em comparação com a língua portuguesa.
A pesquisa
A pesquisa também identificou escolas públicas com excelência em matemática, mesmo entre alunos de níveis socioeconômicos baixo e médio. Visitas a oito dessas escolas revelaram práticas pedagógicas eficazes, embora Ernesto Faria ressalte que o sucesso muitas vezes depende de professores excepcionais, não de estruturas escolares consolidadas.
Para melhorar o ensino de matemática, é necessário fortalecer a Obmep e implementar políticas públicas que incluam melhorias estruturais e formação contínua de professores. A pesquisa também aponta para a necessidade de qualificação docente e a precariedade das contratações, com muitos professores trabalhando sob contratos temporários e em múltiplas escolas.
“É fundamental ter professores de matemática qualificados desde os anos iniciais do ensino fundamental”, conclui Ernesto Faria, enfatizando a importância da formação pedagógica na área.