O desafio da gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) é uma preocupação global, e no Brasil, a cidade de São Paulo é um exemplo marcante dessa problemática, gerando cerca de 20 mil toneladas de RSU diariamente. Uma média impressionante de aproximadamente 1 quilo de lixo por habitante ao dia.
A composição padrão dos RSU no Brasil revela que metade é composta por matéria orgânica, 35% são recicláveis e 15% são rejeitos. Se adotadas práticas adequadas de manejo, como compostagem, reciclagem e aproveitamento de metano em aterros, o país poderia reduzir significativamente suas emissões de gases de efeito estufa e ainda obter uma fonte adicional de receita por meio da economia circular.
Um estudo conduzido por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), liderado pelo pesquisador Michel Xocaira Paes, examinou estratégias de gestão de RSU em seis cidades brasileiras, destacando os casos de Harmonia (RS), Ibertioga (MG), São Paulo (SP) e Carauari (AM).
Harmonia e Ibertioga se destacam com altos índices de reaproveitamento de resíduos, alcançando 56% e 67%, respectivamente. Essas cidades implementaram práticas inovadoras, como compostagem doméstica e parcerias público-privadas para gestão eficiente.
São Paulo, uma megacidade com problemas proporcionais à sua grandeza, enfrenta desafios únicos. No entanto, a capital também apresenta soluções inovadoras, como a atuação significativa de cooperativas de catadores, usinas de compostagem e a geração de energia a partir do biogás de aterros sanitários.
Carauari, um município amazônico remoto, destaca-se pela organização comunitária e pela integração de práticas de economia circular em suas atividades econômicas tradicionais, como a pesca e a produção de óleos vegetais.
O estudo ressalta a importância de uma abordagem abrangente para a gestão de RSU, baseada na capacitação técnica e política local, na educação ambiental, na colaboração entre os diferentes níveis de governo e em parcerias locais para a inovação.
Além disso, os pesquisadores propõem a criação de um fundo nacional de crédito de carbono para financiar iniciativas de redução de resíduos e promoção da economia circular, não apenas no Brasil, mas também como um modelo inspirador para outros países em desenvolvimento.
O estudo, publicado no periódico Habitat International, oferece um roteiro valioso para cidades enfrentarem o desafio global da gestão de resíduos de forma eficiente e sustentável.
O artigo “Waste management intervention to boost circular economy and mitigate climate change in cities of developing countries: the case of Brazil” pode ser acessado em: [link](www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0197397523002503?via%3Dihub).