Estudos indicam que o vírus da zika pode ser usado para combater o câncer

Autor: Redação Revista Amazônia

O vírus Zika é conhecido por causar graves danos ao desenvolvimento cerebral de fetos infectados durante a gravidez. Mas essa mesma propriedade pode ser usada para uma finalidade benéfica: destruir células cancerosas do sistema nervoso.

É o que sugere um estudo publicado na revista Cancer Research Communications, que mostrou que o Zika foi capaz de eliminar tumores de neuroblastoma em camundongos. O neuroblastoma é um tipo de câncer que se origina de células nervosas imaturas e é um dos mais comuns em crianças. Apesar dos tratamentos intensivos, a taxa de sobrevivência é baixa, especialmente para os casos de alto risco.

Os pesquisadores do Hospital Infantil Nemours, nos Estados Unidos, usaram uma cepa não modificada do vírus Zika para injetar diretamente nos tumores dos animais. O resultado foi impressionante: os tumores foram completamente erradicados, sem recorrência ou efeitos colaterais.

“A diferença foi impressionante. Você simplesmente não vê isso; é loucura. Conseguimos 80% a 90% de eficácia. Os tumores foram erradicados – uma única injeção, sem recorrência, sem sintomas”, disse Joseph Mazar, um dos autores do estudo, ao site Live Science.

O mecanismo pelo qual o Zika ataca as células cancerosas é o mesmo que o torna perigoso para os fetos: ele tem preferência por células nervosas imaturas, que são abundantes no cérebro em desenvolvimento, mas também presentes em alguns tipos de câncer. O vírus se multiplica dentro dessas células e as mata, poupando as células normais ao redor.

Os pesquisadores descobriram que os tumores que expressavam altos níveis de uma proteína chamada CD24 eram especialmente vulneráveis ao Zika. Essa proteína é encontrada em vários tipos de câncer, o que abre a possibilidade de usar o vírus para tratar outras formas da doença.

“Zika vírus pode atuar como uma terapia ponte no momento da radiação ou cirurgia … e pode limpar [o que resta do] o neuroblastoma de alto risco”, disse Tamarah Westmoreland, a autora sênior do estudo.

A ideia de usar vírus para combater o câncer não é nova. Desde o século XIX, há relatos de que alguns pacientes com câncer melhoraram após infecções virais. Esses vírus, chamados de oncolíticos, têm a capacidade de atingir e danificar as células cancerosas, poupando as saudáveis. Com o avanço da engenharia genética, foi possível modificar esses vírus para torná-los mais específicos e seguros. Atualmente, existem quatro vírus aprovados como tratamentos para o câncer, como um derivado do herpes para o glioma maligno e outro para o melanoma avançado.

O Zika, no entanto, não precisou de modificações para mostrar sua eficácia contra o neuroblastoma. Isso pode facilitar sua aprovação para uso em humanos, já que o vírus é bem conhecido e tem poucos efeitos adversos em adultos. Os pesquisadores esperam iniciar ensaios clínicos em breve, para testar a segurança e a eficácia do Zika como uma nova arma contra o câncer.


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