Crédito rural chega à periferia de Belém e fortalece extrativismo urbano

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O campo que resiste dentro da cidade

Localizado na Estrada da Ceasa, no bairro Curió-Utinga, o balneário Paraíso Verde ocupa cinco hectares de área periurbana onde o verde ainda disputa espaço com a expansão imobiliária. Ali, Reginaldo e sua família cultivam açaí nativo de várzea e cacau, além de manter um restaurante e um clube agroecológico aberto ao público. O espaço funciona como ponto de lazer, geração de renda e preservação de saberes tradicionais ligados à floresta.

Foto: Luiz Claudio Marigo

O crédito de R$ 12 mil será destinado ao manejo estruturado de um hectare de açaí nativo, prática que permite melhorar a produtividade sem comprometer o equilíbrio ambiental. Na safra, a produção chega a cerca de 450 quilos diários do fruto, batido na hora para consumo no local ou comercializado em bairros tradicionais da cidade, como o Condor. O caroço também entra na cadeia de comercialização, ampliando o aproveitamento do fruto.

A orientação técnica da Emater é central nesse processo. Ao adaptar tecnologias de manejo às condições da várzea urbana, os técnicos ajudam a garantir produção ao longo de todo o ano, reduzindo a sazonalidade e ampliando a renda familiar. Para Reginaldo, o apoio vai além do aspecto produtivo: fortalece a autoestima comunitária e reafirma a identidade rural de áreas historicamente tratadas como margens da cidade.

Emater e o fortalecimento do Cinturão Verde de Belém

A atuação da Emater na periferia de Belém revela um trabalho que extrapola a assistência técnica convencional. Segundo o veterinário e extensionista Lázaro José Silva, do escritório local da instituição, o acompanhamento a produtores da Estrada da Ceasa ajuda a dar visibilidade ao chamado Cinturão Verde, conjunto de áreas onde a produção de alimentos, o extrativismo e a preservação ambiental convivem com o urbanismo.

Esse trabalho ressignifica territórios frequentemente associados apenas à precariedade. Ao reconhecer o valor econômico, cultural e ambiental dessas áreas, a Emater contribui para integrar políticas de desenvolvimento rural às dinâmicas urbanas. A presença de atividades produtivas na capital amazônica também ajuda a reduzir a dependência de alimentos vindos de longas distâncias, fortalecendo circuitos curtos de comercialização.

A experiência de Reginaldo não é isolada. Outras famílias da região estão em processo de preparação para acessar crédito rural no início de 2026, indicando que o projeto pode se tornar um modelo replicável para outras zonas periurbanas da Região Metropolitana de Belém.

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Agência Pará

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Microcrédito como ferramenta de inclusão produtiva

O acesso ao crédito sempre foi um dos principais gargalos para produtores que vivem em áreas urbanas ou periurbanas, especialmente quando a regularização fundiária não segue padrões tradicionais. Para enfrentar esse desafio, a parceria entre a Emater e o Banco da Amazônia tem buscado adaptar exigências documentais à realidade local, utilizando termos de uso emitidos pela Secretaria do Patrimônio da União e ferramentas digitais que simplificam o processo de financiamento.

O assessor de microfinanças do programa Basa Acredita, Felipe Rodrigues, destaca que o microcrédito cumpre um papel estratégico ao permitir investimentos iniciais com retorno social elevado. Os recursos são provenientes do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e das linhas do Plano Safra, que oferecem condições diferenciadas, como juros reduzidos, prazos estendidos e descontos significativos.

Essa combinação de crédito acessível e assistência técnica cria um ambiente mais seguro tanto para o produtor quanto para a instituição financeira. O banco passa a operar com maior confiança, enquanto o produtor consegue investir com menor risco, ampliando a capacidade produtiva e a sustentabilidade do negócio.

Desenvolvimento local e novas perspectivas para 2026

A conquista de Reginaldo Chagas sinaliza um caminho promissor para o desenvolvimento local em Belém. Ao reconhecer o potencial produtivo da zona periurbana, políticas públicas e instituições financeiras ajudam a integrar extrativistas e agricultores familiares à economia formal, sem romper com suas práticas tradicionais.

O fortalecimento do turismo rural, aliado ao manejo sustentável do açaí e do cacau, cria oportunidades de trabalho, estimula o consumo local e valoriza a floresta em pé. Ao mesmo tempo, contribui para a preservação de áreas verdes estratégicas para o equilíbrio ambiental da capital paraense.

Com a perspectiva de novos financiamentos em 2026, a experiência da Estrada da Ceasa tende a ganhar escala. O microcrédito, quando aliado à assistência técnica contínua, mostra-se capaz de transformar realidades, aproximando o campo da cidade e reafirmando que, na Amazônia urbana, produzir também é uma forma de resistir.