Documento propõe redirecionar subsídios nocivos e ampliar, com urgência, o financiamento climático direto aos pequenos produtores, especialmente no Sul Global.

Durante o Fórum do Comitê Permanente de Finanças das Nações Unidas, que discute caminhos para acelerar a ação climática e a resiliência por meio de sistemas alimentares e agrícolas sustentáveis, movimentos do Sul Global reunidos no Grupo de Trabalho sobre Alimentação e Agricultura da Campanha Global por Justiça Climática (DCJ) divulgaram um novo relatório de discussão: “Financiando a Transformação dos Sistemas Alimentares: Mobilizando o Financiamento Climático para Sistemas Equitativos, Humanizados e Agroecológicos”.
O documento traz uma crítica contundente à arquitetura global de financiamento climático no setor agrícola, revelando o desequilíbrio entre o discurso e a prática. Apesar de os pequenos agricultores sustentarem a base da segurança alimentar global, apenas 2,5% do financiamento climático público é destinado à agricultura — e ainda menos, 1,5%, vai para práticas verdadeiramente sustentáveis.
Enquanto isso, subsídios continuam a fluir para a agricultura industrial em larga escala, fortalecendo um modelo de produção que intensifica as emissões de gases de efeito estufa, degrada o meio ambiente, impõe sofrimento animal e amplia o abismo entre o agronegócio corporativo e os pequenos produtores. O relatório alerta: sem essa mudança radical nas prioridades de financiamento, a insegurança alimentar irá piorar, a perda de biodiversidade vai acelerar, e os pequenos produtores, já na linha de frente dos impactos climáticos, ficarão sem meios de adaptação.

VEJA TAMBÉM: Compra e financiamento da soja na Amazônia seguem em meio a controvérsias
Para evitar esse cenário, o relatório defende a reformulação imediata dos fluxos financeiros globais. O financiamento climático voltado à agricultura deve priorizar doações (e não empréstimos), ser descentralizado e acessível diretamente aos pequenos produtores, com ênfase nas mulheres agricultoras, que desempenham papel essencial na resiliência comunitária. Além disso, todo subsídio governamental que alimenta práticas agrícolas prejudiciais deve ser urgentemente desviado para apoiar a transição agroecológica.
A análise reforça que, longe de serem meras reformas técnicas, essas mudanças são condição necessária para o que o grupo define como “transição justa”: um modelo de produção de alimentos que respeite os limites ecológicos do planeta, promova justiça social, bem-estar animal e soberania alimentar.
“Climate finance for agriculture is woefully insufficient, with only a fraction reaching the smallholders. Instead, subsidies continue to fuel intensification – propping up industrial animal agriculture that drives emissions, entrenches poor animal welfare, and deepens inequality. We urgently need to redirect these harmful subsidies toward equitable, humane, and sustainable food systems. The UNFCCC must mirror the Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework’s commitment to eliminate at least $500 billion in harmful incentives annually, while scaling up support for positive ones. This is the only way to secure a just and sustainable future for people, animals, and the planet.”
– Tricia Croasdell, Global CEO, World Animal Protection
“We call for the scaled-up and immediate provision of grants-based climate finance for the agriculture sector, and directly into smallholders’ hands. Without this, we are damning the Global South to hunger and the ravaging impacts of the climate crisis.”
– Pang Delgra, Asian Peoples’ Movement on Debt and Development
O relatório ainda reforça que mecanismos da UNFCCC devem garantir esse financiamento sem intermediação de bancos multilaterais de desenvolvimento ou do setor privado, permitindo acesso direto aos recursos para aqueles que estão na linha de frente da produção de alimentos e da crise climática. A agroecologia, defendem os autores, deve deixar de ser exceção marginal e passar a ocupar o centro das estratégias climáticas globais.











































