Depois de navegar por mais de 2.000 quilômetros pelos rios da Amazônia, a Flotilha Yaku Mama atracou nesta segunda-feira (10) em Belém, levando ao coração da COP30 uma mensagem poderosa de solidariedade, resistência e urgência climática. A expedição reuniu cerca de 60 lideranças indígenas, ativistas e defensores ambientais de países amazônicos, que desembarcaram na capital paraense com uma pauta comum: proteger a floresta e garantir os direitos dos povos originários.
A jornada começou no Equador, passou pela Colômbia e seguiu o curso do rio Amazonas até chegar à cidade-sede da conferência, no Parque da Cidade, onde líderes indígenas foram recebidos por representantes da sociedade civil e autoridades ambientais. A viagem de 25 dias transformou-se em um ato simbólico e político, conectando territórios, culturas e vozes que compartilham uma mesma causa — a defesa da Amazônia e dos modos de vida tradicionais.
Travessia por solidariedade e resistência
Batizada de “Mãe Água” em quéchua, a flotilha Yaku Mama é mais do que uma expedição fluvial. É um manifesto pela vida e pela interdependência entre os povos da floresta. A iniciativa foi idealizada por organizações indígenas da região, entre elas a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com apoio de redes ambientais e movimentos transfronteiriços.
“Para nós, o mais importante é construir solidariedade além das fronteiras”, explica Lucia Ixchiu, porta-voz da flotilha e ativista indígena da Guatemala. “A situação global é muito difícil. Precisamos nos unir para defender nossos rios e combater a poluição que ameaça o Amazonas e nossos territórios.”
Durante o percurso, as embarcações fizeram paradas estratégicas em comunidades ribeirinhas e aldeias amazônicas, onde os viajantes promoveram assembleias, rituais e rodas de diálogo sobre o papel dos povos indígenas na mitigação das mudanças climáticas. Em cada parada, novas lideranças se somaram ao movimento, transformando o rio em um espaço de encontro e mobilização.

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Um manifesto fluvial na COP30
A chegada da flotilha a Belém foi marcada por cantos, faixas e uma cerimônia tradicional à beira do rio Guamá. Os participantes entregaram um documento com suas principais reivindicações aos organizadores da COP30 e representantes da ONU, solicitando maior protagonismo indígena nas decisões sobre o clima e a biodiversidade.
Entre os pontos do manifesto estão o combate à mineração ilegal e à exploração de petróleo, o fim da extração irregular de madeira, e o acesso à água potável nas comunidades amazônicas. As lideranças também exigem o reconhecimento da gestão territorial indígena como política climática efetiva, argumentando que proteger os territórios tradicionais é uma das formas mais eficazes de conter o aquecimento global.
Para Pablo Inuma Flores, líder indígena da região do Baixo Madre de Dios, no Peru, a travessia simboliza um pacto pela sustentabilidade. “Queremos zero combustíveis fósseis, zero mineração ilegal, zero extrativismo destrutivo e zero desmatamento. É hora de transição e de respeito à natureza”, declarou.
A Amazônia como sujeito político
A presença da flotilha na COP30 reforça a importância da Amazônia como sujeito político global. Para os povos que vivem na floresta, a crise climática não é um tema distante, mas uma realidade diária, expressa na contaminação das águas, nas queimadas e na perda de territórios.
Durante as atividades paralelas da conferência, as lideranças indígenas participarão de debates no Pavilhão Brasil e em eventos da Articulação dos Povos Indígenas da Amazônia (COICA), reforçando o papel da governança comunitária e dos conhecimentos tradicionais na formulação de políticas climáticas.
A viagem da Yaku Mama também busca visibilidade internacional para os conflitos socioambientais na região, como o avanço de projetos de mineração, hidrelétricas e agronegócio sobre terras indígenas. “Os povos da floresta estão dizendo ao mundo que sem a Amazônia não há futuro climático possível”, resume Ixchiu.
Uma mensagem que atravessa fronteiras
A chegada da flotilha ecoa o espírito da COP30, que tem como lema “O Momento é de Ação Climática”. A jornada simboliza a urgência de soluções integradas e de uma nova governança baseada na escuta e na cooperação entre países amazônicos.
“Essa travessia é um lembrete de que a luta pelo clima começa nos territórios”, disse uma representante da Apib. “A Amazônia une nossos destinos — e é hora de o mundo reconhecer isso.”
A flotilha Yaku Mama permanece em Belém durante toda a conferência, promovendo atividades culturais, painéis e encontros de articulação regional. O movimento espera que sua presença na COP30 sirva de ponto de virada para políticas mais inclusivas e justas, onde as vozes indígenas deixem de ser apenas convidadas e passem a ocupar o centro das decisões globais.







































