Fomento Rural eleva em 30% a renda de famílias do campo


Renda, produção e permanência no campo

Seis anos após sua implementação, o Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais mostra resultados consistentes e duradouros no enfrentamento da pobreza no campo. Um estudo divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome – MDS revela que a iniciativa elevou em média 30% a renda total das famílias beneficiadas, com impacto ainda mais expressivo sobre a renda do trabalho, que cresceu 44%.

Foto: Ministério do Desenvolvimento SocialSítio Araúna, de produção agroecológica. Denircia da Costa Lima e seu esposo Vilmar de Almeida, proprietários, agricultores familiares e fornedeores do PAA.

A pesquisa avaliou a execução do programa em três estados com realidades produtivas distintas — Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Pará — e acompanhou mil famílias elegíveis em cada território, identificadas com apoio das empresas públicas de assistência técnica e extensão rural (Emater). O recorte regional permitiu observar como uma mesma política pública pode gerar efeitos diferentes, mas igualmente estruturantes, quando aplicada em contextos diversos.

Mais do que um incremento pontual de renda, os dados indicam que o Fomento Rural promoveu uma mudança estrutural na forma como essas famílias produzem, consomem e se relacionam com os mercados locais.

Comercialização, crédito e organização produtiva

Um dos efeitos mais relevantes observados pelo estudo foi a ampliação da capacidade de comercialização agrícola. As famílias beneficiárias passaram a ter maior probabilidade de vender excedentes da produção, superando a lógica de subsistência e ingressando de forma mais ativa nos circuitos econômicos locais.

Esse avanço foi acompanhado por um fortalecimento da integração produtiva. As solicitações de crédito cresceram 18% entre os participantes do programa, especialmente em Minas Gerais e no Pará. Nessas regiões, também houve melhora significativa no acesso ao Garantia-Safra, instrumento fundamental para reduzir a vulnerabilidade de agricultores familiares diante de eventos climáticos extremos.

Os resultados estaduais revelam nuances importantes. No Rio Grande do Sul, os impactos sobre a renda foram os mais intensos. Em Minas Gerais, destacou-se a redução de 19,5% nos gastos com alimentação, associada ao aumento do autoconsumo da produção rural, além de um crescimento expressivo — 130% — na participação em associações de produtores. Já no Pará, o programa impulsionou a abertura de novas áreas produtivas e melhorias significativas na infraestrutura, ampliando a capacidade de produção e armazenamento.

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Créditos: Tamires Kopp/MDA

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Resiliência em meio à crise sanitária

A avaliação também chama atenção para a resiliência do Fomento Rural em um dos períodos mais críticos da história recente: a pandemia de Covid-19. O choque sanitário coincidiu justamente com o momento em que muitas famílias começavam a expandir seus projetos produtivos e a comercializar excedentes.

Mesmo nesse cenário adverso, os efeitos positivos do programa se mantiveram. Segundo os pesquisadores, na ausência da pandemia, os resultados provavelmente teriam sido ainda mais expressivos. Ainda assim, os dados demonstram ganhos duradouros tanto na renda quanto na segurança alimentar das famílias atendidas.

Para o MDS, essa capacidade de atravessar crises reforça o papel do Fomento Rural como política pública estratégica. A combinação entre transferência direta de recursos e acompanhamento técnico mostrou-se decisiva para garantir que os investimentos fossem convertidos em produção, autonomia e melhoria das condições de vida.

Investimento público e caminhos para o futuro

Somente em 2025, o MDS destinou R$ 144,4 milhões ao programa, com a inclusão de 32.139 novas famílias. A maior parte das adesões ocorreu por meio de parcerias com governos estaduais, em 23 unidades da federação. Outras frentes importantes envolveram a integração com o Programa Cisternas, especialmente no Semiárido e na Amazônia, e parcerias com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA, por meio de chamadas da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – Anater.

O desenho do Fomento Rural prevê a transferência de R$ 4,6 mil por família, em duas parcelas, condicionadas à elaboração e execução de um projeto produtivo. Esse modelo, que articula apoio financeiro e técnico, permite estruturar ou ampliar atividades produtivas, diversificar a produção de alimentos e gerar renda de forma sustentável.

O estudo aponta, no entanto, caminhos para o aprimoramento do programa. Entre eles estão o fortalecimento do empoderamento feminino, a ampliação das ações de educação nutricional e uma integração mais intensa com políticas como o Pronaf, o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE.

Ao fortalecer essas conexões, o Fomento Rural tende a consolidar-se não apenas como política de combate à pobreza, mas como eixo estruturante de desenvolvimento rural, segurança alimentar e permanência digna das famílias no campo.