Fundo POP marca novo ciclo no financiamento do terceiro setor brasileiro


O Fundo POP, primeiro do país voltado exclusivamente ao fortalecimento institucional de organizações periféricas, iniciou os repasses de cerca de R$ 2 milhões para dez Organizações da Sociedade Civil (OSCs) em diferentes regiões do Brasil. A iniciativa representa um marco inédito no campo do investimento social privado, ao colocar o protagonismo das periferias no centro das decisões sobre financiamento e sustentabilidade.

Equipes PIPA e IACP mais FUNDO POP scaled

Criado em parceria entre o Instituto ACP (IACP) — organização filantrópica que busca fortalecer a sociedade civil — e a Iniciativa Pipa, fundada por jovens de periferias com o objetivo de democratizar o acesso a recursos sociais privados, o Fundo POP aposta em um novo modelo de investimento, baseado em confiança, escuta ativa e autonomia das organizações.

Apoio direto e transformação estrutural

Cada uma das dez organizações selecionadas receberá R$ 150 mil, distribuídos ao longo de três anos, além de mentorias e formações voltadas ao fortalecimento institucional. O foco é garantir que as OSCs possam consolidar suas estruturas, ampliar sua atuação e aprofundar o impacto em seus territórios.

O Fundo conta com o apoio de cinco organizações coinvestidoras: Fundação Tide Setubal, Instituto Incube, Humanity United, Instituto Galo da Manhã e Sall Family Foundation.

Para Érika Sanchez Saez, diretora-executiva do Instituto ACP, o Fundo POP surge como resposta às desigualdades históricas no acesso ao investimento social: “Historicamente, as periferias têm lidado com os piores problemas com recursos mínimos. O Fundo POP mostra que é possível fazer diferente — investir na potência dessas organizações é uma escolha estratégica e transformadora”.

O cofundador e diretor-executivo da Iniciativa Pipa, Gelson Henrique, reforça o caráter inovador do modelo: “Não se trata apenas de financiar projetos, mas de apostar na sustentabilidade e na autonomia das organizações de base”.

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Diversidade territorial e de causas

As dez organizações selecionadas representam a pluralidade das periferias brasileiras — atuando em temas como direitos das mulheres negras, meio ambiente, cultura, justiça socioambiental e segurança alimentar.

Entre elas está o Grupo de Mulheres Negras Malunga, de Goiânia (GO), que trabalha pela inclusão e autonomia das mulheres negras. Para a fundadora Sonia Cleide Ferreira da Silva, o investimento chega em um momento decisivo: “Esses grupos conhecem as realidades locais e têm capacidade de propor soluções efetivas. Apoiar organizações de base é garantir que comunidades historicamente marginalizadas tenham voz”.

No Norte, o Coletivo Mirí, de Castanhal (PA), atua em educação ambiental e pesquisa; e o Movimento Atitude Afro Pará, em Belém (PA), valoriza as culturas afro-brasileiras e a preservação dos saberes ancestrais.

No Nordeste, a Salve Beberibe, de Recife (PE), mobiliza a população em defesa dos rios urbanos e do meio ambiente. Já o Instituto Pau Brasil, de Salvador (BA), promove cultura e desenvolvimento sustentável, com foco nas juventudes e na identidade local.

No Centro-Oeste, o IMUNE-MT – Instituto de Mulheres Negras do Mato Grosso, de Cuiabá (MT), realiza ações afirmativas voltadas ao empoderamento feminino e à luta antirracista. Sua cofundadora Antonieta Costa destaca: “O Fundo POP nos deu condições para olhar o futuro com estratégia, diversidade e continuidade”.

No Sudeste, o Ippê – Instituto para Periferias, no Rio de Janeiro (RJ), trabalha com cultura, educação e segurança alimentar, conectando sociedade civil, poder público e iniciativa privada. Em São Paulo (SP), a Coletiva Emana promove autonomia e fortalecimento feminino por meio da arte e da reconstrução da memória.

No Sul, o MUNTU Artes Negras, de Porto Alegre (RS), e a Fluência Casa Hip Hop, de Caxias do Sul (RS), usam a arte e a cultura como instrumentos de resistência e transformação social.

Um novo paradigma de filantropia periférica

O Fundo POP propõe um modelo de financiamento que rompe com práticas centralizadoras e excludentes, adotando linguagem acessível, seleção horizontal e diálogo direto com os territórios. A ideia é inspirar outros fundos, institutos e fundações a repensarem suas formas de atuação junto às periferias.

“Esperamos que o Fundo POP inspire uma nova geração de financiadores comprometidos com a equidade, a justiça e o protagonismo de quem vive os desafios dos territórios periféricos na pele”, afirma Gelson Henrique.

A iniciativa marca um ponto de virada no investimento social brasileiro: um movimento em direção à autonomia das periferias, ao fortalecimento das OSCs e à construção de um país mais justo, plural e sustentável.