Amazônia ganha caixa de ferramentas para gestão integrada da água


A Amazônia, região que concentra a maior bacia hidrográfica do planeta, acaba de receber um instrumento inovador para fortalecer a governança da água. Trata-se da Caixa de Ferramentas para a Gestão da Água na Amazônia, desenvolvida no âmbito do Projeto Bacia Amazônica – Implementação do Programa de Ações Estratégicas (PAE), iniciativa coordenada pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

Divulgação -Ag. Pará

A proposta é simples e poderosa: adaptar os conteúdos da plataforma global IWRM Toolbox , criada pela Global Water Partnership (GWP),  para a realidade amazônica. O resultado é uma coletânea de conhecimentos técnicos, experiências práticas e diretrizes estratégicas reunidos em um ambiente multilíngue (português, espanhol, inglês e holandês), voltado a apoiar gestores, técnicos e formuladores de políticas públicas dos oito países que compõem a bacia amazônica.

Uma ferramenta construída em rede

A Caixa Amazônica não nasceu de um laboratório distante, mas de um processo participativo. Sua concepção envolveu oficinas de capacitação realizadas pelo Projeto Bacia Amazônica com profissionais da gestão hídrica dos países membros da OTCA. Nesses encontros, os participantes exploraram como a IWRM Toolbox poderia ser traduzida para o contexto regional e contribuíram com diagnósticos, exemplos e reflexões que moldaram a versão amazônica.

O esforço resultou em uma visão de gestão que conecta as nascentes andinas ao estuário atlântico, incorporando a chamada Abordagem Fonte-a-Mar. Essa perspectiva amplia a compreensão da bacia como um sistema integrado, no qual cada decisão, seja em políticas nacionais ou em ações locais, influencia diretamente os fluxos ecológicos, sociais e econômicos da região.

Segundo o professor Carlos Saito, especialista em educação ambiental, análise espacial e segurança hídrica e coordenador da capacitação, “o caráter integrador e a base de conhecimento reunida são indispensáveis para promover uma gestão mais eficiente, sustentável e colaborativa dos recursos hídricos, especialmente em tempos de mudanças climáticas”.

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Divulgação -Ag. Pará

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Estrutura baseada em quatro pilares

Organizada de forma modular e acessível, a Caixa apresenta seus conteúdos em três níveis hierárquicos. No topo, estão os quatro pilares da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos (GIRH):

  1. Ambiente Facilitador – ferramentas para políticas públicas, planejamento e marcos legais. Essa dimensão aborda desde regras de alocação de água até a harmonização de planos nacionais e de bacias, criando uma base normativa compartilhada.

  2. Arranjos Institucionais e Participação – diretrizes sobre governança e envolvimento social. São apresentadas estruturas de responsabilidade, mecanismos de engajamento de atores e estratégias de capacitação para fortalecer a tomada de decisão.

  3. Instrumentos de Gestão – métodos e tecnologias para apoiar decisões informadas. Incluem sistemas de suporte, instrumentos econômicos, avaliações técnicas e estratégias de uso eficiente da água.

  4. Financiamento – alternativas para garantir recursos sustentáveis ao setor hídrico. A seção reúne desde justificativas de investimento até mecanismos financeiros para ampliar aportes em diferentes escalas.

Esses pilares se desdobram em subtemas e, no nível mais detalhado, em 112 ferramentas acompanhadas de explicações e referências. A proposta é permitir que equipes técnicas acessem desde conceitos básicos até soluções práticas, incentivando a combinação de estratégias adaptadas à realidade local.

A serviço da cooperação regional

A Caixa de Ferramentas é parte fundamental da implementação do Programa de Ações Estratégicas (PAE), acordado em 2017 pelos países amazônicos como uma resposta conjunta aos desafios da gestão da água. O material está especialmente alinhado à primeira linha estratégica do programa Fortalecimento da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos, mas também dialoga com as outras duas: Adaptação Institucional às Mudanças Climáticas e Gestão do Conhecimento.

Ao reunir práticas acessíveis e de aplicação direta, a Caixa Amazônica busca mais do que organizar informações: pretende ampliar a cooperação entre países, reduzir assimetrias de capacidade técnica e criar uma linguagem comum para enfrentar problemas que não conhecem fronteiras, como secas prolongadas, cheias intensas e a contaminação das águas.

Com isso, a Amazônia passa a contar com um instrumento estratégico que traduz o conhecimento global para o contexto local, fortalecendo a ideia de que a água, recurso vital para a vida e para a economia, só pode ser preservada por meio de uma gestão integrada, sustentável e, sobretudo, compartilhada.