A Honeywell está lançando no mercado tecnologias para permitir o transporte de hidrogênio na forma líquida, em mais um capítulo da disputa pela cadeia industrial necessária para um comércio global de hidrogênio.
A companhia acredita que esta será a forma mais competitiva de transportar o hidrogênio verde produzido no Brasil para atender ao mercado da Europa.
“Você transporta como se fosse gasolina e diesel”, diz José Fernandes, presidente da Honeywell Performance, Materiais e Tecnologias para a América Latina, em entrevista à epbr.
A solução é baseada na saturação de hidrogênio em outras moléculas – transportadores de hidrogênio orgânico líquido ou LOHC, na sigla em inglês.
A Honeywell fornece equipamentos para o processo funcionar de forma integrada com a logística existente em refinarias de petróleo.
“É um carregador de hidrogênio de uma ponta a outra”, explica. “Você usa toda a infraestrutura dos terminais, dos navios, e transporte desse produto até o país que vai precisar dele”.
Hoje, um dos grandes desafios para o hidrogênio – que verá sua demanda passar das atuais 90 milhões de toneladas para mais de 200 milhões de toneladas em 2030 – é o transporte de longas distâncias.
Isso porque os potenciais maiores produtores de hidrogênio verde a preço competitivo, como Brasil e Chile, estão longe dos principais mercados consumidores, a exemplo da Europa e Sudeste Asiático.
Isso coloca latinoamericanos em desvantagem com outros potenciais polos de produção mais bem integrados ao mercado europeu. Um concorrente potencial são os países do Norte da África, onde é possível desenvolver uma rede de dutos.
A química por trás do LOHC
No modelo da companhia, o tolueno (ou metilbenzeno) é saturado, acumulando cargas de hidrogênio, até gerar um produto chamado metilciclohexano (MCH), que pode ser transportado como um combustível líquido convencional.
Quando chega ao seu destino final, o hidrogênio é recuperado por meio da desidrogenação desse metilciclohexano. O tolueno da separação pode voltar a ser hidrogenado.
Entre as alternativas no radar do mercado, estão a liquefação do hidrogênio e a conversão em amônia – esta última integrada ao mercado global de fertilizantes, que busca alternativas de descarbonização.
Entretanto, Fernandes acredita que a competitividade do transporte via amônia será de curto prazo, se o seu uso final não for como fertilizantes.
“Se você precisa da utilização do hidrogênio para outras aplicações, a amônia não vai ser o sistema mais eficiente de levar o hidrogênio do ponto A para o B”, diz.
A amônia ou liquefação, afirma o executivo, demanda ativos específicos para transporte, carregamento, descarregamento, além da refrigeração necessária, que eleva os custos com energia.
Segundo Fernandes, o mercado está aberto para disputa, já que a reconversão da amônia para hidrogênio ainda não atingiu escalas comerciais.
“A competitividade do LOHC é de 25% mais economicidade do que a liquefação. Em relação a amônia, o número é um pouco menos que 25%, mas ainda está na casa de dois dígitos”, diz Fernandes, baseado em cálculos internos da companhia.
Política nacional para a indústria de hidrogênio
O presidente da Honeywell também destaca a importância de políticas públicas para que o Brasil se posicione como um ator importante no mercado global de hidrogênio renovável.
“Temos trabalhado tentando ajudar o governo com relação a como podemos ajudar a criar políticas públicas que façam com que o Brasil vire um protagonista na produção de hidrogênio verde e possa ser uma grande exportador”, conta o executivo.
O governo prometeu para o segundo semestre a apresentação de propostas para um marco legal do hidrogênio, tema já discutido no Congresso Nacional.
O governo brasileiro tem indicado que as políticas para o setor devem abraçar todas as rotas de baixo carbono, inclusive a produção a partir de combustíveis fósseis, como é o caso do gás natural com captura de carbono (hidrogênio azul).
Com uma pauta de reindustrialização, há um desejo também de atrair a indústria, para consumidor energia renovável e hidrogênio aqui e exportar os produtos com menor intensidade de emissões.