A ilha de Mosqueiro, distante cerca de 70 quilômetros do centro de Belém, transforma-se nesses dias. Longe de ser apenas um destino de lazer para os finais de semana, ela se prepara para receber um fluxo internacional de visitantes e delegações por ocasião da COP30 e se apresenta como um dos polos importantes de hospedagem e mobilidade na capital do Pará.

Com cerca de dois mil leitos disponíveis segundo a Associação Comercial de Mosqueiro, os meios de hospedagem locais já acumulam altas taxas de reservas. A paisagem da ilha — praias de água doce, vilas sossegadas, restaurantes especializados em peixes regionais e a tradicional Tapiocaria da Vila — passa a funcionar não só como cenário de turismo doméstico, mas como ponto estratégico de acolhimento para representantes de ONGs, empresas e governos de diversos países.
O aspecto da mobilidade se soma à hospedagem. O Governo do Pará, em parceria com o Governo Federal, implementou um sistema especial de transporte para a ocasião: linhas circulares que conectarão praias e vilas da ilha, como Paraíso, Carananduba, São Francisco, Ariramba, Murubira, Chapéu Virado, Porto Arthur e Farol, com veículos climatizados para garantir conforto e eficiência. Na Vila, haverá embarque direto para a Blue Zone da COP30, com parada única no Chapéu Virado. Essa logística evidencia que a ilha deixa de ser periferia de evento e assume papel ativo na arquitetura de acolhimento do encontro global.

Mas o que torna o cenário ainda mais significativo é a combinação entre turismo, emprego local e sustentabilidade. Empreendedores locais relatam que mobilizaram mão de obra da ilha, 102 pessoas contratadas e todas capacitadas para o período da COP30, por exemplo, abrindo novas oportunidades para jovens que querem trabalhar perto de casa, em vez de se deslocar para centros maiores. Uma jovem, que fala inglês fluentemente, destaca que está lidando com hóspedes estrangeiros por WhatsApp e chamadas, e vê no evento a chance de exercitar o idioma e ampliar horizontes. Outro colaborador foi promovido a supervisor, atuando no setor de hotelaria e gastronomia, graças ao impulso gerado pela demanda do evento.
Paralelamente, há quem já aposte em um turismo diferenciado. Um empresário da praia do Paraíso investiu num empreendimento de 30 hectares em meio à floresta preservada: chalés integrados à paisagem natural, criação de galinhas caipiras e patos, hortaliças e frutas cultivadas no próprio local ou adquiridas de agricultores familiares da ilha. A energia do hotel é parcialmente autosuficiente (80 % da demanda é coberta por placas solares), e a equipe já passou por treinamento específico para o evento. Nesse sentido, Mosqueiro oferece um contraponto ao turismo massificado — propondo um modelo sustentável, coerente com os temas da COP30, que giram em torno da agenda ambiental.
Na Vila de Mosqueiro, a tapiocaria tradicional, ponto turístico clássico, também se preparou para receber o novo público: cardápios traduzidos para inglês, francês e espanhol, valorização de ingredientes regionais — doce de cupuaçu, camarão, jambu, castanha-do-Pará — e o funcionamento de um espaço familiar em que mãe, filha e sobrinhos mantêm viva a tradição do “recheio da tapioca” e a hospitalidade local.
A importância da ilha, portanto, vai além de oferecer leitos ou transporte. Ela se inscreve num movimento mais amplo: o deslocamento de regiões normalmente vistas como meramente “turísticas” para espaços de logística de grandes conferências internacionais. Esse fenômeno ainda revela como um evento global como a COP30 provoca articulações locais — entre governo, iniciativa privada, comunidade, jovens e turistas — que podem ter impactos duradouros: geração de emprego, qualificação profissional, valorização de cultura local e o fortalecimento de um turismo que dialoga com a natureza em vez de explorá-la.
Em outras palavras, Mosqueiro está sendo projetada como um laboratório em tempo real — uma ilha que se prepara para assumir protagonismo no acolhimento de um encontro global, sem perder sua aura de natureza, tradição e acolhimento. A logística de transporte climatizado, a estrutura de hospedagem, o emprego local e o compromisso com sustentabilidade convergem para um cenário em que o evento internacional encontra uma base local sólida e a ilha, por sua vez, se reinventa e se posiciona.
Ao transformar-se em polo de hospedagem e mobilidade da COP30, Mosqueiro mostra que espaços periféricos podem se tornar estratégicos. E que o turismo, a infraestrutura e o meio ambiente podem caminhar juntos, não como antíteses, mas como aliados de uma nova forma de receber o mundo.






































