Estudos revelam que a iluminação artificial noturna pode aumentar a atividade do mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya. A substituição da iluminação pública tradicional por lâmpadas de LED tem sido amplamente adotada ao redor do mundo como uma solução econômica e sustentável para iluminar ruas e praças.
No entanto, uma preocupação inesperada tem emergido de estudos recentes: a iluminação pública em LED pode estar aumentando a atividade do Aedes aegypti, mosquito transmissor de doenças como dengue, chikungunya e zika. Especialistas alertam que a exposição à luz artificial noturna pode modificar o comportamento desses vetores, elevando os riscos de infecção.
A Relação Entre a Luz Artificial e o Comportamento do Aedes aegypti
O Aedes aegypti é um mosquito de hábitos tipicamente diurnos, preferindo picar suas vítimas durante o dia ou no entardecer. No entanto, um estudo publicado no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene revelou que a exposição à luz artificial noturna pode dobrar a taxa de picadas desse vetor durante a noite. O experimento mostrou que, quando expostos a uma luz artificial branca de 50 lux, os mosquitos passaram a demonstrar um comportamento de picada anormalmente alto no período noturno, aumentando de 29% para 59% a taxa de alimentação sanguínea.
Outro fator preocupante está na relação entre a cor da luz e a atividade do mosquito. Estudos apontam que LEDs brancos, que emitem altos níveis de luz azul (400-500 nm), são mais estimulantes para o sistema visual dos insetos, enquanto lâmpadas de vapor de sódio (amareladas) têm menor impacto na fisiologia dos mosquitos.
Expansão da Iluminação em LED e o Aumento das Arboviroses
No Brasil, diversas cidades têm substituído suas antigas lâmpadas de vapor de sódio por sistemas de LED, promovendo maior iluminação e economia de energia. No entanto, essa mudança pode estar contribuindo para o aumento de arboviroses. Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2024, os casos de dengue aumentaram em 15,8% no Brasil, com cidades altamente urbanizadas registrando as maiores incidências da doença.
A iluminação artificial pode impactar a ecologia do mosquito de diversas formas:
- Maior tempo de atividade: Com a luz artificial interrompendo o ciclo circadiano dos mosquitos, eles permanecem ativos por mais tempo e podem buscar hospedeiros à noite.
- Aumento da atração por ambientes urbanos: A luz artificial à noite torna praças, terminais de transporte e calçadas iluminadas locais ideais para a presença dos mosquitos, que encontram humanos mais expostos.
- Mudanças no hábito alimentar: A luz azul pode induzir alterações hormonais e comportamentais nos mosquitos, potencializando sua agressividade na busca por sangue.
O Que Pode Ser Feito Para Mitigar Esse Problema?
Embora a transição para LEDs seja uma medida positiva em termos de economia de energia e redução de poluição luminosa, especialistas sugerem algumas estratégias para minimizar os impactos negativos na proliferação do Aedes aegypti:
- Substituição de LEDs brancos por LEDs de espectro quente (amarelos/âmbares): Estudos mostram que luzes mais quentes reduzem a atração dos insetos.
- Regulamentação da iluminação em espaços públicos: Implementação de sistemas de iluminação adaptativa, que reduzem a intensidade da luz em horários de menor circulação.
- Uso de barreiras físicas e repelentes: Cortinas de luz ultravioleta para atrair e exterminar mosquitos em locais com alto fluxo de pessoas.
- Educação ambiental e urbanística: Campanhas para conscientizar a população sobre os impactos da luz artificial na proliferação do mosquito e na saúde pública.
Impactos da LED
A iluminação pública em LED representa um avanço tecnológico indiscutível, proporcionando eficiência energética e segurança. No entanto, é fundamental considerar os impactos invisíveis que essa mudança pode gerar, especialmente na dinâmica dos vetores de doenças. A ciência tem mostrado que a iluminação inadequada pode intensificar a atividade do Aedes aegypti, favorecendo a transmissão de doenças. Portanto, a busca por soluções equilibradas, que aliem sustentabilidade à saúde pública, é essencial para o futuro das cidades brasileiras e globais.
O debate está lançado: é possível iluminar nossas cidades sem comprometer a segurança sanitária? Cabe às autoridades, cientistas e sociedade civil buscarem estratégias eficazes para equilibrar essa equação.
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