Pesquisa global revela o impacto invisível das atividades humanas na biodiversidade

Autor: Redação Revista Amazônia

A perda de espécies na vegetação natural é um problema silencioso, mas alarmante, especialmente em áreas fortemente impactadas pela ação humana. Um estudo recém-publicado na revista Nature analisou essa questão em profundidade, examinando 119 regiões ao redor do mundo.

A pesquisa lança luz sobre o conceito de “diversidade faltante” (dark diversity), que se refere às espécies nativas que poderiam estar presentes em um ecossistema, mas estão ausentes.

 

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Mapa das regiões pesquisadas – Imagem: DarkDivNet

Mais de 200 cientistas da rede internacional DarkDivNet participaram do estudo, liderado pelo professor Meelis Pärtel, da Universidade de Tartu, na Estônia. O Brasil esteve representado por pesquisadoras como Alessandra Fidelis e Mariana Dairel, que contribuíram para a coleta e análise de dados.

O impacto da atividade humana sobre a vegetação

Segundo a professora Alessandra Fidelis, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), os pesquisadores analisaram 5.500 locais, registrando todas as espécies presentes e identificando as que deveriam estar ali, mas não foram encontradas.

“A pesquisa nos permitiu entender o potencial da diversidade vegetal em cada local e mensurar o impacto humano na vegetação natural”, explica Fidelis. Em áreas pouco impactadas, os ecossistemas costumam conter mais de um terço das espécies adequadas. Em regiões intensamente afetadas por atividades humanas, porém, esse número cai para apenas uma em cada cinco.

Medidas tradicionais de biodiversidade, como a simples contagem de espécies, não conseguem captar essa perda oculta, pois a variação natural entre ecossistemas pode mascarar a verdadeira influência humana, destacam os autores do estudo.

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Colaboração internacional para um levantamento global

A iniciativa DarkDivNet começou em 2018 com o objetivo de criar uma metodologia padronizada para estudar a diversidade faltante. O professor Meelis Pärtel lembra que, embora parecesse um desafio quase impossível, cientistas de diversos continentes se uniram para tornar a pesquisa viável.

Apesar das dificuldades impostas pela pandemia de COVID-19 e desafios financeiros, a coleta de dados foi realizada ao longo dos anos. Fidelis aderiu ao estudo desde os primeiros encontros, e Mariana Dairel, então doutoranda, auxiliou na coleta de dados na Estação Ecológica de Itirapina, em São Paulo, que abriga tanto áreas nativas de Cerrado quanto regiões antropizadas.

“Sabemos que a ação humana já impacta a biodiversidade, mas esse estudo mostra que estamos perdendo não apenas as espécies que existiam antes, mas também aquelas que poderiam ocupar esses espaços no futuro, prejudicando a regeneração natural”, afirma Fidelis.

Pegada ecológica e fragmentação do habitat

A pesquisa utilizou o Indicador da Pegada Ecológica (Human Footprint Index) para medir o nível de interferência humana em cada região. Fatores como densidade populacional, urbanização, agricultura e infraestrutura foram considerados. Os resultados revelaram que quanto maior a pegada ecológica, menor a diversidade vegetal.

“Esse achado é preocupante porque demonstra que os impactos humanos se estendem muito além dos locais de intervenção direta, atingindo até mesmo áreas protegidas”, alerta Pärtel. O estudo também reforça a meta global de conservar pelo menos 30% dos ecossistemas terrestres até 2030 como forma de mitigar esses efeitos.

Entre as principais causas da perda de diversidade vegetal, os autores citam a fragmentação de habitats, a redução de conectividade ecológica, a defaunação (perda de espécies animais essenciais para a dispersão de sementes) e perturbações como incêndios, extração de madeira e eutrofização de corpos d’água.

Caminhos para a conservação

Para os pesquisadores, a inclusão do conceito de “diversidade faltante” pode ser uma ferramenta valiosa para estratégias de restauração ecológica e conservação. A presença de pelo menos 30% da paisagem em estado natural foi identificada como um fator crucial para reduzir os impactos negativos da atividade humana.

O artigo completo, Global impoverishment of natural vegetation revealed by dark diversity, pode ser acessado no site da Nature: www.nature.com/articles/s41586-025-08814-5.


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