Novos focos de incêndio sobem sobre a Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO)


Na semana passada, raios que caíram durante tempestades na região provocaram um novo foco de incêndio dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no estado de Goiás. Conforme relatório do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), somente nessa recente frente o fogo já avançou por cerca de 1,5 mil hectares da unidade de conservação.

Crédito: Mayandi Inzaulgarat / ICMBio

Este novo episódio soma-se a uma anterior grande queima: a partir de 28 de janeiro, o incêndio anterior já havia consumido mais de 112 mil hectares — dos quais aproximadamente 900 hectares pertencem ao parque. A segunda frente, gerada pelos raios a partir de 14 de outubro, atingiu especificamente cerca de 653,4 hectares dentro da unidade. Entre elas, as chamas retornam à chapada mesmo após chuvas que, por um momento, davam a impressão de alívio.

A dinâmica do fogo

Depois de uma estação mais seca e de esforços de controle que pareciam surtir efeito, a região foi atingida por raios durante as chuvas — e esses raios se tornaram o gatilho de um novo foco dentro da unidade de conservação. O ponto de origem foi indicado próximo à região da Serra do Santana, área considerada estratégica e vulnerável, o que levou à interdição de algumas travessias no parque para garantir a segurança dos visitantes.

Para conter o avanço do incêndio, o ICMBio mobilizou equipes com uso de drones para monitoramento e definição das frentes de combate. O efetivo incluiu cerca de 30 brigadistas, dois helicópteros e dois aviões nessa fase. Atualmente, operam duas frentes principais: uma na região do Rio Preto e outra próxima à Fazenda Procópio, no município de Colinas do Sul. Na última frente atuam 14 brigadistas do ICMBio, dez da brigada Prevfogo (cinco da brigada Alto Paraíso 3 e cinco da Minasul) e seis voluntários de Colinas do Sul, totalizando 215 pessoas entre operacionais, logística e apoio.

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ICMBio/Divulgação

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Impactos e riscos

A repetição de focos de incêndio em áreas naturais protegidas lança luz sobre múltiplos desafios. Em primeiro lugar, há o risco direto à biodiversidade: o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros abriga fitofisionomias do bioma Cerrado, nascentes, córregos e fauna endêmica, o que o torna um lugar de valor ambiental único. A vegetação do cerrado, adaptada a fogo em certa medida, ainda assim sofre quando queimadas ocorrem fora de um regime natural, sobretudo em áreas de travessia, visitação ou com infraestrutura humana próxima.

Em segundo lugar, a segurança dos visitantes e frequentadores: a detonação de incêndio por raios, associada à condição de relevo e clima, torna certas trilhas e travessias mais perigosas. A necessidade de interdição parcial reforça que o turismo, a pesquisa e o lazer precisam conviver com detritos desse fenômeno.

Por fim, há o custo humano-operacional: mobilizar centenas de pessoas, aeronaves e equipamentos para combater o fogo em áreas de difícil acesso consome recursos, e repete-se com frequência crescente diante da mudança climática, do aumento de raios em tempestades e da variabilidade das chuvas. Os gestores em unidades como esta agora encaram não apenas o fogo iniciado por ação humana mas também aquele desencadeado pela natureza, o que exige revisão de protocolos, mais monitoramento e meios de detecção rápida.

Perspectivas e recomendações

Este novo episódio reforça a necessidade de olhar para o fogo no Cerrado com uma lente ampliada: não apenas como consequência do desmatamento ou de queimadas intencionais, mas também como resultado de fenômenos meteorológicos extremos, como raios em tempestades. As consequências são ambíguas: por um lado, o fogo faz parte da dinâmica do cerrado; por outro, quando ocorre em “fogueiras” maiores ou em momentos não-naturais, o dano ambiental, social e econômico se intensifica.

Para o parque, algumas ações se mostram essenciais:

  • Intensificar o monitoramento meteorológico e de descargas elétricas na região para antecipar possíveis focos desencadeados por raios.

  • Revisar os roteiros de visitação de modo a considerar risco elevado em períodos de tempestade ou instabilidade.

  • Fortalecer parcerias com comunidades locais, voluntários e brigadas para atuação rápida, dado que o acesso por helicóptero ou avião pode demorar.

  • Investir em educação ambiental junto a visitantes, moradores e empreendimentos na região para reduzir vulnerabilidades e preparar população para evacuação ou restrição de acesso quando necessário.

Em síntese, o fogo que se espalha hoje pela Chapada dos Veadeiros não é apenas um incêndio, é um alerta para que conservação, clima, visitação e ação humana estejam sincronizados numa paisagem que já foi palco de garimpos, turismo e natureza bruta. O desafio está lançado: preservar este patrimônio natural exige estratégia, prontidão e conscientização.
A Chapada segue belíssima, mas vulnerável. E a natureza lembra-nos que, às vezes, o fogo vem sem mãos humanas, trazido por um simples raio.