Crianças, clima e futuro: o direito de sonhar existe


No Dia das Crianças, levanta-se um alerta urgente: em meio à emergência climática, quem mais sofre — muitas vezes em silêncio — são as crianças, especialmente aquelas na primeira infância. São elas que carregam no corpo e na alma a vulnerabilidade intensificada por secas, inundações, ondas de calor e deslocamentos. Não se trata apenas de estatísticas: é vida, é futuro.

Divulgação/ Caminhos da reportagem

A equipe da Política por Inteiro convidou uma turma muito especial para participar de uma ação simbólica, mas poderosa. Essas crianças aparecem de vez em quando em nossas reuniões, filhas, filhos, irmãs e sobrinhas e com sua presença nos lembram que sonhar é um direito inalienável. Propusemos a elas uma missão: desenhar aquilo que amam e que gostariam de ver permanecer no mundo. Desenhar o que desejam para o futuro. A tarefa, embora simples no imaginário infantil, carrega uma carga de alerta e esperança que ecoa no presente.

Os desenhos nos revelam sonhos, árvores frondosas, rios limpos, animais, amigos, sorrisos e denunciam medos: cidades inundadas, desertos silenciosos, natureza estéril. Mais do que isso, apontam para um pacto coletivo: aquilo que amamos hoje precisa resistir amanhã. E esse pacto só é possível se agirmos agora — com responsabilidade, urgência e compaixão.

A emergência climática impõe desafios colossais, mas o modo como os afetamos revela escolhas políticas e morais. Proteção ambiental não é tema periférico: é eixo vital dos direitos da infância. Não basta reconhecer que crianças são vulneráveis,  é preciso torná-las centrais nas estratégias de adaptação e mitigação. Internacionalmente, marcos como a Convenção sobre os Direitos da Criança e relatórios da UNICEF vêm alertando sobre o impacto desproporcional do clima nas gerações mais novas. Precisamos escutá-los e agir junto.

Olhar para esses desenhos como se não representassem apenas linhas e cores, mas visões de mundo possíveis, exige uma transformação narrativa: transformar a linguagem árida do relatório em linguagem sensível, afetiva, analítica. Cada menino e menina que desenhou pôs no papel o que não quer perder: rios que correm livres, florestas que protegem, céu azul que respira. Esses desejos convergem para o essencial: dignidade, segurança, liberdade ecológica.

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Entre as ideias centrais que emergem:

  1. A infância como guarda dos bens naturais: o que cuidamos hoje será o alicerce para o futuro que entregamos.

  2. A desigualdade climática: crianças pobres, indígenas, negras e periféricas sofrem riscos maiores — secas mais severas, inundações mais frequentes, falta de saneamento.

  3. O direito à participação: crianças devem ser ouvidas nas decisões que definirão seus territórios, suas moradas e seu bem-estar.

  4. A urgência da ação coletiva: governos, empresas, instituições e sociedade civil devem responder com políticas climáticas que respeitem o tempo humano, e não apenas metas numéricas.

  5. A poética do afeto: os desenhos reafirmam que lutar pelo clima é também lutar por aquilo que amamos — corações que se entrelaçam com florestas, com rios e com amigos.

Ao reescrever esta narrativa, rompemos a frieza técnica e acolhemos a dimensão simbólica. Não é suficiente dizer “aquecimento global aumentará secas”, é preciso mostrar que uma criança desenha uma árvore para que o mundo siga respirando. Não basta citar metas de 2050, é necessário colocar no presente a urgência de proteger quem mais necessita.

Essas crianças, com sua simplicidade potente, nos lembram que o direito à infância inclui a garantia de um ambiente saudável. A floresta com pássaros, o lago com peixes, a rua com matizes de verde: tudo isso que hoje pulsa nos traços infantis é urgência pública. Quando deixamos de proteger o presente, estamos roubando sonhos do amanhã.

Mais do que um dia de celebração, o Dia das Crianças se torna um momento de escuta e de compromisso. É convite para governos ouvirem vozes pequenas, mas que sabem bem o que querem: futuro. É alerta para que políticas climáticas sejam também políticas de infância e adolescência. É convoco coletivo para que, com o traço terno da imaginação juvenil, redesenharmos um mundo possível.

Que esses desenhos não fiquem apenas expostos em reuniões. Que sirvam de bússola para políticas ambientais, urbanas, educacionais, que reconheçam: cuidar da infância é cuidar do clima. E cuidar do clima é cuidar da infância.

Veja a íntegra do livro aqui: https://darkslategray-goldfinch-715591.hostingersite.com/wp-content/uploads/2025/10/00_TalanoGraf-Crianca-1.webp