Meio Ambiente

Islândia lidera ranking global de desenvolvimento humano e oferece lições ao Brasil

Com pouco mais de 370 mil habitantes, ausência de forças armadas e uma economia baseada em pesca, turismo e energia renovável, a Islândia se tornou, o país com o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo. A ascensão islandesa ao topo do ranking global, que desbancou tradicionais líderes como Noruega e Suíça, levanta uma questão essencial para observadores do sul global: o que um país pequeno, frio e remoto tem a ensinar a gigantes tropicais como o Brasil?

O índice, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), combina dados de expectativa de vida, escolaridade e renda per capita para compor uma nota entre 0 e 1. A Islândia atingiu 0,972, seu maior índice na série histórica, colocando-se na frente de todas as outras 192 nações analisadas.

Publicidade

O caminho islandês para o topo

A trajetória da Islândia até a liderança no IDH foi moldada por uma série de reformas estruturais, investimento pesado em serviços públicos, e uma cultura social baseada em igualdade e confiança nas instituições. Desde a crise bancária de 2008, que quase colapsou sua economia, o país repensou prioridades e adotou modelos de desenvolvimento humano centrados no bem-estar coletivo.

Hoje, a expectativa de vida no país ultrapassa 82 anos. A média de anos de escolaridade chega a 13,9, com uma expectativa de 18,9 anos para quem está começando agora. A renda nacional bruta per capita ultrapassa US$ 69 mil. Mas números não contam toda a história.

Um cotidiano sem medo

Brasileiros que vivem na Islândia relatam um cotidiano marcado por segurança, liberdade e serviços públicos eficientes. “Posso sair à noite sozinha sem medo, coisa impensável na maioria das cidades brasileiras”, conta Luciana Moço, moradora de Reykjavík há três anos.

Saiba mais- 1ª geleira declarada morta (uma geleira estagnada é uma geleira morta)

Saiba mais- Brasil é o sétimo em ranking de crescimento econômico com 40 países

Além da segurança pública, o país chama atenção pelo acesso à saúde e educação totalmente gratuitos, com forte presença digital. Serviços são acessados por aplicativos, filas são raras, e consultas podem ser marcadas com poucos cliques. Para muitos brasileiros, o choque não é com o frio, mas com a eficiência.

Igualdade real e liberdade prática

A Islândia também é conhecida por sua liderança em igualdade de gênero. O país foi o primeiro a eleger democraticamente uma mulher presidente (Vigdis Finnbogadóttir, em 1980) e continua a implementar políticas que reduzem a desigualdade entre homens e mulheres. Licenças parentais igualitárias, creches acessíveis e uma legislação rígida contra discriminação fazem parte da estrutura institucional.

Empresas são obrigadas por lei a provar que oferecem salários iguais para funções equivalentes. O descumprimento pode levar a multas pesadas. Essa política pública, implementada em 2018, contribuiu para que a Islândia liderasse também o ranking do Fórum Econômico Mundial em igualdade de gênero.

A energia que move um país

A matriz energética da Islândia é uma das mais limpas do mundo. Quase 100% da eletricidade é gerada a partir de fontes renováveis, principalmente geotérmica e hidrelétrica. Essa abundância de energia limpa não apenas impulsiona a economia, mas também permite uma vida urbana de baixo impacto ambiental, com aquecimento de casas e água potável proveniente diretamente de recursos naturais.

A integração entre sustentabilidade e qualidade de vida é um dos diferenciais islandeses. O país é referência em adaptação às mudanças climáticas e na conservação de seus recursos naturais, fatores que contribuem indiretamente para o seu alto IDH.

O Brasil na 84ª posição: avanços e obstáculos

Enquanto isso, o Brasil aparece na 84ª colocação do ranking, com um IDH de 0,786. O país melhorou cinco posições em relação ao ano anterior, mas ainda está atrás de vizinhos como Argentina (0,849) e Chile (0,855). A expectativa de vida por aqui é de 75,8 anos, com média de 8,8 anos de escolaridade e renda per capita de US$ 17.749.

Esses números revelam avanços, mas também destacam os desafios crônicos. A desigualdade social, a violência urbana, a precariedade de parte da educação pública e a informalidade no mercado de trabalho são fatores que freiam o desenvolvimento humano no Brasil.

O que o Brasil pode aprender?

O caso islandês mostra que tamanho não define progresso. Com políticas públicas coerentes, foco na redução das desigualdades e eficiência institucional, é possível elevar significativamente a qualidade de vida da população. E não se trata apenas de copiar modelos, mas de compreender princípios.

A Islândia investiu pesado em educação de qualidade, saúde universal, igualdade de gênero e energia sustentável. Criou uma cultura política baseada em transparência, participação popular e accountability. Para o Brasil, adaptar esses pilares à sua realidade pode ser um caminho promissor.

Reformas estruturais no ensino básico e médio, políticas de renda que incentivem a formalização do trabalho, maior fiscalização na equidade salarial e investimentos em energia limpa são caminhos possíveis. Além disso, combater a insegurança pública com estratégias de longo prazo — em vez de intervenções pontuais — é essencial para que mais brasileiros possam viver com dignidade e sem medo.

Mais do que rankings

Estar no topo do ranking do IDH é simbólico, mas também é reflexo de décadas de decisões políticas voltadas ao bem comum. Para os especialistas, a liderança da Islândia funciona como um “espelho nórdico”, capaz de inspirar outras nações a priorizarem o bem-estar social como pilar central de suas políticas públicas.

Em tempos de desinformação, colapsos climáticos e tensões sociais, a aposta islandesa no coletivo, na sustentabilidade e na equidade de gênero mostra que há caminhos alternativos — e eficazes — de desenvolvimento.

Redação Revista Amazônia

Published by
Redação Revista Amazônia

Recent Posts

Amazônia, edição de junho/25 analisa os limites do planeta e o futuro da vida sob o calor extremo

A edição de junho da Revista Amazônia chega em meio a um cenário climático global…

38 minutos ago

Amapá surge como maior reservatório de biomassa da Amazônia, revela estudo internacional

Um estudo de impacto internacional, publicado nesta semana na revista científica Sustainability, com sede na…

5 horas ago

A face escondida dos anúncios: como a publicidade enganosa na Meta impacta a saúde mental dos consumidores

Em um mundo cada vez mais mediado por telas, likes e algoritmos, os anúncios publicitários…

5 horas ago

Dormir com a luz acesa pode estar sabotando seu cérebro sem você perceber

Você já acordou cansado mesmo depois de uma noite inteira de sono? Se a luz…

6 horas ago

Mistura poderosa: o que adicionar ao açaí para turbinar sua energia e imunidade

Quem já começou o dia com um bom açaí sabe que aquela cor intensa e…

6 horas ago

Madeira, lucro e fogo, a polêmica sobre novas usinas em áreas ameaçadas por queimadas

Por trás da promessa de sustentabilidade, uma série de incêndios, violações ambientais e comunidades em…

6 horas ago