O resgate das línguas, mitos e tradições indígenas tornou-se um componente muito ativo da reconfiguração multicultural do Brasil. Acolhidos pelas gerações mais novas e integrados com as tecnologias da contemporaneidade, esses conhecimentos ancestrais ampliam horizontes cognitivos e propõem novas formas de ser e estar no mundo.
O Laboratório de Pesquisa Linguagens em Tradução (Leetra)
O Laboratório de Pesquisa Linguagens em Tradução (Leetra) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) tem contribuído para o processo. Liderado pela pesquisadora Maria Silvia Cintra Martins, professora sênior do Departamento de Letras da UFSCar, e apoiado pela FAPESP, o Leetra tem entre suas linhas de pesquisa o estudo de línguas e literaturas indígenas e o letramento e comunicação interculturais.
Jogos Digitais e Lendas Indígenas
Mais do que tudo, o grupo vem trabalhando na recriação de lendas indígenas no formato de jogos digitais. Depois de Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos, o Leetra acaba de lançar Kawã na terra dos indígenas maraguá. Com o objetivo de subsidiar práticas de alfabetização e letramento interdisciplinares, o jogo destina-se a alunos e professores de escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental I.
Cultura Maraguá
Os Maraguá vivem no Baixo Amazonas, nas margens do rio Abacaxis (afluente da margem direita do Amazonas, entre o Madeira e o Tapajós), divididos em três aldeias no município de Nova Olinda do Norte (AM). As populações ribeirinhas e os povos tradicionais que habitam a região (Munduruku e outros) foram, recentemente, vítimas de grandes violências, comandadas por indivíduos implicados na pesca ilegal.
Língua e Clãs Maraguá
Os Maraguá falam um idioma que combina o nheengatu [derivação do tupi antigo que se tornou a língua geral ou língua franca do país durante o período colonial] com o aruak. E também se comunicam em português. Estão organizados em seis clãs, cujas famílias possuem um mesmo ancestral comum: clã do gavião, clã da vespa, clã do boto, clã da onça-pintada, clã da sucuri e clã do peixe-elétrico. Kawã, o herói do jogo digital, pertence ao clã do Gavião.
A pesquisa e o trabalho desenvolvidos pelo Leetra e pela professora Maria Silvia Cintra Martins são um exemplo de como a tecnologia pode ser usada para preservar e promover a cultura indígena. Ao criar jogos digitais baseados em lendas indígenas, eles estão ajudando a manter vivas as tradições e a língua desses povos, ao mesmo tempo em que proporcionam uma ferramenta educacional valiosa para as novas gerações.