Líderes Indígenas denunciam em Londres a exploração predatória na Amazônia e cobram ações concretas

Em visita à capital britânica, representantes Yanomami, Krenak e Kambeba expõem os impactos do garimpo ilegal e criticam a exclusão dos povos originários nas decisões climáticas globais


Líderes indígenas da Amazônia viajaram até Londres na última semana para entregar um recado direto ao mundo: o sistema econômico atual está falhando com a floresta e seus povos. Representantes dos povos Yanomami, Krenak e Kambeba se reuniram com acadêmicos e autoridades do setor financeiro para denunciar os danos provocados pela exploração predatória de recursos naturais.

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Dario Yanomami em Londres, em 9 de julho.Fotógrafa: Betty Laura Zapata/Bloomberg

Vozes da floresta no coração financeiro da Europa

Eles alertaram sobre a devastação causada pelo garimpo ilegal, extração de madeira e expansão do agronegócio, práticas que continuam a destruir territórios ancestrais. “A terra está doente”, afirmou Dario Yanomami, vice-presidente da Associação Hutukara Yanomami. “Durante mais de cinco séculos protegemos a floresta, mas agora o mundo precisa proteger a mãe natureza do colapso capitalista.”

Ouro ilegal e violência em territórios indígenas

O garimpo de ouro, em especial, tem gerado impactos devastadores. As terras Yanomami vêm sendo constantemente invadidas por mineradores ilegais, impulsionados pela valorização recorde do ouro, que ultrapassou US$ 3.000 por onça no mercado internacional.

Os líderes relataram que a resistência contra essas indústrias costuma ser recebida com ameaças e violência. Essa realidade, segundo eles, é frequentemente ignorada por investidores e consumidores distantes da floresta, que desconhecem os efeitos destrutivos por trás das commodities que consomem.

Críticas à exclusão indígena em decisões climáticas

Durante uma coletiva na sede da Bloomberg, os líderes também expressaram ceticismo em relação às cúpulas internacionais sobre o clima, como a COP30, que será realizada em Belém, no Brasil. Embora o evento reúna representantes de quase 200 países, os indígenas temem que sua participação continue sendo apenas simbólica.

“Não quero ser apenas ouvinte na COP”, declarou Adana Omagua Kambeba, médica e xamã em formação. “Quero falar, ser ouvida e representar meu povo de verdade.” A declaração reforça o sentimento de exclusão e a necessidade de uma escuta ativa e efetiva por parte das lideranças mundiais.

Ceticismo em relação ao mercado como solução

Os integrantes da delegação também demonstraram desconfiança quanto às soluções de mercado para a crise ambiental, como os créditos de carbono. Ailton Krenak, um dos participantes do grupo e autor de Ideias para Adiar o Fim do Mundo, reforçou que essas estratégias não confrontam as raízes do problema.

“O mercado não pode resolver o problema que ele mesmo criou”, criticou Krenak. “Acreditar nisso é, no mínimo, ingenuidade.”

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Ailton Krenak em Londres, no dia 9 de julho.Fotógrafa: Betty Laura Zapata/Bloomberg

Enquanto o Brasil propõe um fundo de US$ 125 bilhões para remunerar países tropicais pela preservação de florestas, Davi Yanomami afirmou que nem ele, nem outros líderes indígenas, foram consultados sobre essa iniciativa. Isso reforça o abismo entre promessas políticas e a realidade dos povos originários.

Fonte:  Bloomberg