O objetivo é preservar e divulgar os idiomas e saberes tradicionais dos mais de 300 povos originários do país, que falam atualmente 274 línguas — 20% das quais ainda não foram estudadas e correm risco de extinção.
Protagonismo indígena e salvaguarda da diversidade linguística
A ministra Sônia Guajajara celebrou o lançamento como um marco de resistência e valorização. “As línguas indígenas são bibliotecas vivas. Perder uma língua é perder uma forma de ver o mundo”, declarou.


Universidade de São Paulo – USP, Marco Antonio Zago, Presidente do Conselho Superior da FAPESP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, Reitor da USP ,Marília Marton, Secretária da Cultura, Economia e Indústrias Criativas do Governo
do Estado de São Paulo, Sonia Guajajara, Ministra dos Povos Indígenas. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
O centro nasce com uma premissa clara: o protagonismo é dos povos indígenas. Caberá às comunidades decidir o que será documentado e o que poderá ou não ser compartilhado publicamente.
Missão do centro: pesquisa, acervo digital e difusão cultural
Com duração inicial de cinco anos, o projeto atuará em três frentes:
- Pesquisa e documentação linguística e cultural;
- Criação de um repositório digital de acesso gratuito;
- Comunicação e difusão cultural.
Serão catalogados conteúdos em textos, áudios e vídeos, incluindo processos de fabricação de objetos, manejo agroflorestal e práticas de produção de alimentos, respeitando sempre os contextos culturais de cada povo.
Iniciativa reforça compromisso com a Década das Línguas Indígenas
O lançamento do centro ocorre durante a Década Internacional das Línguas Indígenas, instituída pela Unesco. Segundo a artista Daiara Tukano, presente no evento, o projeto é fruto da democracia participativa e da construção coletiva.
“A cultura indígena não é relíquia. É pulsação, presente e futuro. A língua é nosso espírito, nossa continuidade.” — Daiara Tukano
Territórios foco e riscos à diversidade linguística
As pesquisas iniciais estarão concentradas em duas regiões multilíngues do Brasil:
- Rondônia
- Região das Guianas
Essas áreas sofrem pressão de forças econômicas como a exploração de petróleo, o que pode acarretar deslocamentos populacionais e perda de conhecimento ancestral.
FAPESP e USP unem ciência, cultura e ancestralidade
Segundo Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, “a ciência, a tecnologia e a antropologia têm papel crucial na valorização e preservação das línguas indígenas”.
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O diretor do MAE-USP, Eduardo Góes Neves, destacou o caráter inédito da iniciativa. “Não conhecemos outro projeto no mundo com essa escala e esse modelo colaborativo”, afirmou. A FAPESP foi quem propôs o centro, buscando combinar preservação linguística com registro de saberes tradicionais.
Colaboração entre museus amplia alcance do projeto
Renata Motta, diretora do Museu da Língua Portuguesa, destacou que o centro une pesquisa científica e comunicação cultural. A proposta é criar um terreiro digital — expressão inspirada no artista indígena Gustavo Caboclo — onde a memória dos povos originários possa florescer e circular.