Por que a América do Sul está queimando

Autor: Redação Revista Amazônia

Uma onda recorde de incêndios florestais, alimentada por uma seca severa ligada às mudanças climáticas e ao desmatamento, está causando estragos na América do Sul.
Os incêndios mataram pelo menos 30 pessoas, deixaram cidades envoltas em fumaça tóxica e causaram milhões de dólares em perdas econômicas.

Esta temporada de incêndios é “completamente diferente” daquela que devastou florestas no Brasil, Peru e Bolívia em 2019, de acordo com a ambientalista brasileira Erika Berenguer, pesquisadora da Universidade de Oxford. Na época, a chuva ajudou a apagar os incêndios, que no Brasil foram iniciados principalmente por fazendeiros que se aproveitavam da legislação frouxa do então presidente de extrema direita Jair Bolsonaro para limpar terras para plantações e pecuária.

Um helicóptero pulveriza água sobre um incêndio florestal em uma colina em Quito em 25 de setembro de 2024Este ano, o continente está no meio de uma seca severa. A bacia amazônica, geralmente um dos lugares mais úmidos da Terra, está sofrendo os piores incêndios em quase duas décadas, de acordo com o observatório Copérnicos da UE.

Berenguer culpou as mudanças climáticas por tornar a Amazônia “altamente inflamável”.

Quão graves são os incêndios?

Entre 1º de janeiro e 26 de setembro, mais de 400.000 incêndios foram registrados na América do Sul, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
“Em nove meses já superamos o número de surtos registrados em todo o ano de 2023”, destacou Berenguer.

Bombeiros chegam ao local de um incêndio em Concepción, Bolívia, em 24 de setembro de 2024No Brasil, as chamas consumiram 40,2 milhões de hectares (99 milhões de acres) de vegetação este ano, muito acima da média de 31 milhões de hectares em cada um dos últimos 10 anos, de acordo com a Copérnicos.

Uma dúzia de bombeiros morreram em serviço, de acordo com a mídia local.

No Equador, o prefeito da capital Quito declarou esta semana que a cidade andina estava “sob ataque” de 27 incêndios que forçaram a evacuação de mais de 100 famílias antes de serem controlados.

O Equador declarou emergência em várias províncias, assim como o Peru, onde 21 pessoas foram mortas por incêndios desde julho. A maioria era de pequenos agricultores.

Vários incêndios também estão ocorrendo na Argentina e na Colômbia, em extremos opostos do continente.

O que está causando os incêndios?

Especialistas e autoridades nacionais apontam para uma combinação de fatores combustíveis, principalmente secas agravadas pelas mudanças climáticas e agricultura de corte e queima.

“É um exemplo claro de mudança climática. Se alguém pensou que não existia, bem, olhe, aqui está”, disse a ministra do Meio Ambiente do Equador, Ines Manzano.No Peru e na Bolívia, acredita-se que alguns dos incêndios tenham sido iniciados por fazendeiros que queimaram terras para torná-las mais férteis para o plantio, uma prática tradicional nos países andinos que é tolerada pelas autoridades.

Na Amazônia brasileira, os incêndios provocados tanto por agricultores de subsistência quanto pela indústria do agronegócio para limpar a floresta para criação de gado ou plantações foram alimentados pela pior seca da história recente do país.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030, considera que a maioria dos incêndios tem origem “criminosa”.
Em alguns lugares, os incêndios são iniciados por incendiários.

Uma pessoa foi presa em Quito e dezenas na Argentina e no Brasil por suspeita de iniciar incêndios maliciosamente.

Como as pessoas são afetadas?

Os incêndios reduziram drasticamente a qualidade do ar em várias cidades.
São Paulo, a maior cidade da América Latina, foi classificada como a cidade mais poluída do mundo no início de setembro, segundo a empresa suíça IQAir.

Uma grande parte do Brasil continua envolta em fumaça acre que chegou ao sul, até Montevidéu e Buenos Aires, no início deste mês, causando um fenômeno conhecido como “chuva negra”.

Sequeiros amplamente representados em duas regiões adjacentes do árido e frio Altiplano meridional da BolíviaMoradores de muitas cidades brasileiras estão apresentando problemas respiratórios e outros sintomas, como ardência nos olhos. Na Bolívia, as autoridades de saúde recomendaram que as pessoas usassem máscaras faciais devido à má qualidade do ar. As economias da região também estão sentindo o impacto. As perdas no setor agrícola brasileiro somaram US$ 2,7 bilhões entre junho e agosto, principalmente nas colheitas de cana-de-açúcar.

No Equador, quase 45.000 animais de fazenda morreram depois de mais de dois meses sem chuva.

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O que os governos estão fazendo?

Milhares de bombeiros e soldados foram mobilizados em todo o continente para combater os incêndios.

A seca intensificou a atividade de incêndios em todo o continente, contribuindo para emissões de carbono excepcionalmente altas na Bolívia e no Brasil. Imagem do dia 7 de setembro de 2024 DSCOVR — ÉPICO. Landsat 8 — OLI /Nasa“Todo mundo quer contratar milhares de bombeiros, comprar aeronaves, etc., etc. Isso é bom, mas é muito pouco e muito tarde”, disse Berenguer. “Precisamos prevenir incêndios, porque quando eles se tornam grandes, são muito difíceis de combater”, disse ela, defendendo medidas mais duras contra o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta.


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