Crédito rural transforma sonho de mãe solo do Marajó em realidade.


O acesso ao crédito rural transforma a realidade de 34 famílias extrativistas de açaí, incluindo a mãe solo Nielma Liarte, no município de Bagre, na Ilha do Marajó, Pará. A conquista foi viabilizada pelo trabalho da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater), que elaborou os projetos para captação dos recursos junto ao Banco da Amazônia (Basa), dentro das diretrizes do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A iniciativa não apenas celebra conquistas individuais, mas também consolida um movimento de desenvolvimento rural sustentável na região.

Divulgação - Agência Pará

O Açai como Protagonista do Desenvolvimento no Marajó

O Marajó, com sua beleza singular e desafios sociais complexos, testemunha uma importante injeção de recursos e conhecimento técnico que promete revitalizar a economia local, historicamente ligada ao extrativismo. No centro desse processo está a cultura do açaí, que, ao receber o apoio do crédito rural orientado, se reafirma como a principal força econômica da várzea.

A comunidade de Tiririca, em Bagre, exemplifica essa mudança. É lá que mora Nielma Liarte, produtora de açaí e mãe solo de duas crianças. Aos 26 anos, ela recebeu um presente que transcende a data de seu aniversário: a aprovação de um financiamento de quase R$ 40 mil.

“Eu me sinto realmente presenteada. É meu primeiro crédito rural e eu acredito que o primeiro de muitos. Com o dinheiro, vou aumentar a área produtiva, que já é considerada muito próspera, muito bonita, e intensificar manejo”, conta Nielma. Seu Sítio Dois Irmãos, batizado em homenagem aos filhos Thaís, de 9, e Lucas, de 11, já é conhecido por sua prosperidade, chegando a coletar, no auge da safra, cerca de meia tonelada de açaí por fim-de-semana.

A rotina de Nielma é um retrato da resiliência amazônica. Ela complementa a renda familiar com a venda de roupas, viajando em sua rabeta de casco pelo Rio Tiririca para negociar com a vizinhança ribeirinha. A colheita do açaí é uma batalha solitária e coletiva: “A colheita de açaí, por exemplo, é comigo mesma, subindo nas palmeiras, e também contrato outros peconheiros para ajudar”, detalha a extrativista, demonstrando a força de trabalho que sustenta seu lar.

20251008121828-GC00071412-F00266484-400x533 Crédito rural transforma sonho de mãe solo do Marajó em realidade.
Divulgação – Agência Pará

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Fortalecimento da Agricultura Familiar e Extrativismo Sustentável

A história de Nielma Liarte se soma à de outras 33 famílias de Bagre, incluindo assentados da reforma agrária, que, na última semana, assinaram os contratos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) com o Banco da Amazônia (Basa), após a assistência técnica da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater).

O impacto financeiro é expressivo: os valores individuais dos créditos variam entre R$ 39 mil e R$ 52 mil, totalizando um montante de R$ 1,5 milhão destinado a investimentos em áreas de várzea que compreendem entre três e quatro hectares, espalhadas por nove comunidades. A atuação da Emater foi crucial, não apenas na elaboração minuciosa dos projetos técnicos exigidos, mas na orientação para que esses investimentos gerassem o máximo de impacto social e ambiental.

Os especialistas da Emater preveem que, com a aplicação das técnicas e manejos orientados pelo órgão, a produtividade do açaí nessas áreas pode aumentar em até 80% no prazo de dois anos. Esse salto produtivo não visa apenas o aumento da renda, mas a consolidação da segurança alimentar e o estabelecimento de uma atividade lucrativa e duradoura.

Marinaldo Lobato, técnico em agropecuária e chefe do escritório local da Emater em Bagre, ressalta a dimensão humanitária e estratégica da ação. “Antes de tudo, é preciso melhorar a qualidade de vida para essas famílias – muitas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, dependendo de bolsa-família e seguro-defeso. O açaí já existe como atividade protagonista: sempre existiu; mas, com o crédito, ele vem fortalecido como atividade lucrativa e sustentável em longo prazo, para as gerações presentes e as novas gerações, pelo acesso à tecnologia e à modernização”, explica Lobato.

A assistência técnica e a extensão rural, por meio da Emater, funcionam como a ponte que conecta o potencial da terra e o esforço do trabalhador rural às políticas públicas de desenvolvimento. Ao traduzir a necessidade de investimento em projetos bancáveis e ao introduzir o manejo técnico, o órgão transforma o extrativismo tradicional em um negócio agrícola moderno e ecologicamente equilibrado. O resultado é a emancipação econômica das famílias, a valorização da produção local e a reafirmação do compromisso com um desenvolvimento amazônico que seja, sobretudo, justo e sustentável.