Foto: José Cruz/ABr
A participação de Marina Silva no programa Bom Dia, Ministra, transmitido pelo CanalGov, marcou uma das críticas mais contundentes do governo à decisão do Congresso Nacional de derrubar a maioria dos vetos presidenciais à Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Para a ministra, o que está em jogo ultrapassa divergências políticas e alcança o próprio núcleo da proteção socioambiental prevista na Constituição.
Marina afirmou que o governo estuda judicializar a questão, já que entende que a nova configuração da lei compromete seriamente o artigo 225, que assegura o direito coletivo a um ambiente equilibrado. Segundo ela, ao enfraquecer os controles e reduzir exigências técnicas, o Congresso expõe a população a riscos que o Estado não pode permitir.
A ministra resgatou o histórico do licenciamento ambiental no Brasil, lembrando que sua consolidação levou cinco décadas nos estados e quase quarenta anos na esfera federal. Esse arcabouço — ainda que imperfeito — evitou inúmeros desastres ambientais silenciosos, que nunca chegaram ao noticiário justamente porque as normas funcionaram como barreira preventiva.
Para Marina, desestruturar esse sistema significa desmontar uma proteção coletiva que o país levou gerações para construir. Ela reforçou que o debate público costuma enxergar apenas as tragédias que escaparam ao controle, enquanto ignora aquelas que foram evitadas pela atuação de órgãos ambientais.
Em sua avaliação, poucos pontos representam um retrocesso tão simbólico quanto a retomada da Licença por Autodeclaração. O modelo, que se baseia exclusivamente na declaração do empreendedor sobre sua conformidade ambiental, foi comparado a cenários que resultaram em tragédias como Mariana e Brumadinho.
Marina argumentou que empreendimentos de alto risco não podem operar confiando apenas na palavra de seus responsáveis. A retirada de filtros técnicos do Estado cria um ambiente de insegurança pública, no qual o interesse da sociedade fica subordinado à lógica de autoconfiança empresarial.
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Outro eixo central da crítica foi o enfraquecimento do Conselho Nacional de Meio Ambiente. O Conama historicamente estabelece parâmetros técnicos que orientam estados e municípios, garantindo coerência nacional na aplicação das regras. Quando o Conselho perde força ou é ignorado por legislações permissivas, o país passa a conviver com um mosaico desarticulado de procedimentos.
A ministra alertou que essa ausência de coordenação pode gerar descontrole, insegurança jurídica e desigualdades regionais. Segundo ela, o país não pode prescindir de um órgão que unifique diretrizes e preserve padrões mínimos de segurança.
Marina criticou também o argumento de modernização usado pelos defensores das mudanças. Em sua visão, flexibilizar licenças sob o pretexto de acelerar o desenvolvimento ignora uma realidade urgente: sem estabilidade climática, nenhuma economia prospera.
Ela destacou que o Brasil experimenta um aumento consistente de eventos extremos — chuvas violentas, estiagens prolongadas, ondas de calor — e que justamente por isso deveria reforçar suas salvaguardas ambientais, e não afrouxá-las.
O país se tornou mais vulnerável em razão da combinação entre crise climática e fragilidade institucional. Em cenários de emergência ambiental, normas robustas são fundamentais para reduzir danos humanos e econômicos. A ministra lembrou que a governança ambiental brasileira já vem sendo reconstruída após um período de desmonte, e que o momento exige vigilância, não complacência.
Ao final da entrevista, Marina reafirmou que o governo recorrerá a todos os instrumentos legais disponíveis para conter retrocessos. Ela destacou que a judicialização não se trata de uma disputa política, mas de uma defesa do interesse público diante de uma lei que — na avaliação do governo — amplia riscos, viola princípios constitucionais e compromete a proteção ambiental.
A ministra concluiu reforçando que a legislação ambiental não é obstáculo ao desenvolvimento. Pelo contrário: é o alicerce que permite que qualquer modelo de crescimento se sustente sem comprometer vidas, territórios e o futuro climático do país.
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