O Museu de Arte Urbana de Belém (M.A.U.B.) anunciou os 19 artistas selecionados para a terceira edição do projeto, que este ano se conecta ao histórico Museu Paraense Emílio Goeldi. A iniciativa revitalizará os muros do Parque Zoobotânico — tombado como patrimônio histórico e que, em 130 anos, nunca havia recebido intervenção artística — e também parte da fachada do Campus de Pesquisa.

A proposta é mais do que pintar paredes: é criar uma narrativa coletiva que une arte, ciência e biodiversidade amazônica. Com estreia marcada para setembro, às vésperas da COP30, os murais pretendem projetar Belém no cenário internacional como capital que transforma cultura e memória em diálogo vivo com a floresta.
Arte urbana encontra ciência amazônica
As obras desta edição têm como fio condutor o próprio Museu Goeldi, referência científica na Amazônia há quase 160 anos. Os artistas dialogarão com as coleções do museu, que abrangem desde arqueologia e ciências humanas até biodiversidade e estudos da terra. A ideia é ressignificar esse patrimônio em murais que traduzem tanto a riqueza natural quanto a memória cultural da região.
O projeto é realizado pela Sonique Produções e pela Oito Quatro Produções, aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. Tem patrocínio da Vale — por meio da Lei Rouanet — e apoio institucional do Governo Federal e do Ministério da Cultura.
Diversidade de vozes e olhares
Entre os 19 nomes selecionados, há representantes de Belém, do interior do Pará e de outros estados. A curadoria foi conduzida por William Baglione, fundador do coletivo Famiglia e figura atuante nas artes visuais há três décadas. Seu olhar privilegiou obras que reinterpretam fauna e flora, mas também símbolos culturais menos óbvios da Amazônia.
Para além da pintura, a imersão artística incluirá dois dias de convivência com pesquisadores e coleções do museu. Entre os elementos que servirão de inspiração estão as cerâmicas marajoaras, os artefatos tapajônicos e a maior coleção indígena do mundo, guardada pelo Campus de Pesquisa.
A produção prevê 17 murais no Parque Zoobotânico e dois no Campus de Pesquisa, que ficarão expostos por pelo menos um ano. Para Gibson Massoud, fundador da Sonique, trata-se de um gesto simbólico de devolução da história à cidade: “Estamos empolgados em unir a pluralidade da arte urbana à memória do Goeldi, respeitando sua trajetória e dando voz a diferentes perspectivas sobre a Amazônia”.

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Retratos da Amazônia em tinta e cor
A lista de artistas selecionados traduz a multiplicidade da cena urbana brasileira. Há nomes de peso nacional, como Éder Oliveira, que retrata identidade amazônica por meio do rosto e da memória coletiva, e Alex Senna, muralista paulista conhecido por transformar muros em poemas visuais de afeto.
Do Pará vêm referências locais como Graf, que traz ancestralidade afro-indígena para seus trabalhos; Lenu, com mais de 15 anos de pesquisa sobre o surrealismo amazônico; e Cely Feliz, criadora do caboclofuturismo, que mistura grafismos marajoaras e ribeirinhos em rituais de resistência urbana.
A cena feminina é fortalecida por artistas como Wira Tini, kokama de Manaus e fundadora do festival Graffiti Queens, e Dannoelly Cardoso, que retrata experiências amazônicas em traços realistas. Já nomes como Deco Treco (SP), com estética pop surrealista, e Wes Gama (GO), criador do conceito de caipira futurista, expandem o diálogo da Amazônia com outras linguagens culturais.

Arte: Drika Chagas e Éder Oliveira.
Entre memória e futuro
Para Nilson Gabas Júnior, diretor do Museu Goeldi, a parceria é inédita e estratégica: “Ao abrir as paredes do museu para a arte urbana, reforçamos nossa missão de integrar ciência, cultura e educação. É um gesto de valorização da biodiversidade e da sociobiodiversidade que pesquisamos há mais de um século e meio”.
A curadoria também propõe homenagens a personagens anônimos da Amazônia, como o mateiro — guia das expedições científicas —, exaltando saberes invisíveis mas fundamentais para a história da ciência na região.
O maior museu a céu aberto do Norte
Criado em 2021, o M.A.U.B. consolidou-se como o maior museu a céu aberto da região Norte. Sua vocação é ocupar o espaço público, democratizar o acesso à arte e transformar a experiência urbana em um percurso cultural gratuito. Em edições anteriores, já reuniu artistas de várias partes do Brasil e do mundo, mas esta terceira edição, conectada ao Museu Goeldi, promete ser um marco histórico.
Mais do que murais, os trabalhos se propõem a criar diálogos entre tradição e contemporaneidade, ciência e poesia visual, identidade e futuro. Um testemunho de que Belém, prestes a receber a COP30, também se afirma como capital criativa da Amazônia.










































