Um Entrave com Impactos Profundos na Vida Marinha, Humana e na Diversidade Biológica da Maior Floresta Equatorial do Mundo
Na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, os impactos da intervenção humana estão se tornando cada vez mais intensos e abrangentes, chegando até mesmo à escala microscópica. Um exemplo preocupante é a intoxicação por mercúrio, que atualmente afeta tanto a fauna local quanto as populações que habitam a região.
O mercúrio, uma vez presente no ambiente, pode ser incorporado à dieta dos animais e entrar na cadeia alimentar, intoxicando as pessoas que consomem peixes contaminados. Um estudo recente desenvolvido pela Fiocruz, em parceria com instituições amazonenses, revelou que os peixes dos principais centros urbanos da Amazônia estão contaminados por mercúrio.
A pesquisa, divulgada em maio deste ano, aponta que quase um quinto (21,3%) dos peixes utilizados para alimentação e comercialização apresentaram níveis de mercúrio acima do limite estabelecido pela Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO/WHO) e pela Agência de Vigilância Sanitária brasileira (Anvisa), referente à uma quantidade de 0,5 µg/g (microgramas de mercúrio por grama de peixe).
A presença crescente de mercúrio na região está relacionada às atividades de mineração e, possivelmente, à construção de usinas hidrelétricas, como a de Jirau, localizada no rio Madeira, que movimentam o sedimento dos rios onde há mercúrio decantado.
Nesse contexto, um grupo de pesquisadores, liderados por Pedro de Magalhães Padilha, professor do Instituto de Biociências da Unesp, campus de Botucatu, tem se concentrado nos últimos dez anos. Utilizando uma técnica inovadora que integra métodos bioquímicos e químicos, Padilha tem buscado maneiras de encontrar potenciais proteínas que sirvam como biomarcadores de mercúrio.
Os biomarcadores são elementos presentes em sistemas biológicos que fornecem informações mensuráveis sobre saúde, doenças ou exposição a fatores ambientais. Através de sua identificação, é possível não apenas apontar a presença do mercúrio no organismo, mas também identificar e localizar as proteínas nas quais o mercúrio está presente.
Segundo Padilha, a motivação para a pesquisa veio da constatação da facilidade com que o mercúrio é absorvido pela vida aquática, e o risco que isso implica para os habitantes da Amazônia. “O consumo de peixes representa a principal fonte de contaminação por mercúrio para as populações tradicionais, que têm o pescado como a principal fonte de alimentação proteica”, destaca o pesquisador.
Padilha acredita que o uso dos biomarcadores permitirá identificar com antecedência a existência de risco de exposição humana ao mercúrio num determinado contexto. “Esse conhecimento possibilitaria a adoção de ações preventivas, prevenindo o adoecimento e gastos significativos com saúde”, diz.
A contaminação por mercúrio na Amazônia está causando impactos significativos na fauna e flora da região. A presença de mercúrio nos rios é absorvida pela vida aquática, resultando em altos níveis de contaminação em peixes, que são uma fonte alimentar crucial para muitas espécies animais e humanas. Isso pode levar a uma série de problemas de saúde em animais, incluindo danos ao sistema nervoso central, dificuldades de aprendizado em jovens e problemas de coordenação em adultos.
Além disso, a contaminação por mercúrio pode ter um impacto devastador na flora da Amazônia. O mercúrio pode se acumular no solo e afetar a saúde e o crescimento das plantas. Além disso, a contaminação por mercúrio pode alterar a composição das comunidades de plantas e animais, levando a mudanças nos ecossistemas e na biodiversidade. Essas mudanças podem ter efeitos cascata, afetando não apenas as espécies diretamente expostas ao mercúrio, mas também outras espécies que dependem delas para alimentação ou habitat.