Cientistas desvendam microbioma de usinas de etanol para melhorar eficiรชncia e reduzir CO2

Autor: Redaรงรฃo Revista Amazรดnia

Pesquisadores da Universidade de Sรฃo Paulo (USP) e da Universidade Tรฉcnica da Dinamarca (DTU) realizaram um estudo inรฉdito que mapeia detalhadamente os microrganismos presentes nas usinas de etanol de cana-de-aรงรบcar. A pesquisa, publicada na revista Nature Communications, revela bactรฉrias que podem tanto elevar o rendimento do etanol quanto prejudicar o processo, oferecendo informaรงรตes que visam melhorar a eficiรชncia, reduzir custos e diminuir as emissรตes de carbono.

Microrganismos

Captura de tela 2024 11 05 172754Assim como o microbioma humano รฉ composto por diferentes microrganismos, as usinas de etanol tambรฉm apresentam um ecossistema microbiano complexo. Em ambientes abertos como esses, รฉ comum o surgimento de bactรฉrias que nรฃo participam da produรงรฃo de etanol, mas que utilizam o aรงรบcar do processo, desviando-o e comprometendo a eficiรชncia da fermentaรงรฃo. Entre esses micrรณbios estรฃo as bactรฉrias lรกcticas, tambรฉm presentes no leite. O conhecimento profundo sobre esses organismos abre portas para melhorias significativas na produรงรฃo.

Anรกlise do microbioma

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O estudo foi financiado pela FAPESP e coordenado pelo pesquisador Felipe Lino, com a participaรงรฃo de cientistas da Escola Politรฉcnica (Poli) da USP e do Centro de Biossustentabilidade da Fundaรงรฃo Novo Nordisk, da DTU. A equipe analisou o microbioma de duas usinas no Estado de Sรฃo Paulo em trรชs perรญodos diferentes da safra (inรญcio, meio e final). Usando o mรฉtodo de sequenciamento metagenรดmico “shotgun”, eles sequenciaram o DNA de todas as espรฉcies presentes, buscando entender como esses microrganismos interagem.

โ€œEstudamos o ecossistema das usinas como se fosse um organismo vivo. Analisamos cada cรฉlula para identificar quais microrganismos sรฃo agressivos ou benรฉficos para a fermentaรงรฃo e compreendemos as dinรขmicas ecolรณgicas que sustentam essa comunidade microbianaโ€, explicou Thiago Olitta Basso, professor de Engenharia Quรญmica da USP e um dos lรญderes do estudo. Segundo ele, ao longo da safra, ocorre uma alternรขncia de linhagens de bactรฉrias, com algumas cepas prejudiciais tornando-se predominantes. Alรฉm disso, foi constatado que, dentro de uma mesma espรฉcie, hรก variantes tanto benรฉficas quanto nocivas.

Essas descobertas tรชm o potencial de aumentar em atรฉ 5% a eficiรชncia da produรงรฃo de etanol, o que representa um acrรฉscimo de US$ 1,6 bilhรฃo nos lucros do setor, alรฉm de uma reduรงรฃo de 2 milhรตes de toneladas nas emissรตes anuais de COโ‚‚.

Repensando o Uso de Antibiรณticos

Basso destaca que o estudo tambรฉm levanta questรตes importantes sobre o uso de antibiรณticos na indรบstria de etanol, prรกtica comum para eliminar microrganismos indesejados. Atualmente, antibiรณticos de amplo espectro sรฃo usados para eliminar todos os microrganismos, mesmo aqueles que nรฃo afetam diretamente a produรงรฃo.

โ€œA pesquisa sugere que, em vez de eliminar todos os microrganismos, seria mais eficiente focar em mรฉtodos que visem apenas as bactรฉrias prejudiciais, ou atรฉ mesmo utilizar variantes benรฉficas como uma espรฉcie de โ€˜probiรณticoโ€™, modulando o microbioma da usina para controlar os microrganismos indesejados de forma naturalโ€, comentou o pesquisador.

A pesquisa teve a colaboraรงรฃo dos alunos Thamiris Guerra Giacon e Bruno Labate Vale da Costa, orientados por Basso, e oferece novas possibilidades para a indรบstria de bioetanol, indicando o potencial de adaptaรงรฃo do microbioma para otimizar processos e reduzir impactos ambientais.

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O artigo completo, intitulado Strain dynamics of contaminating bacteria modulate the yield of ethanol biorefineries, estรก disponรญvel no site da Nature Communications: nature.com/articles/s41467-024-49683-2.


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