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Mudanças climáticas podem intensificar emissão de metano na Amazônia

 

Estudos recentes apontam que mudanças climáticas extremas previstas para a Amazônia, como secas prolongadas e chuvas intensas, podem aumentar a emissão de metano em áreas inundadas e reduzir a capacidade de captação desse gás nas florestas de terra firme. Essas mudanças no ciclo de metano, um dos principais gases de efeito estufa, podem ter repercussões globais significativas.

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A pesquisa, realizada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e publicada na revista Environmental Microbiome, destaca que, em áreas inundadas, microrganismos produtores de metano se proliferam em condições de falta de oxigênio, comuns durante a temporada de cheia. Já nas florestas de terra firme, que normalmente atuam como sumidouros de metano, o potencial de absorção do gás pode diminuir drasticamente, chegando a uma redução de até 70% em cenários de seca intensa.

Segundo os autores, mais de 800 mil quilômetros quadrados da Amazônia são anualmente inundados por seis meses, criando condições anaeróbicas favoráveis à decomposição da matéria orgânica e consequente emissão de metano. Essas áreas podem responder por até 29% das emissões globais desse gás. Em contraste, as florestas de terra firme desempenham papel crucial na absorção do metano da atmosfera, ajudando a regular o equilíbrio do gás na região.

Impacto das mudanças climáticas

A pesquisadora Júlia Brandão Gontijo, uma das autoras do estudo e atualmente pós-doutoranda na Universidade da Califórnia, alerta para os possíveis efeitos das mudanças climáticas, que devem intensificar os extremos de temperatura e precipitação na região amazônica. Segundo ela, fatores como a elevação da temperatura e alterações nos padrões de chuva podem modificar a composição microbiana do solo e, por consequência, o fluxo de metano nessas áreas.

Durante sua pesquisa de doutorado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, Gontijo, em colaboração com instituições de pesquisa dos Estados Unidos e da Europa, realizou um experimento para simular essas condições extremas. Foram analisadas amostras de solo de áreas alagáveis e de floresta de terra firme nos municípios de Santarém e Belterra, no Pará. As amostras foram submetidas a diferentes níveis de temperatura (27°C e 30°C) e umidade, para avaliar a resposta dos microrganismos produtores e consumidores de metano.

Os resultados revelaram que, embora as áreas alagáveis tenham mostrado resiliência, com aumento no número de microrganismos produtores de metano, as florestas de terra firme apresentaram uma queda significativa no potencial de absorção do gás, especialmente em condições de seca severa. Em períodos de chuva intensa, a produção de metano nas florestas também aumentou, demonstrando a vulnerabilidade dessas áreas às mudanças climáticas.

Preocupação para o futuro

Gontijo destaca que essa alteração no equilíbrio das emissões de metano pode ter impactos preocupantes, considerando a vasta extensão da Amazônia. Se as áreas de terra firme, que normalmente capturam metano, passarem a emitir mais desse gás, o cenário global pode se agravar ainda mais.

Apesar das preocupações, o estudo também identificou a presença de microrganismos metanotróficos, que utilizam o metano como fonte de energia, nas áreas analisadas. Esses organismos podem mitigar parcialmente as emissões de metano, mas ainda é necessário investigar mais a fundo como esses processos funcionam em campo.

Perspectivas para o manejo ambiental

Os pesquisadores ressaltam que os dados obtidos são fundamentais para a criação de políticas públicas voltadas à conservação e manejo sustentável da Amazônia. Compreender como os microrganismos reagem às mudanças climáticas é crucial para prever os impactos ambientais e traçar estratégias de mitigação.

O estudo completo, intitulado Methane-cycling microbial communities from Amazon floodplains and upland forests respond differently to simulated climate change scenarios, está disponível na revista Environmental Microbiome.

Redação Revista Amazônia

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