Nobre Chef leva carnes exóticas e sabores da Amazônia para o mundo


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Ricardo Nobre, conhecido como Nobre Chef, tem revolucionado a forma como a gastronomia paraense é vista, unindo tradição, ousadia e ingredientes que despertam curiosidade. À frente do Nobre Gourmet, empresa especializada em eventos e buffets personalizados, ele aposta em uma culinária que valoriza a ancestralidade ribeirinha e transforma proteínas típicas da região, como pirarucu, jacaré, rã e até avestruz, em pratos sofisticados.

Com 14 anos de carreira na cozinha e mais de duas décadas de experiência no setor comercial, Nobre encontrou na gastronomia uma maneira de resgatar memórias afetivas e compartilhar histórias da Amazônia através dos sabores. Criado na casa do avô, na década de 1970, ele cresceu rodeado por descendentes de indígenas que preparavam comidas de caça. Essa vivência moldou o paladar trabalho atual do chef.

“Muitas proteínas que hoje são chamadas de exóticas já faziam parte da nossa vida no interior. Crescemos consumindo esses ingredientes. Quando encontrei fornecedores legalizados, pude trazê-los para o meu cardápio e matar a saudade de sabores que fazem parte da nossa ancestralidade”, relembra.

Um dos maiores desafios enfrentados por Nobre é desconstruir os mitos em torno das carnes de caça. Ele explica que ainda existe muito desconhecimento sobre a legalidade e a qualidade desses produtos. “Muitos perguntam se é permitido consumir, se faz mal ou se tem um gosto forte. Trabalhamos exclusivamente com fornecedores regularizados, que seguem todos os padrões sanitários. Muitas dessas carnes, como a de avestruz e a de rã, são extremamente saudáveis e ricas em nutrientes”, destaca.

Essa preocupação vai além da gastronomia. No Brasil, a caça de animais silvestres é proibida, salvo exceções previstas por lei. Para que a carne possa chegar à mesa de forma segura e sustentável, é preciso que ela venha de criatórios e abatedouros autorizados. Segundo Nobre, a burocracia ainda é um entrave para o crescimento desse mercado. “No interior, a carne ilegal de jacaré pode custar R$ 30, enquanto a legalizada chega a R$ 140 o quilo. Precisamos de incentivo legislativo para regulamentar e valorizar a produção legal, reduzindo a caça predatória”, defende.

Da cozinha ribeirinha aos palcos da COP 30

image9-400x325 Nobre Chef leva carnes exóticas e sabores da Amazônia para o mundoCom a COP 30 marcada para 2025 em Belém, Nobre vê a gastronomia como uma das maiores formas de apresentar a Amazônia ao mundo. Com pratos que já ganharam destaque em camarotes e eventos preparatórios para a conferência, atraindo a atenção de líderes, chefs e visitantes internacionais. “Nossa gastronomia é a nossa melhor propaganda. Não existe no mundo nada parecido com a riqueza de proteínas, insumos, frutas, cores e sabores que temos aqui. A COP 30 será a oportunidade perfeita para mostrar isso ao planeta”, afirma.

Para esses eventos, o chef criou pratos autorais que unem tradição e sofisticação. Entre eles está o Ribeirinho Paraense, uma releitura do arroz paraense que combina arroz com chicória, jambu e tucupi, além de camarão cinza, pirarucu fresco e jacaré defumado. Outro destaque é o filé de pirarucu grelhado com cobertura doce de cupuaçu, servido sobre uma mousseline de mandioquinha e finalizado com castanha-do-pará torrada e farofa de jambu — prato que, segundo ele, seria ideal para um jantar de gala durante a conferência.

Quando o assunto é recepção, Nobre não abre mão de oferecer o tradicional tacacá, que ele costuma reinventar com toques ousados. Em uma dessas versões, o prato ganhou o apelido de “tacacaré” — uma mistura de tacacá com carne de jacaré defumado que já conquistou desde diretores de grandes clubes de futebol até artistas internacionais.

A cozinha de Nobre vai além do sabor: ela também conta histórias. Entre suas criações mais conhecidas estão a Paella Amazônica, que mistura técnicas espanholas a ingredientes regionais como pirarucu, aviú, camarão-pitu e caranguejo, e o já famoso Ribeirinho Paraense. Mas o chef não se limita a pratos tradicionais: ele também cria hambúrgueres, pizzas e churrascos com inspiração amazônica, mostrando a versatilidade da culinária local.

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Essa criatividade não é apenas uma questão estética ou gastronômica, mas também cultural. Nos eventos, ele busca incorporar elementos da música e da arte paraense, criando experiências completas. “Nossa riqueza não está só na comida. Já tivemos eventos onde carimbó, tecnomelody e guitarrada se misturaram à gastronomia. Lembro de uma vez em que Nilson Chaves cantou em nosso espaço, acompanhado por um grupo de percussionistas mulheres. Foi um encontro lindo entre a música e a culinária paraense”, relembra.

Para Nobre, cada prato servido durante a COP 30 será uma oportunidade de mostrar ao mundo que a Amazônia não é apenas biodiversidade, mas também cultura viva e pulsante. Ele acredita que o interesse global pelos ingredientes amazônicos pode impulsionar a preservação da floresta, desde que haja políticas públicas que apoiem a produção sustentável.

Por Eva Pires