Na abertura da COP30, em Belém, o secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, fez um discurso incisivo: a transição energética global precisa de mais financiamento e de mais velocidade. Para ele, o mundo já entrou na era da transformação climática — e o papel do Brasil é crucial para que ela seja justa, inclusiva e eficiente.

“Agora é a hora de focar em como fazer essa transição de forma justa, acelerando a aplicação das energias renováveis e dobrando a eficiência energética. Precisamos colocar em prática o mapa de Baku para Belém”, afirmou, numa referência à COP29, realizada no Azerbaijão em 2024.
Na conferência anterior, os países haviam aprovado uma nova meta de financiamento climático: triplicar os recursos para nações em desenvolvimento, passando de US$ 100 bilhões anuais para US$ 300 bilhões até 2035. Além disso, definiram o objetivo de elevar o total de aportes públicos e privados para US$ 1,3 trilhão por ano até o mesmo prazo. O acordo, contudo, foi considerado insuficiente por muitos países do Sul Global, que defendem US$ 1,3 trilhão anuais apenas em financiamento climático direto — posição apoiada pela delegação brasileira.
O papel do Brasil e o “mapa de Baku para Belém”
Ao mencionar a agenda de ação brasileira para a COP30, Stiell destacou que o plano proposto pelo país é central para acelerar a transição energética e fortalecer a resiliência das comunidades mais afetadas pelas mudanças do clima. “A agenda de ação não é algo supérfluo, é crucial para a missão. Cada gigawatt de energia limpa cria empregos, fortalece comunidades e protege cadeias produtivas. Essa é a história de crescimento do século XXI — a transformação econômica da nossa era”, declarou.
A fala ecoa o tom de urgência que marcou as intervenções de líderes globais em Belém. O secretário enfatizou que a transição energética não deve ser vista apenas como meta ambiental, mas como estratégia de desenvolvimento e segurança global. A Organização das Nações Unidas (ONU), segundo ele, aposta na cooperação internacional como chave para destravar investimentos e garantir justiça climática.
Dez anos do Acordo de Paris: avanços e frustrações
Ao completar uma década de vigência, o Acordo de Paris foi lembrado por Stiell como um marco que alterou o rumo das emissões globais de gases de efeito estufa. Ele reconheceu que a curva de emissões começou a cair graças a políticas públicas e à pressão de mercados mais atentos à sustentabilidade, mas advertiu que “ainda não estamos no caminho certo”.
Citando o relatório da ONU divulgado em outubro, o secretário alertou que o mundo não conseguirá limitar o aquecimento global a 1,5°C nas próximas décadas sem um aumento drástico na ambição das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) — os compromissos nacionais de redução de emissões. “A ciência é clara: podemos e devemos reduzir as temperaturas ao limite de 1,5ºC, mesmo após um desvio temporário”, afirmou.
Ele lembrou que os efeitos da inação climática já corroem economias e vidas. “Desastres climáticos estão consumindo duas casas decimais do PIB mundial. Secas devastam plantações, os preços sobem, a fome se espalha, milhões são forçados a deixar suas terras. Tudo isso enquanto já temos as soluções. Se não agirmos agora, isso jamais será perdoado”, alertou.

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Cooperação como bússola da transição
Para Stiell, a retomada do declínio nas emissões depende de cooperação internacional efetiva e de um novo pacto financeiro global. Ele defendeu que países desenvolvidos cumpram suas promessas de apoio técnico e econômico, enquanto os países em desenvolvimento ampliam seus planos de energia limpa e adaptação.
Na visão do secretário, Belém simboliza o ponto de virada: a conferência que precisa transformar as promessas em ação concreta. “Não podemos esperar pelas NDCs para agir. Temos de preencher as lacunas e inovar agora”, concluiu, reforçando que a COP30 deve inaugurar uma nova fase do Acordo de Paris — a da implementação plena.
Com isso, o recado de Stiell ecoa como um chamado à realidade: o tempo da hesitação acabou. E, diante da escalada de eventos extremos, o mundo precisa decidir entre financiar o futuro ou pagar o preço da inércia.




































