Uma grande operação de fiscalização resultou na prisão de envolvidos em um esquema de exploração ilegal de madeira na Terra Indígena Mangueirinha, no centro-sul do Paraná. A ação foi coordenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em parceria com a Polícia Federal, que cumpriram 16 mandados judiciais na região, entre buscas, apreensões e prisões.
Entre os investigados está um líder indígena da própria comunidade, acusado de atuar no comércio clandestino de madeira, especialmente da araucária (Araucaria angustifolia), árvore símbolo do Paraná e considerada espécie ameaçada de extinção. O envolvimento de lideranças locais na rede criminosa acendeu um alerta ainda maior para a gravidade da situação, revelando que o esquema não apenas se aproveitava das fragilidades de fiscalização, mas também se infiltrava nas próprias estruturas comunitárias.
A araucária, também chamada de pinheiro-do-paraná, está listada como vulnerável à extinção e possui corte controlado pela legislação brasileira. Mesmo assim, a pressão econômica tem estimulado a extração clandestina, que avança sobre os últimos remanescentes da floresta com araucária.
Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), apenas 0,8% da vegetação original em estágio avançado de regeneração ainda resiste no Paraná. Dentro da Terra Indígena Mangueirinha, inserida no bioma Mata Atlântica, esses fragmentos são considerados fundamentais para a manutenção da biodiversidade e dos modos de vida tradicionais.

Histórico de fiscalização e repressão
A operação deflagrada em agosto de 2025 não surgiu do nada. Desde 2022, o Ibama vinha intensificando o monitoramento da região, após constatar o crescimento de atividades ilícitas relacionadas à extração de madeira. Nesse período, foram aplicadas 33 multas ambientais que somam cerca de R$ 2,5 milhões, além do embargo de 132 hectares desmatados ilegalmente.
Também foram apreendidos 250 metros cúbicos de madeira, 12 motosserras, oito veículos de transporte, entre caminhões e tratores, e até uma serraria móvel usada para processar a araucária dentro da própria terra indígena. Em paralelo, serrarias e madeireiras da região foram fiscalizadas, resultando em dez empresas autuadas e três prisões em flagrante antes mesmo da operação mais recente.
As informações colhidas nessas fiscalizações forneceram elementos cruciais para a investigação conduzida pela Polícia Federal. Dados de celulares apreendidos, registros administrativos e autos de infração ajudaram a mapear uma rede organizada de extração e comércio ilegal, levando à expedição dos mandados judiciais cumpridos agora.

Cadeia clandestina da madeira
O esquema, segundo os investigadores, movimentava a madeira extraída irregularmente da TI Mangueirinha para serrarias clandestinas nos municípios vizinhos. A comercialização, que deveria estar atrelada ao Documento de Origem Florestal (DOF), exigido em todas as etapas da cadeia produtiva, era feita sem qualquer controle.
O Ibama reforça que o DOF é a única garantia de procedência legal da madeira, funcionando como uma espécie de “certidão de nascimento” do produto, acompanhando-o da floresta ao consumidor final. Sem ele, os compradores também podem ser responsabilizados, o que coloca comerciantes e empresas sob maior risco jurídico.
A devastação das últimas reservas de araucária no Paraná não traz apenas perdas ambientais. Para os povos indígenas da região, a exploração ilegal ameaça a integridade do território e compromete o uso sustentável dos recursos naturais. Já para a sociedade em geral, representa um retrocesso na luta contra a degradação da Mata Atlântica, um dos biomas mais pressionados do país.
A operação na TI Mangueirinha mostra como a criminalidade ambiental se estrutura em redes complexas que envolvem intermediários, transportadores e compradores finais, muitas vezes atravessando fronteiras comunitárias e até institucionais. A prisão de um líder indígena escancara esse desafio: enfrentar a exploração predatória exige não apenas repressão policial, mas também políticas públicas de fortalecimento comunitário, incentivo a alternativas econômicas sustentáveis e vigilância permanente.
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