O tráfico de animais silvestres, uma das atividades criminosas mais lucrativas e destrutivas para a biodiversidade brasileira, sofreu nesta semana um duro golpe no estado do Rio de Janeiro. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) deflagraram a “Operação São Francisco”, resultado de um ano de investigações que desmantelaram a maior organização criminosa dedicada a esse comércio ilegal no território fluminense.

Ao longo do dia 16 de setembro, mais de mil policiais civis cumpriram 270 mandados de busca e apreensão em diferentes regiões do estado – da capital à Baixada Fluminense, da Região Serrana à Região dos Lagos – além de endereços em São Paulo e Minas Gerais. A operação resultou em 45 prisões e no resgate de cerca de 700 animais silvestres, vítimas de um esquema que combinava crueldade, falsificação e violência armada.
As investigações identificaram 145 suspeitos de envolvimento no esquema, que se sustentava em uma estrutura complexa, dividida em núcleos especializados. Caçadores eram responsáveis por retirar animais diretamente de habitats naturais, como o Parque Nacional da Tijuca e o Horto Florestal, em plena cidade do Rio de Janeiro. Esses animais, capturados de forma cruel, muitas vezes dopados para facilitar o transporte, eram então repassados a atravessadores que os levavam até centros urbanos, onde seguiam para venda em feiras clandestinas.
O inquérito também revelou a existência de um núcleo dedicado especificamente ao comércio de macacos, caçados e dopados antes de serem negociados. Outro setor da organização era formado por falsificadores, que produziam anilhas, selos, chips e documentos adulterados, tudo para disfarçar a origem ilegal dos animais e dar aparência de legalidade ao comércio. Havia ainda o núcleo de armas, responsável por fornecer armamentos e munições que garantiam a atuação violenta do grupo.

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Segundo o secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegado Felipe Curi, tratava-se de uma organização criminosa fortemente armada, estruturada e hierarquizada. Além da exploração da fauna, a quadrilha também traficava armas e mantinha relações estreitas com facções ligadas ao tráfico de drogas, que controlavam territórios onde as feiras livres clandestinas aconteciam. Essa conexão reforça como o comércio ilegal de animais está entrelaçado a outras atividades criminosas de alto impacto social.
Os animais resgatados foram levados inicialmente para a Cidade da Polícia, onde recebem atendimento veterinário e passam por perícia. Posteriormente, serão encaminhados a centros de triagem especializados, que avaliarão suas condições de saúde e a possibilidade de reintrodução na natureza. Esse processo é fundamental para garantir que espécies retiradas de seus habitats possam, sempre que possível, retornar a ecossistemas de onde foram subtraídas.
A “Operação São Francisco” traz à tona não apenas o alcance do tráfico de fauna no Rio de Janeiro, mas também a sofisticação das redes criminosas que lucram com esse mercado. Estima-se que o tráfico de animais silvestres movimente bilhões de reais por ano em todo o mundo, colocando em risco espécies ameaçadas e comprometendo a integridade de ecossistemas inteiros. O Brasil, por sua riqueza biológica, figura entre os países mais afetados, com espécies retiradas das florestas para abastecer mercados ilegais internos e externos.
O desmonte dessa rede criminosa expõe uma face cruel da relação entre crime organizado e natureza: animais sequestrados de seu ambiente, transportados em condições precárias e vendidos como mercadoria, enquanto organizações criminosas ampliam seus lucros e poder. O resgate de centenas de animais e a prisão de dezenas de envolvidos são vitórias importantes, mas também lembram que a luta contra o tráfico de fauna exige ação contínua, fiscalização rigorosa e políticas públicas que valorizem a biodiversidade.
Mais do que uma operação policial, trata-se de um sinal de que o poder público está atento e disposto a enfrentar um dos maiores crimes ambientais do país. O impacto imediato é o desmantelamento de uma rede de exploração ilegal, mas o efeito simbólico é ainda maior: reforçar para a sociedade que a vida silvestre não é mercadoria e que sua preservação depende da ação conjunta de autoridades, instituições e cidadãos.








































