Curiosidades

Do símbolo da vida à doçura moderna, a fascinante origem do ovo de Páscoa

Todo ano, quando a Semana Santa se aproxima, vitrines se enchem de embalagens coloridas, os supermercados ganham corredores dedicados e crianças aguardam ansiosas por um dos símbolos mais doces da data: o ovo de Páscoa. Mas por trás dessa tradição açucarada há uma história rica, que atravessa séculos, continentes e culturas.

Muito antes do chocolate se tornar o protagonista, o ovo já era símbolo de vida, renascimento e esperança; conceitos que dialogam profundamente com o espírito da Páscoa.

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O ovo como símbolo ancestral de renovação

Muito antes do cristianismo adotar o ovo como símbolo pascal, ele já carregava significados poderosos em várias culturas antigas. Povos persas, egípcios e romanos usavam ovos como presentes durante a primavera, estação que simboliza o renascimento da natureza. Nesses contextos, o ovo representava a fertilidade, a regeneração e o ciclo da vida.

Para os egípcios, os ovos eram enterrados junto aos mortos como símbolo de passagem para uma nova vida. Os persas, por sua vez, pintavam ovos e os trocavam durante o Nowruz, o ano-novo persa, que também coincide com o equinócio de primavera no hemisfério norte.

A cristianização do símbolo

Com o crescimento do cristianismo, muitas dessas tradições pagãs foram ressignificadas. A Páscoa, que celebra a ressurreição de Jesus Cristo, incorporou diversos símbolos pré-cristãos, entre eles, o ovo. A conexão é clara: o ovo, que guarda em seu interior uma nova vida prestes a surgir, tornou-se uma metáfora perfeita para o túmulo de Cristo, de onde Ele ressuscitou.

Durante a Idade Média, os cristãos europeus já tinham o costume de decorar ovos durante a Quaresma, especialmente porque, na tradição católica, não se podia consumir laticínios nem ovos nesse período. Assim, eles eram cozidos para preservar e, ao fim da Quaresma, muitas vezes eram pintados e dados de presente no domingo de Páscoa.

O ovo decorado e o surgimento das tradições populares

Foi na Europa Oriental, especialmente na Ucrânia, Polônia e Rússia, que a tradição de pintar ovos ganhou mais complexidade. Surgiram os ovos “pysanky”, artisticamente decorados com cera quente e tintas coloridas, cujos desenhos carregavam significados espirituais e de proteção.

Essas obras de arte em miniatura se tornaram itens culturais de grande importância, passando de geração para geração. Na Rússia, por exemplo, os czares chegaram a encomendar ovos luxuosos de joalheria, os famosos Ovos Fabergé como presentes da Páscoa imperial. Criados por Peter Carl Fabergé a partir de 1885, esses ovos incrustados de pedras preciosas foram um símbolo da opulência da dinastia Romanov.

O chocolate entra em cena

A virada para o ovo como o conhecemos hoje começou por volta do século XIX, com o crescimento da indústria do chocolate na Europa. A França e a Alemanha lideraram essa inovação: ao invés de apenas pintar ovos reais, passou-se a criar ovos com chocolate, primeiro maciços, depois ocos, e finalmente recheados.

Com o avanço das técnicas de moldagem e a popularização do cacau, especialmente após a revolução industrial, os ovos de chocolate ganharam o mercado europeu e, pouco a pouco, conquistaram o mundo. No início, eram feitos artesanalmente, com cascas grossas e chocolate amargo. Com o tempo, passaram a ser fabricados em massa, com variedade de sabores e formatos.

A empresa britânica Cadbury foi uma das pioneiras, lançando em 1875 o primeiro ovo de chocolate comercial. A partir daí, a tradição se espalhou rapidamente, especialmente nos países de tradição cristã.

A chegada ao Brasil

No Brasil, os ovos de chocolate começaram a se popularizar no início do século XX, trazidos por imigrantes europeus e impulsionados por empresas como a Lacta e a Garoto, que começaram a fabricar versões nacionais do produto.

A associação do ovo à infância e ao consumo familiar fez com que a Páscoa ganhasse um apelo comercial cada vez mais forte. Nas décadas de 1960 e 1970, os ovos começaram a vir com brindes, como brinquedos e personagens licenciados, ampliando ainda mais o alcance da tradição, especialmente entre o público infantil.

Entre o sagrado e o comercial

Hoje, a Páscoa se tornou uma das datas mais lucrativas para o comércio, atrás apenas do Natal. No entanto, para muitas pessoas, o significado espiritual permanece vivo. Seja em sua forma simbólica, artística ou comestível, o ovo de Páscoa continua sendo um elo entre culturas, religiões e gerações.

Enquanto alguns o veem como uma herança da fertilidade da deusa Ostara, de onde inclusive vem o termo “Easter” no inglês, outros o associam diretamente à ressurreição de Cristo. O fato é que o ovo de Páscoa transcende fronteiras e crenças, consolidando-se como um dos maiores símbolos de renovação, afeto e celebração da vida.

Amor e esperança que atravessam milênios

Muito além do chocolate e das embalagens reluzentes, o ovo de Páscoa é um testemunho de como símbolos antigos podem ser ressignificados ao longo do tempo, mantendo viva uma essência que atravessa milênios: a celebração do renascimento, da esperança e do amor. Ao saborear um ovo de Páscoa, portanto, estamos, ainda que inconscientemente, participando de uma tradição milenar que une o passado e o presente em um gesto de partilha.

Redação Revista Amazônia

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