Precisando de um ar fresco? Tente procurar no fundo do oceano. Um novo estudo sugere que pequenos e enigmáticos nódulos que cobrem o fundo do mar podem produzir seu próprio oxigênio na escuridão das profundezas.
Oxigênio escuro
No entanto, esses pequenos nódulos também são ricos em metais, e empresas de mineração estão competindo para extraí-los para a fabricação de baterias de íon-lítio. Cientistas alertam que é preciso entender urgentemente como esses nódulos afetam o ecossistema marinho.
Para o Scientific American Science Quickly, esta é Rachel Feltman. Estou aqui com Allison Parshall, da SciAm, para saber mais sobre esse chamado “oxigênio escuro”.
Feltman: Cientistas descobriram algo estranho no fundo do oceano. Allison, conte-nos mais. O que está acontecendo?
Allison Parshall: Quando as coisas no fundo do oceano não são estranhas? É isso que eu quero saber. Neste caso, não se trata de algum peixe globular ou algo com muitos dentes. Na verdade, é algo inanimado: basicamente, encontraram gás oxigênio sendo produzido na escuridão total a cerca de 4.000 metros de profundidade.
Estamos falando de uma região específica do Oceano Pacífico chamada Zona Clarion-Clipperton. Imagine uma extensa área entre o México e o Havaí, conhecida como planície abissal, um trecho plano do leito marinho coberto por nódulos polimetálicos que se assemelham a pedaços de carvão. Esses nódulos, compostos de metais como manganês e cobalto, estão espalhados por toda a planície abissal, como bolas de golfe em um campo de prática.
Feltman: De onde eles vêm?
Parshall: Cada nódulo começa como um pequeno objeto afiado, como um dente de tubarão, e cresce lentamente ao longo do tempo, à medida que os metais são depositados em camadas ao seu redor. Eles crescem em milímetros a cada milhão de anos. Apesar de serem pequenos e caberem na palma da mão, cada um deles representa milhões de anos de história do fundo do mar.
Feltman: Isso é incrível.
Parshall: Sim, e eles parecem ser parte de um ecossistema profundo sobre o qual ainda sabemos muito pouco. São lar de vida microbiana, tanto sobre quanto ao redor dos nódulos, e de organismos maiores, como águas-vivas, vermes e estrelas-do-mar.
Feltman: Que adorável.
Parshall: Com certeza. Mas, basicamente, esses nódulos têm sido alvo de muita pesquisa porque empresas de mineração querem extraí-los para obter esses metais valiosos, essenciais para a fabricação de baterias. No entanto, a ciência ainda não acompanhou o ritmo do interesse da mineração, e sabemos muito pouco sobre o papel desses nódulos no ecossistema e seus impactos globais.
Em 2013, o pesquisador Andrew Sweetman, do Scottish Association for Marine Science, estava em uma missão para coletar dados ambientais da Zona Clarion-Clipperton. Seu trabalho era enviar equipamentos ao fundo do mar para medir a “respiração” do leito oceânico.
Feltman: O que significa “respiração” do fundo do mar? Isso me faz pensar em algo saído de um filme de terror.
Parshall: Eles estão se referindo à respiração do ecossistema do fundo do mar como um todo. Pode parecer que não há muito oxigênio no fundo do mar, mas na verdade há uma quantidade significativa, vinda da atmosfera. Essa oxigenação permite que a vida no fundo do mar consuma oxigênio. A equipe de Sweetman queria medir quanto oxigênio essa vida estava consumindo.
Eles enviaram equipamentos a 4.000 metros de profundidade, onde usaram câmaras bentônicas para prender sedimentos, nódulos e organismos. Sensores mediram o nível de oxigênio, que, ao invés de diminuir, aumentou, algo que Sweetman achou impossível. Ele suspeitou de um erro nos sensores, mas após testes repetidos, ficou claro que o fenômeno era real. Eventualmente, a equipe percebeu que estava lidando com algo inédito.
Feltman: E agora, o que eles acham que está produzindo esse oxigênio?
Parshall: Inicialmente, pensaram em micróbios que produzem oxigênio sem luz, um processo conhecido como oxigênio escuro. No entanto, quando eliminaram a vida microbiana das amostras, o oxigênio continuou a aumentar. Assim, a equipe passou a suspeitar dos próprios nódulos. A hipótese atual é que eles funcionam como baterias naturais, separando a água do mar em hidrogênio e oxigênio.
Embora esta seja uma descoberta empolgante, ainda há muito a ser explorado para entender completamente esse fenômeno e seu impacto potencial.