Durante a COP30, realizada em Belém, o Governo do Pará reforçou sua estratégia de transição climática baseada em uma visão inovadora: a economia circular como instrumento de descarbonização, inclusão social e desenvolvimento regional. Ao longo da semana, três painéis realizados na Green Zone mostraram como o Estado vem estruturando políticas públicas que unem sustentabilidade, renda e inovação — um modelo de desenvolvimento que procura valorizar as pessoas e os territórios.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas) conduziu os debates, que reuniram gestores públicos, cooperativas de reciclagem, pesquisadores e representantes da sociedade civil. O objetivo comum: discutir como transformar resíduos em valor, reduzir emissões e criar oportunidades econômicas sustentáveis.
O painel “Descarbonização e circularidade: a economia dos resíduos como uma nova agenda para o clima”, realizado no Pavilhão Pará, abriu a série de discussões com foco no papel do poder público na criação de um modelo produtivo de baixo carbono. Nos dias seguintes, os debates “Economia circular e enfrentamento à pobreza: caminhos para transição justa” e “Políticas públicas de fortalecimento da sustentabilidade e circularidade nas cooperativas do Estado do Pará” ampliaram a conversa para o campo da inclusão social e do protagonismo das cooperativas.
Circularidade como política de Estado
Para o secretário adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da Semas, Rodolpho Zahluth Bastos, a transição ecológica precisa ser acompanhada por uma profunda transformação econômica e cultural. “A economia circular precisa ir além da reciclagem ou da logística reversa. Queremos pensar a circularidade desde a geração até o descarte, com reuso, redução e novos ciclos de aproveitamento. Esse debate é essencial para desenharmos um modelo que faça sentido para a realidade do Pará”, afirmou.
Segundo ele, o Estado está em processo de construção de uma política estadual de economia circular, que se conecta diretamente às metas de mitigação de carbono e de desenvolvimento justo. O programa prevê o fortalecimento das cooperativas de catadores, o estímulo à inovação tecnológica e a criação de parcerias público-privadas voltadas ao reaproveitamento de resíduos e à geração de renda.
Zahluth destacou exemplos práticos já em andamento, como a implantação de unidades de reciclagem e manejo sustentável em municípios como Salinópolis e Castanhal, que contam com trituradores de vidro e equipamentos de reaproveitamento de materiais. A expansão para outras regiões da costa paraense está prevista nos próximos meses.

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Sustentabilidade que gera inclusão
O secretário adjunto ressaltou que o avanço da economia circular no Pará está diretamente ligado à valorização das cooperativas de reciclagem e à autonomia das comunidades locais. “Estamos construindo políticas públicas com base na participação social e no fortalecimento das cadeias produtivas sustentáveis. O objetivo é que o Pará se torne referência em um modelo de baixo carbono que valoriza os territórios e seus atores locais”, afirmou.
A perspectiva de que a circularidade deve incluir quem está na base da cadeia foi reforçada por Débora Silva, presidente da Concaves (Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Materiais Recicláveis). Para ela, a presença das cooperativas na COP30 é simbólica e estratégica. “A economia circular precisa incluir quem está na base: os catadores. Eles são parte essencial da cadeia de reciclagem e precisam ser reconhecidos como agentes ambientais e empreendedores sociais”, disse.
Débora ressaltou que o Pará tem se tornado referência ao associar a valorização dos resíduos à inclusão produtiva, abrindo espaço para que os catadores sejam reconhecidos como protagonistas na agenda climática. “Estar num espaço global como a COP mostra que o trabalho dos catadores é parte da solução climática”, concluiu.
Transição justa e inovação amazônica
Ao posicionar a economia circular como eixo da transição climática, o Pará propõe um novo paradigma: a sustentabilidade como vetor de inovação e justiça social. A Semas vem articulando ações de educação ambiental, regulação e incentivo à pesquisa para criar um ecossistema que una a eficiência econômica à preservação da floresta viva.
“A COP é um espaço estratégico para mostrar que o Pará está comprometido com um modelo de desenvolvimento que alia floresta viva, inovação e justiça social”, afirmou Rodolpho Zahluth, destacando o papel do Estado como laboratório de soluções amazônicas para a transição global de baixo carbono.
Ao colocar os resíduos no centro da agenda climática, o Pará demonstra que a descarbonização não depende apenas de tecnologias limpas, mas de novos modos de produzir, consumir e incluir. Na Amazônia, essa transformação já começou — e passa, sobretudo, pelo reconhecimento de que a economia circular é também uma economia da dignidade.






































