Pesquisa identifica genes-chave na resposta imune ao vírus da dengue


 

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) realizaram um estudo comparativo entre a resposta imune de uma infecção natural por dengue e a resposta imune resultante de vacinas contra a doença. A pesquisa resultou na identificação de marcadores moleculares que podem auxiliar no desenvolvimento futuro de novas vacinas e terapias contra o vírus da dengue. O estudo também confirmou a eficácia da resposta imune induzida por duas vacinas disponíveis no mercado: Q-Dengue, do laboratório japonês Takeda Pharma, e Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi-Pasteur. Ambas as vacinas utilizam a tecnologia de vírus atenuado.

A pesquisa adotou uma abordagem sistêmica e identificou várias semelhanças entre a resposta imune induzida pela vacina e a de uma infecção natural pelo vírus. Os pesquisadores também conseguiram caracterizar algumas vias de sinalização entre células de defesa. A via do interferon, mediada por essa proteína antiviral produzida pelos leucócitos e por fibroblastos, mostrou-se central, com vários genes importantes emergindo como novos biomarcadores da doença.

O estudo, apoiado pela FAPESP e publicado na revista Frontiers in Immunology, é o primeiro a identificar assinaturas imunológicas da dengue por meio de uma abordagem chamada vacinologia sistêmica, um campo de pesquisa que busca decifrar um panorama global das respostas imunológicas à vacinação.

Os pesquisadores analisaram 955 amostras de transcriptoma de pacientes infectados pelo mosquito da dengue e de participantes de ensaios clínicos de imunizantes contra a doença. A partir desses dados, foram identificados 237 genes diferencialmente expressos tanto nos casos de infecção natural quanto de resposta às vacinas.

Com base em 20 desses genes em comum, os pesquisadores conseguiram criar um painel para distinguir a gravidade da doença, particularmente na fase aguda tardia. Por meio de técnicas de aprendizado de máquina, também foi possível classificar dez preditores de gravidade da doença nos casos de infecção natural e que são cruciais para a resposta imune antiviral.

A dengue, causada por quatro sorotipos virais (DENV1, 2, 3 e 4), é marcada por diferentes fases clínicas. Quando não é assintomática, a doença apresenta a fase aguda inicial, aguda tardia e convalescente.

Os pesquisadores conseguiram identificar muitas semelhanças entre a resposta imune induzida pelas vacinas e a provocada pela infecção natural. Identificaram 20 genes comuns nesses dois processos, que são expressos de forma semelhante. Esses genes são responsáveis por enriquecer a via protetora do sistema imune, sobretudo, a via imunológica do interferon do tipo 1 e 2.

O interferon é uma citocina cujo papel principal é inibir a replicação viral. Embora as vias antivirais do interferon sejam responsáveis por uma defesa precoce, por meio de suas complexas funções biológicas, a proteína prepara o terreno para o desenvolvimento de uma imunidade adaptativa robusta e duradoura.

Com as informações obtidas no estudo, os pesquisadores conseguiram identificar estratégias terapêuticas que podem bloquear, ativar ou induzir genes envolvidos no processo da resposta imune, o que abre a possibilidade de investigar novos alvos terapêuticos para a doença.

No trabalho, os pesquisadores identificaram os principais genes envolvidos na orquestração de aspectos importantes da resposta imune adaptativa. Alguns genes apresentam funções antivirais, outros restringem a replicação do vírus. Existe um gene responsável por ativar o inflamassoma, iniciando respostas pró-inflamatórias cruciais para uma defesa antiviral eficaz. Outros genes estão associados à modulação da apoptose e à defesa antiviral.

O conjunto de genes relevantes em todo esse processo ressalta quão intrincada é a ligação entre as vias antivirais iniciais e os processos imunes adaptativos subsequentes. É como se as duas pontas de uma história se unissem.

O artigo “Immunological signatures unveiled by integrative systems vaccinology characterization of dengue vaccination trials and natural infection” pode ser lido na íntegra no site da revista Frontiers in Immunology.


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