Dados divulgados em janeiro deste ano indicam que, enquanto o desmatamento na Amazônia diminuiu pela metade, o Cerrado experimentou um aumento de 43% em 2023. A abordagem para combater o desmatamento neste bioma é uma necessidade urgente, e, além de preservar o que ainda existe, a restauração se mostra crucial.
A restauração, no entanto, enfrenta diversos desafios, incluindo a recorrente invasão por gramíneas exóticas. Estas gramíneas, introduzidas em áreas de pastagem, proliferam, eliminam espécies nativas e alteram o estrato herbáceo, uma importante reserva de biodiversidade no Cerrado. Mesmo após o abandono do pasto, essas gramíneas, como as braquiárias (Urochloa spp.), capim-gordura (Melinis minutiflora) e capim-gambá (Andropogon gayanus), tornam-se desafiadoras de erradicar.
Para abordar estratégias de resistência à invasão ou reinvasão por essas gramíneas exóticas, um estudo pioneiro foi conduzido no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. O artigo, assinado pelo biólogo Guilherme Mazzochini e colaboradores, foi publicado no Journal of Applied Ecology, da British Ecological Society.
O estudo é parte do Projeto Temático “Restaurando ecossistemas neotropicais secos – seria a composição funcional das plantas a chave para o sucesso?”, liderado por Rafael Oliveira na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com apoio da FAPESP e do Natural Environment Research Council (Nerc) dos Estados Unidos.
O estudo destaca a importância da biodiversidade na resistência à invasão biológica. Comunidades mais diversas mostraram redução na invasão, provavelmente devido à competição por recursos em solos pobres e ácidos do Cerrado.
Os resultados sugerem que, ao planejar projetos de restauração, é crucial compreender profundamente a ecologia do ecossistema alvo, algo ainda pouco comum. A pesquisa demonstrou que a diversidade funcional, tanto em altura quanto em comprimento específico de raízes, está associada à redução da invasão por espécies exóticas.
O estudo indica a necessidade de revisão nas estratégias de restauração no Cerrado, questionando a eficácia de certas práticas, como o uso de espécies anuais de crescimento rápido. A conclusão destaca a importância da biodiversidade e de estratégias de semeadura mais diversificadas para garantir o sucesso da restauração e a resistência contra espécies invasoras.