Polinização de palmeiras como o açaí  vale mais de 700 milhões ao ano

Autor: Redação Revista Amazônia

 

Anteriormente, acreditava-se que a polinização das palmeiras era predominantemente realizada pelo vento. No entanto, descobertas recentes revelaram que insetos, como abelhas e besouros, desempenham um papel crucial na polinização dessas plantas, que resulta na produção de frutos. De acordo com um estudo recente da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Instituto Tecnológico Vale (ITV), publicado na revista científica “Arthropod-Plant Interactions”, o valor monetário do serviço de polinização na produção de frutos de palmeiras na região amazônica é estimado em R$ 706 milhões por ano.

O açaí, em particular, depende fortemente dos polinizadores para a produção de frutos. As análises indicam que 92% do valor monetário do serviço de polinização é derivado desta cultura agrícola, predominante no estado do Pará. A estimativa do valor da polinização foi obtida através da análise de dados do Censo Agropecuário de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A análise revelou que o valor de produção de treze espécies de palmeiras da Amazônia Legal é de aproximadamente R$1,17 bilhões por ano, sendo que cerca de 85% deste valor é atribuído à produção de açaí.

Embora algumas espécies dependam mais do serviço de polinização do que outras, 60% do valor de produção agrícola das palmeiras é proveniente do trabalho dos polinizadores. Neste processo, os insetos transportam grãos de pólen de uma flor para outra, garantindo a produção de frutos pelas plantas e a sobrevivência de outros insetos que se alimentam das flores. Aproximadamente 61% dos valores da polinização estão associados exclusivamente à produção de frutos de palmeiras provenientes de áreas florestais.

“As palmeiras são de grande importância para as comunidades tradicionais, que muitas vezes são extrativistas, coletando frutos, fibras e amêndoas na floresta”, destaca Tereza Cristina Giannini, pesquisadora do ITV e uma das autoras do estudo. “Por isso, é provável que esses valores que levantamos estejam subestimados”, observa.

Este cálculo destaca o valor dos polinizadores e a importância de sua preservação. “Eles têm uma importância econômica muito grande, e é mais fácil compreender esses serviços prestados principalmente por insetos para a produção de alimentos a partir de cifras monetárias”, diz Giannini. Entre os principais polinizadores das palmeiras amazônicas estão as abelhas e os besouros. Estes últimos, segundo os cientistas, merecem atenção. “As abelhas são campeãs na polinização, todo mundo sabe, mas os besouros são particularmente importantes para as palmeiras”, afirma William de Oliveira Sabino, pesquisador do ITV e coautor da pesquisa.

Os efeitos das mudanças climáticas sobre os polinizadores são uma preocupação para os cientistas. “Existe um ciclo de dependência entre as pessoas e a floresta que, por sua vez, depende de polinizadores para continuar existindo. Portanto, aquilo que afeta o habitat natural dos animais pode afetar, consequentemente, a produção agrícola”, explica Sabino. O pesquisador defende que é preciso pensar em soluções para preservar os processos de polinização na região Amazônica diante das mudanças ambientais.


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