O encontro entre culturas que, há séculos, compartilham o mesmo território amazônico volta ao centro do debate público com o Colóquio Internacional “Oyapock, o rio que une: línguas e conhecimentos indígenas além das fronteiras”. Realizado entre 26 e 28 de novembro de 2025, no auditório do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, o evento se insere na programação da Temporada França-Brasil 2025 e propõe uma imersão na diversidade linguística, cosmológica e política dos povos que habitam a região do rio Oiapoque, fronteira viva entre Brasil e Guiana Francesa.

A iniciativa é promovida pelo Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas, um projeto conjunto do Museu da Língua Portuguesa e do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE-USP), com financiamento da FAPESP (processos 24/17531-3 e 24/17181-2). Trata-se do primeiro grande evento do centro desde seu lançamento, em maio de 2025, e marca um passo importante para consolidar um espaço permanente de articulação entre pesquisadores, artistas e lideranças indígenas de diferentes regiões do Planalto das Guianas.
O colóquio não se limita a apresentar pesquisas ou compartilhar diagnósticos; ele pretende tensionar visões de mundo, promover escutas e aproximar fronteiras simbólicas que, por muito tempo, funcionaram como barreiras à circulação de saberes. Nesse sentido, o evento enfatiza perspectivas indígenas sobre multilinguismo, políticas linguísticas, educação intercultural e processos de revitalização cultural e patrimonial. Uma de suas premissas centrais é valorizar a autodeterminação dos povos originários, reconhecendo sua capacidade de conduzir seus próprios projetos de preservação, transmissão e atualização de conhecimentos.
A região contemplada pelo colóquio é uma das mais ricas e complexas da Amazônia. Entre seus habitantes estão povos como Wajãpi, Wayãpi, Wayana, Apalai, Kali’na Tɨlewuyu, Galibi Kali’na, Galibi Marworno, Parykweneh, Palikur-arukwayene, Karipuna, Teko, Lokono e Kaxuyana, cujas trajetórias envolvem migrações históricas, redes de parentesco transfronteiriças e práticas culturais que dialogam com o território há milênios. O encontro busca destacar esse mosaico sociocultural e discutir políticas e ações que possam fortalecer sua continuidade.

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Para isso, seis mesas temáticas reúnem artistas, educadores, lideranças e especialistas indígenas e não indígenas de três países. Entre os nomes confirmados estão Daiara Tukano, Kassia Lod, Cristine Takuá, Angela Kaxuyana, Dominique Gallois e Eduardo Neves (Brasil); Anne-Marie Chambrier, Aïmawale Opoya e Corinne Toka-Devilliers (Guiana Francesa); e Isabelle Léglise (França). Essa tessitura multinacional reforça o espírito do evento: compreender o Oiapoque não como linha divisória, mas como um rio que costura mundos.
Além das mesas de debate, o colóquio incorpora a potência expressiva das artes indígenas. A abertura conta com a performance Nhe’ẽrỹ, criada por Carlos Papá, liderança e cineasta Guarani Mbya. Já o encerramento apresenta Maluwana, o Céu de Casa, obra do artista Wayana Aïmawale Opoya, com exibição na Praça da Língua. Ambas as apresentações foram concebidas especialmente para o encontro, reafirmando a arte como linguagem política, espiritual e pedagógica.
A organização do colóquio é viabilizada por uma ampla rede de instituições brasileiras e francesas. Além da FAPESP, apoiam o evento o Institut Français, a Collectivité Territoriale de Guyane (CTG), a Cité Internationale de la Langue Française, o Parc Amazonien de Guyane (PAG) e o Consulado Geral da França em São Paulo. O colóquio conta ainda com a parceria do Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica (CFBBA).
As inscrições são gratuitas e limitadas à capacidade do auditório, com tradução simultânea, intérprete de Libras e certificação para os participantes. A programação completa e informações adicionais podem ser consultadas no site do Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas.
O colóquio, mais do que um evento acadêmico, se anuncia como um encontro de histórias, memórias e modos de existir que ultrapassam fronteiras geográficas e disciplinares. Numa época em que a proteção das florestas, dos povos e das línguas se torna pauta mundial urgente, a região do Oiapoque emerge não apenas como um território a ser estudado, mas como uma escola viva de convivência, diversidade e futuro.














































