O avanço dos sistemas agroflorestais irrigados na região do Xingu ganhou nova projeção internacional durante a programação oficial da COP30. A apresentação do projeto conduzido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), órgão vinculado ao Governo do Pará, colocou no centro do debate climático um modelo que combina adaptação ambiental, geração de renda e restauração florestal dentro da agricultura familiar amazônica.

O painel que apresentou a iniciativa integrou o debate “Transformação de Realidades Socioeconômicas e Climáticas na Agricultura Familiar”, reunindo técnicos, pesquisadores e lideranças locais envolvidas diretamente no território. A proposta foi mostrar como o Projeto PROSAF-Xingu vem reconstruindo paisagens degradadas, ao mesmo tempo em que fortalece a economia de famílias que historicamente tiveram pouco acesso a tecnologias adequadas ao contexto amazônico.
A mediação foi realizada pela analista ambiental Poliana Cardoso, que abriu o debate destacando a urgência de soluções capazes de responder ao novo regime climático da Amazônia. Participaram também as analistas ambientais Maria das Chagas e Nayara Dias; o gerente do Escritório Regional do Xingu, Israel Oliveira; e o pesquisador Robert Davenport, especialista em sistemas agroflorestais no Brasil.
Ao apresentar o histórico da atuação regional, Maria das Chagas explicou que o PROSAF-Xingu tem desempenhado papel decisivo na transição produtiva de famílias que antes dependiam de práticas pouco rentáveis e ambientalmente frágeis. Segundo ela, o esforço de reflorestamento aliado à implementação de SAFs irrigados transformou comunidades que antes enfrentavam ciclos constantes de perda de produtividade por causa da irregularidade das chuvas.
Nayara Dias complementou ao destacar a relevância da assistência técnica continuada. Para ela, a adoção de novos modelos produtivos não ocorre por decreto, mas por aprendizagem coletiva e valorização dos saberes comunitários. Esse processo, segundo a técnica, ampliou a autonomia das famílias e consolidou práticas de sociobioeconomia que hoje ganham visibilidade internacional.

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Em sua intervenção, Israel Oliveira apresentou números e interpretações que ajudam a compreender o impacto estratégico do projeto. Ele destacou que a irrigação, quando integrada aos sistemas agroflorestais, fortalece a política ambiental do Estado ao unir produtividade, conservação e justiça climática. Para Israel, o modelo altera o cálculo econômico da região: pequenas áreas tornam-se mais produtivas e lucrativas do que propriedades dedicadas à pecuária extensiva, tradicionalmente dominante no Xingu. Essa mudança abre espaço para cadeias florestais de maior valor agregado, como cacau e açaí, que hoje aparecem como motores de uma economia mais resiliente.
Israel ressaltou ainda que a adoção de irrigação responde diretamente às mudanças no regime hídrico da Amazônia, cada vez mais marcado por longos períodos de estiagem. As ações de entrega de mudas, capacitação técnica e apoio à instalação dos sistemas nas propriedades têm sido fundamentais para mitigar os impactos da instabilidade climática. Para ele, ver o projeto reconhecido na COP30 reforça que o Pará está entre os protagonistas na construção de alternativas reais para o bioma.
No campo científico, Robert Davenport apresentou estudos recentes que comprovam o salto de produtividade obtido com a irrigação dos SAFs. Segundo o pesquisador, o Xingu se converteu em um “laboratório vivo”, onde ciência, inovação tecnológica e conhecimento tradicional se articulam. Seus dados indicam que propriedades irrigadas respondem melhor a eventos extremos e apresentam maior estabilidade produtiva, fator essencial para famílias que dependem da agricultura como principal fonte de renda.
Davenport destacou também o trabalho conjunto com a Associação dos Produtores Rurais e Urbanos Carlos Pena Filho (APRUCAPEFI) — um dos exemplos mais emblemáticos de transformação territorial apoiada pelo PROSAF-Xingu. Maria das Chagas relatou que, antes do projeto, muitas famílias enfrentavam dificuldades para manter lavouras durante períodos de seca. Hoje, com apoio técnico e organização comunitária, participam ativamente da recuperação de áreas degradadas e da reestruturação do mosaico florestal regional.
Ao final do painel, Israel Oliveira reforçou que o reconhecimento obtido em Belém não se trata apenas de visibilidade política, mas de validação de uma metodologia que poderá orientar políticas públicas em toda a Amazônia. Para ele, o modelo de irrigação em SAFs aplicado no Xingu demonstra que é possível conciliar desenvolvimento econômico com conservação florestal e justiça climática. Segundo afirmou, essa experiência marca um caminho concreto para ampliar investimentos, fortalecer cadeias produtivas sustentáveis e replicar soluções em outros territórios do bioma amazônico.





































