O REDD+ (Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação Florestal) é um mecanismo crucial na luta contra as mudanças climáticas, mas, assim como uma árvore forte que precisa de cuidados, ele também enfrenta ameaças de ser “cortado” por críticas que ignoram seu valor fundamental. Em vez de usar a metáfora de “jogar fora o bebê com a água do banho”, podemos pensar no REDD+ como uma árvore cujas raízes se aprofundam em benefícios ambientais e sociais. Destruir esse sistema seria como cortar a árvore inteira, ignorando as contribuições vitais que ela oferece.
As raízes dessa árvore incluem não apenas a mitigação das emissões de carbono, mas também a preservação da biodiversidade e a promoção de condições de vida sustentáveis para as comunidades locais. Embora o REDD+ não seja perfeito, ele é uma das ferramentas mais eficazes que temos para proteger florestas e combater as mudanças climáticas, oferecendo um caminho para a compensação financeira de quem mantém suas florestas em pé. Destruí-lo seria o equivalente a erradicar uma árvore que dá frutos essenciais para o bem-estar do planeta e das populações locais.
O valor profundo das raízes do REDD+
Assim como uma árvore depende de suas raízes para absorver nutrientes e crescer, o sucesso do REDD+ está enraizado em vários fatores que precisam ser compreendidos e preservados. Um desses fatores é o impacto positivo sobre as comunidades locais, que são frequentemente as mais prejudicadas pelo desmatamento e pela degradação florestal. Projetos de REDD+ fornecem recursos para essas comunidades, criando empregos e promovendo economias locais sustentáveis, ao mesmo tempo que ajudam a preservar ecossistemas essenciais. Em muitos casos, projetos de REDD+ têm substituído atividades predatórias, como a extração ilegal de madeira, por alternativas sustentáveis que beneficiam o meio ambiente e a sociedade.
Dados recentes mostram que projetos de REDD+ no Brasil, como no Mato Grosso, Pará e Acre, foram responsáveis por proteger 353 mil hectares de floresta em 2024. Esses projetos criaram brigadas de incêndio, monitoramento por satélite e patrulhas terrestres que impediram a propagação de incêndios devastadores. No entanto, com críticas e pressões sobre o mercado de carbono voluntário, o futuro de tais projetos está em risco. Se cortarmos as “raízes” que alimentam esses esforços, o que restaria?
O mercado de carbono é uma das principais fontes de financiamento para o REDD+, permitindo que empresas compensem suas emissões ao investir em projetos de preservação florestal. Ao fornecer um incentivo financeiro para a conservação, esse mercado cria um elo essencial entre o setor privado e a proteção ambiental. No entanto, alguns críticos argumentam que o mercado de carbono voluntário não é eficiente o suficiente e questionam a eficácia de alguns projetos de REDD+. Embora essas críticas possam ser legítimas, a solução não está em “cortar a árvore”, mas em cuidar dela e fortalecer suas raízes.
Fortalecer as raízes: Melhorias no REDD+ e no mercado de carbono
Assim como uma árvore precisa de cuidados contínuos para crescer forte, o REDD+ precisa de ajustes e melhorias para se tornar mais eficiente e robusto. Uma das críticas recorrentes ao mecanismo é a falta de padronização nos critérios de certificação, o que pode criar incertezas sobre a integridade dos créditos de carbono gerados por esses projetos. No entanto, avanços recentes em tecnologias de monitoramento, como o uso de imagens de satélite e inteligência artificial, têm ajudado a tornar o processo mais transparente e confiável.
A certificação rigorosa é uma das chaves para garantir a confiabilidade dos créditos de carbono. A adoção de padrões internacionais mais claros e a criação de auditorias mais frequentes podem fortalecer a confiança no sistema. Além disso, o uso de metodologias mais avançadas de mensuração das emissões evitadas pode garantir que os créditos emitidos reflitam de forma mais precisa a quantidade de carbono que foi efetivamente sequestrada ou evitada. Dessa forma, o REDD+ pode continuar crescendo e proporcionando os benefícios que já vem gerando, tanto para as florestas quanto para as comunidades locais.
Outro aspecto que merece atenção é o envolvimento mais amplo de governos e instituições financeiras internacionais. O Banco Mundial, por exemplo, poderia desempenhar um papel fundamental no financiamento de projetos de REDD+ em países em desenvolvimento, garantindo que as comunidades mais vulneráveis tenham os recursos necessários para proteger suas florestas. A criação de fundos internacionais dedicados à proteção florestal, com a participação de várias nações e empresas, poderia reforçar ainda mais o impacto positivo do REDD+.
Os frutos que podemos colher: Benefícios sociais e ambientais
A árvore do REDD+ não só ajuda a mitigar as mudanças climáticas, mas também dá frutos que beneficiam as gerações presentes e futuras. Entre os frutos mais valiosos estão a preservação da biodiversidade e a promoção do desenvolvimento sustentável. O desmatamento não apenas libera carbono na atmosfera, como também destrói habitats essenciais para milhares de espécies. Ao proteger essas áreas, o REDD+ desempenha um papel crucial na preservação da vida selvagem.
Além disso, o mecanismo ajuda a combater a pobreza nas regiões florestais, onde muitas comunidades dependem dos recursos naturais para sobreviver. Ao criar empregos e fornecer alternativas econômicas sustentáveis, o REDD+ melhora a qualidade de vida dessas populações e as incentiva a proteger seus recursos naturais, em vez de explorá-los de forma predatória.
Um exemplo prático dos benefícios do REDD+ pode ser visto no Projeto Ahu, em Mato Grosso, onde 32 mil hectares de floresta são protegidos e geram créditos de carbono. Esses créditos, por sua vez, ajudam a financiar as brigadas de incêndio e o monitoramento contínuo da área, que protege a floresta de incêndios e da invasão de atividades ilegais. Isso demonstra que, com o cuidado adequado, a árvore do REDD+ pode continuar crescendo e oferecendo benefícios de longo prazo.
Cortá-la ou cultivá-la? A escolha é nossa
Destruir o REDD+ seria equivalente a cortar uma árvore madura que já provou seu valor para o ambiente e para a sociedade. Em vez de eliminá-lo, devemos focar em melhorar suas raízes, aprimorando os mecanismos de monitoramento, certificação e financiamento, para que ele possa crescer de maneira mais robusta. A metáfora aqui é clara: não podemos cortar uma árvore que está prestes a dar frutos ainda mais valiosos.
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Se abandonarmos o REDD+, o aumento do desmatamento será inevitável, e o que veremos é o retorno de práticas predatórias em muitas regiões, agravando ainda mais a crise climática. A preservação florestal não pode ser vista como um custo, mas como um investimento essencial para o futuro do planeta.
Assim, a escolha está em nossas mãos: cultivar o REDD+, cuidando de suas raízes e garantindo que continue crescendo, ou cortá-lo, condenando milhões de hectares de floresta e as comunidades que delas dependem a um futuro incerto. Optar por fortalecer o REDD+ é escolher a preservação, o desenvolvimento sustentável e uma resposta concreta à crise climática. Afinal, assim como uma árvore bem cuidada pode viver por séculos, os benefícios do REDD+ também podem ser colhidos por gerações futuras.