Açaí como vetor da bioeconomia: ABDI e FIEPA se unem para fortalecer a cadeia produtiva amazônica


O açaí, fruto que já se tornou símbolo global da Amazônia, voltou ao centro de uma agenda estratégica que pode redefinir os rumos da bioeconomia da região. No dia 27 de agosto, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) se reuniram no Observatório da Indústria, em Belém, para discutir caminhos capazes de ampliar a competitividade, a inovação e o alcance internacional da cadeia produtiva do açaí.

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A reunião contou com a presença da diretora de Economia Sustentável e Industrialização da ABDI, Perpétua Almeida, e do presidente da FIEPA, Alex Carvalho. O encontro também integrou o Instituto Amazônia+21, que reúne as federações industriais dos nove estados da Amazônia Legal, reforçando a dimensão regional da pauta.

A história do açaí ajuda a compreender a relevância do debate. Por décadas, o consumo do fruto esteve restrito às comunidades amazônicas e ao trabalho dos chamados batedores de açaí, em processos manuais e artesanais. A virada ocorreu a partir da introdução das máquinas elétricas, que possibilitaram ganhos de escala e o início da industrialização.

Estudos já demonstravam essa transformação: em 2002, mais de 80% da produção de frutas industrializadas no Pará era composta por açaí. Os números se consolidaram ao longo dos anos. Em 2000, a produção de polpa movimentava R$ 364 milhões. Uma década depois, esse valor já ultrapassava R$ 1,9 bilhão. O mercado internacional também acompanhou o avanço: de apenas 4% em 2002, a fatia exportada saltou para 33% em 2010, com os Estados Unidos como principal destino.

Ainda assim, a trajetória do açaí enfrenta novos obstáculos. Questões relacionadas a tarifas de importação, barreiras sanitárias, necessidade de certificação e inovação tecnológica colocam em evidência os desafios da cadeia, especialmente em um momento em que a demanda global por produtos sustentáveis cresce de forma acelerada.

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A visão estratégica: Rota do Açaí

Durante a reunião, Alex Carvalho destacou que a valorização do açaí precisa ir além da lógica de commodity. Ele defendeu a criação da “Rota do Açaí”, uma estratégia comparada por ele a modelos históricos como a Rota da Seda. A proposta busca estruturar um corredor de desenvolvimento que integre ciência, tecnologia, indústria e mercado, posicionando o fruto amazônico como ativo central de uma bioeconomia regional.

Segundo Carvalho, o desafio é transformar o açaí em referência de bioindústria, capaz de gerar valor agregado em cada estado da Amazônia Legal, abrindo caminho também para outras cadeias da biodiversidade. O dirigente destacou ainda que a parceria com a ABDI e o Instituto Amazônia+21 representa um marco para a indústria regional, capaz de alinhar interesses locais às demandas globais por saúde, bem-estar e sustentabilidade.

Para Perpétua Almeida, da ABDI, a aproximação com a FIEPA é um passo essencial para articular ações de inovação e de fortalecimento industrial na região. Ela defendeu que o açaí seja tratado com uma visão geopolítica e estratégica, capaz de ir além do potencial nutricional e alcançar a posição de ativo econômico de escala internacional.

Segundo a diretora, a construção da chamada Rota do Açaí pode consolidar um corredor de desenvolvimento sustentável e bioindustrial, conectando comunidades amazônicas a mercados internacionais. Essa visão, na sua avaliação, não se restringe ao fruto em si, mas pode inspirar a criação de modelos replicáveis para outras cadeias da bioeconomia amazônica.

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Bioeconomia e integração regional

A perspectiva apresentada durante a reunião reforça a ideia de que o açaí não é apenas uma fruta de exportação, mas uma oportunidade de reposicionamento estratégico da Amazônia na economia global. O debate sobre industrialização, certificação e tecnologia mostra que a sustentabilidade, quando integrada a políticas industriais, pode ser vetor de desenvolvimento regional.

A parceria entre ABDI, FIEPA e Instituto Amazônia+21 abre espaço para um desenho de futuro no qual a bioeconomia amazônica deixa de ser uma promessa e se torna uma realidade tangível. O açaí, nesse cenário, aparece não apenas como produto, mas como símbolo de uma agenda que conecta comunidades locais, indústria e mercado global em um mesmo eixo de transformação.

Se a Rota do Açaí avançar, o Pará poderá liderar um movimento de integração produtiva que fortaleça a bioindústria amazônica, diversifique a pauta de exportações do Brasil e amplie a inserção da região no mapa global da sustentabilidade.