Seca severa ameaça geração de energia elétrica na Amazônia

Autor: Redação Revista Amazônia

 

A seca severa que atinge a Amazônia tem gerado preocupações sobre o abastecimento de energia na região, especialmente no Amazonas, onde grande parte das usinas depende do diesel para funcionar. Com a queda acentuada no nível dos rios, o transporte desse combustível essencial tornou-se mais difícil e caro, pressionando os custos de operação das térmicas.

Das 144 usinas de geração de eletricidade em operação no Amazonas, 121 utilizam óleo diesel ou gás para produzir energia. Isso representa uma dependência significativa de combustíveis fósseis, com 1.800 dos 2.094 megawatts gerados no estado provenientes da queima de diesel, uma das fontes mais poluentes, atrás apenas do carvão.

Essa crise tem levado a atritos entre as empresas geradoras de energia e a Atem Distribuidora de Petróleo, principal fornecedora de diesel da região. A distribuidora anunciou que será necessário aumentar o preço do combustível devido às dificuldades logísticas impostas pela seca, especialmente em locais onde o transporte fluvial é a única opção. A empresa, que abastece 95% das comunidades no estado, informou que os custos adicionais, como a contratação de balsas menores para navegar pelos rios com níveis críticos, precisam ser repassados aos clientes.

Custo do diesel deve subir

A Atem comunicou às principais geradoras de energia do Amazonas, como Amazonas Distribuidora, Powertech, Aggreko Energia, VP Flexgen e Oliveira Energia, que o preço do diesel pode subir entre R$ 0,09 e R$ 0,15 por litro, dependendo da localização de cada usina. A Oliveira Energia, por exemplo, possui 42 usinas que dependem desse abastecimento.

O aumento nos custos está diretamente relacionado às dificuldades de transporte de diesel nos rios da região, como o Rio Madeira, que enfrenta a pior seca desde 1967. Para garantir a entrega de combustível, a Atem terá de recorrer a balsas menores, capazes de navegar durante a estiagem severa.

Conflito com geradoras de energia

A decisão de repassar o aumento nos custos gerou reações. A Powertech, uma das principais geradoras de energia do estado, contestou a cobrança extra e acionou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), argumentando que a Atem estaria tentando impor um aumento não previsto em contrato. A empresa alega que esse acréscimo coloca em risco a viabilidade do sistema de geração isolada da região, que já enfrenta desafios estruturais.

Em resposta, a Atem justificou que a seca exige medidas emergenciais para garantir a segurança nas entregas, o que gera custos adicionais. A empresa reforçou que o aumento de preço será temporário, enquanto durar a estiagem, prevista para se estender até novembro.

Impactos da seca além dos custos

A seca não afeta apenas o custo do diesel. A Aneel, preocupada com a possibilidade de desabastecimento de energia, passou a monitorar de perto os estoques de combustível nas usinas térmicas da Amazônia. A agência alertou as geradoras sobre a necessidade de manter reservas suficientes de diesel para evitar apagões.

Além disso, a crise hídrica está expondo a fragilidade do sistema energético da Amazônia como um todo. As grandes hidrelétricas da região, responsáveis por exportar energia para outras partes do Brasil, estão operando com capacidade reduzida. Belo Monte, maior usina hidrelétrica do país, localizada no Rio Xingu, está produzindo menos de 3% de sua capacidade total de 11.233 megawatts. Outras hidrelétricas, como as do Rio Madeira, também enfrentam baixas históricas de produção.

Emergência no Amazonas

Em meio à seca histórica, o governador do Amazonas, Wilson Lima, decretou situação de emergência em todos os 62 municípios do estado. Mais de 77 mil famílias foram afetadas diretamente pela estiagem, e toneladas de alimentos foram distribuídas para ajudar as populações mais vulneráveis. Além disso, o Corpo de Bombeiros do Amazonas tem combatido incêndios florestais, que também são intensificados pela seca, com mais de 13 mil focos de incêndio registrados entre junho e setembro.

Enquanto a seca continua a agravar os problemas logísticos e energéticos na região, empresas e governo tentam buscar soluções para evitar um colapso no fornecimento de eletricidade, ao mesmo tempo que lidam com os custos cada vez maiores de manutenção do sistema energético local.


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