O Cumaru é uma árvore imponente que pode atingir até 30 metros de altura, com sementes capazes de transformar a vida de comunidades tradicionais na Amazônia. Entre junho e dezembro, essas populações se mobilizam para o manejo, coleta e comercialização das sementes dessa árvore, que, além de gerar renda, desempenha um papel crucial na preservação da floresta.
De acordo com a Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), que recebe apoio técnico do Programa Floresta de Valor do Imaflora, patrocinado pela Petrobras, desde 2019, a comercialização de cumaru tem gerado impactos significativos. Nos últimos quatro anos, cerca de 15 toneladas de sementes foram comercializadas, provenientes de territórios indígenas e quilombolas.
Mesmo com os desafios impostos pela grave estiagem que afeta a Amazônia em 2024, a Coopaflora espera vender cerca de cinco toneladas de cumaru este ano. A semente é rica em cumarina, uma substância aromática com diversas aplicações industriais, como na produção de alimentos, cosméticos e medicamentos. Esse potencial aumenta as oportunidades de geração de renda e amplia o acesso das comunidades ao mercado nacional e internacional.
Daiana, uma das líderes da Coopaflora, destaca a importância dos cursos e capacitações sobre as boas práticas no manejo do cumaru. Segundo ela, essas ações têm contribuído para aumentar a produção, especialmente nas áreas onde antes não havia o hábito de coletar a semente. “Hoje, as pessoas sabem que o cumaru é uma fonte de renda”, afirma Daiana.
O trabalho da Coopaflora e seus parceiros, como o Imaflora e o Iepé, é essencial para a conservação da biodiversidade e o fortalecimento dos conhecimentos tradicionais. A colaboração entre práticas sustentáveis de manejo extrativista e a valorização da cultura local garante que os produtos tenham alta qualidade e pureza, além de garantir a responsabilidade ambiental.
Felipe Jacob Pires, coordenador do Programa Floresta de Valor no Norte do Pará, explica que a iniciativa busca estabelecer relações comerciais mais justas, proporcionando rastreabilidade e garantindo que todas as partes envolvidas se beneficiem, fortalecendo as comunidades e promovendo mercados éticos.
Desafios e Avanços na Produção
Em setembro de 2024, foi realizado um treinamento para as comunidades Zo’é, na Terra Indígena Zo’é, no Norte do Pará, com foco em boas práticas sustentáveis para a coleta e processamento do cumaru. A capacitação visa não só melhorar a qualidade da produção, mas também fomentar uma cadeia produtiva sustentável.
O programa desenvolvido pelo Instituto Iepé, em parceria com a Coopaflora e supervisionado pela Funai, é um exemplo de como a colaboração entre povos indígenas, organizações não governamentais e o setor público pode promover o desenvolvimento sustentável. Em novembro, os Zo’é realizaram sua primeira entrega de cerca de 200 kg de cumaru, seguindo práticas sustentáveis, com destino à cidade de Santarém (PA).
Hugo Prudente, assessor do Iepé, destaca o entusiasmo da comunidade Zo’é com o projeto. “Eles têm demonstrado uma grande capacidade de organização. A produção de cumaru é uma forma de fortalecer sua autonomia, permitindo a compra de insumos essenciais para as famílias”, explica Prudente.
A Coopaflora e sua Missão
A Coopaflora busca promover o respeito ao meio ambiente e a inclusão social por meio do comércio justo. Sua missão é fortalecer as cadeias produtivas da sociobiodiversidade amazônica, desenvolvendo estratégias inovadoras para a comercialização de produtos como castanha, cumaru, óleo de copaíba e pimenta Assisi.
Sobre o Programa Floresta de Valor
Patrocinado pela Petrobras, o Programa Floresta de Valor do Imaflora tem como objetivo promover práticas sustentáveis na Amazônia, com foco em restauração florestal e o fortalecimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade. O programa busca gerar renda de forma sustentável, apoiando as comunidades tradicionais que ajudam a proteger e conservar a floresta.
Sobre o Imaflora
O Imaflora é uma organização sem fins lucrativos que, desde 1995, trabalha na promoção do uso sustentável dos recursos naturais. Suas ações buscam conciliar a conservação ambiental com o desenvolvimento econômico, atendendo à demanda de diversos setores, como a agricultura, a sociobiodiversidade e o mercado climático, além de realizar assistência técnica e pesquisa aplicada.