COP 30

O setor mineral anuncia caminho audacioso rumo à descarbonização até 2050

Em 9 de outubro de 2025, o setor mineral brasileiro assumiu um compromisso ambicioso: reduzir até 90 % de suas emissões diretas de carbono até o ano de 2050. A meta foi formalmente apresentada ao embaixador André Corrêa do Lago — Presidente Designado da COP30 — durante encontro organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). A iniciativa surge no contexto de uma coalizão recém-formada, a Coalizão Minerais Essenciais, que reúne 14 entidades e empresas com atuação no segmento mineral.

No encontro, foram debatidas três frentes prioritárias para a agenda climática: minerais essenciais, agricultura e setor elétrico. A proposta é construir soluções colaborativas e ambiciosas — envolvendo governo, empresas e sociedade civil — para fortalecer a posição do Brasil na arena global de sustentabilidade e garantir que a mineração contribua de fato para a transição energética justa.

Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), destacou que a articulação entre diferentes segmentos é um passo estratégico: “A criação de coalizões, onde diferentes setores dialogam entre si, é uma conquista importante. É espetacular que possamos construir uma posição conjunta a ser levada ao Presidente da COP30”, afirmou. A presença do IBRAM ressalta a intenção de transformar compromissos em práticas concretas no setor.

Divulgação – Ibram

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O estudo entregue à presidência da COP30 contextualiza como o setor mineral pode contribuir não apenas para reduzir suas próprias emissões, mas também para mitigar impactos ao longo da cadeia do aço e da energia global. O documento elaborado pela Coalizão aponta que o Brasil, dotado de diversidade geológica e de uma matriz elétrica relativamente limpa, detém vantagens estratégicas para assumir papel central na geopolítica dos recursos minerais.

A proposta de redução de até 90 % das emissões diretas considera três escopos de ação. No primeiro, o foco é a descarbonização das operações próprias, com metas de redução de até 80 % e neutralização residual de 14 %, somando o índice de 90 %. Para isso, foram identificadas cinco alavancas essenciais: eficiência energética, uso de biocombustíveis, expansão da eletricidade renovável, eletrificação de maquinário e neutralização por meio da restauração de áreas degradadas.

No segundo escopo, considera-se a influência do setor mineral sobre a cadeia global do aço. A aposta está em insumos para rotas de redução direta (pelotas, briquetes) e em substituição de processos de altos-fornos por tecnologias menos emissivas. Estima-se que, em 2050, essas mudanças possam reduzir até 110 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (MtCO₂e).

O terceiro eixo recai sobre os minerais de transição (cobre, níquel, lítio, terras raras etc.). A Coalizão aposta que a produção desses insumos poderá dobrar até 2050, contribuindo para uma redução adicional estimada em até 300 MtCO₂e ao ano — equivalente às emissões combinadas de São Paulo e Minas Gerais atualmente.

Mas esse plano robusto não é viável sem um ambiente propício. O relatório destaca cinco pré-requisitos para tornar as metas plausíveis: um marco regulatório claro (inclusive com precificação de carbono), acesso a tecnologias maduras e economicamente viáveis, logística e infraestrutura energética adequadas, instrumentos financeiros verdes e taxonomias que valorizem produtos de menor pegada de carbono, além de incentivos ao longo da cadeia para práticas circulares.

A Vale, uma das protagonistas da coalizão, já posicionou-se favoravelmente ao compromisso. Gustavo Pimenta, presidente da companhia, disse que descarbonização faz parte do cerne do negócio e que o Brasil está no centro desta transição. “Temos um enorme potencial de produção dos minerais que o mundo precisa para uma economia de baixo carbono”, afirmou.

Apesar de ambiciosa, essa trajetória enfrenta desafios estruturais. Problemas relativos à infraestrutura de transporte, à escala do financiamento, ao custo elevado das tecnologias verdes e à resistência política/regulatória são obstáculos concretos. Mas o lançamento da meta coletiva representa um momento simbólico e prático: a mineração não quer mais ser vista como vilã da crise climática, mas como peça estratégica da solução.

Em última instância, o resultado dessa pauta dependerá menos das intenções e mais da capacidade real de execução dos planos. A trajetória de 2025 a 2050 exigirá governança transparente, controle técnico rigoroso e mecanismos efetivos de responsabilização. Se a promessa de reduzir 90 % das emissões até meados do século virar realidade, o setor mineral brasileiro poderá redirecionar seu legado: de grande poluidor a protagonista da era da descarbonização.

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