Produtores de amendoim (Arachis hypogaea L.), batata (Solanum tuberosum) e batata-doce (Ipomoea batatas) enfrentam o desafio de determinar o momento ideal para a colheita e a qualidade de suas lavouras, uma vez que essas culturas se desenvolvem sob a terra, tornando difícil a avaliação até o momento da colheita.
“Para colher o amendoim, precisamos que 70% das vagens estejam maduras, e para isso é necessário arrancar as plantas e realizar uma avaliação visual. Esse processo, conhecido como ‘arranquio’, também movimenta o solo, gerando emissões de CO2”, explicou Rouverson Pereira da Silva, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Jaboticabal.
Tecnologias de sensoriamento remoto
Pesquisadores têm utilizado tecnologias de sensoriamento remoto, como imagens de satélites e drones, para criar modelos computacionais que ajudam os agricultores a prever a maturidade e a produtividade das culturas sem a necessidade de revolver o solo. Essas inovações têm o potencial de aumentar a produtividade, ao mesmo tempo em que reduzem as emissões de gases poluentes.
FAPESP Week Spain
Durante a FAPESP Week Spain, realizada em Madri nos dias 27 e 28 de novembro, Silva apresentou alguns resultados de seu projeto, financiado pela FAPESP. Ele destacou que as tecnologias desenvolvidas conseguem prever a maturidade do amendoim com uma precisão superior a 90%, eliminando a necessidade do arranquio. Para a batata-doce, o modelo também pode estimar o tamanho das raízes, melhorando o processo de colheita.
“Esses modelos permitem ajustar as máquinas agrícolas para otimizar o processo de colheita, minimizando perdas e melhorando a eficiência”, afirmou Silva. O sistema utiliza imagens captadas por drones ou satélites para medir a reflectância das plantas, o que permite avaliar sua saúde e maturidade. Quanto mais saudável for a planta, maior será a sua produtividade, já que ela reflete a luz solar de maneira diferente quando está doente.
A transferência dessa tecnologia para os produtores tem sido um processo lento, segundo Silva. “Precisamos de dados robustos, coletados ao longo de vários anos, para garantir que os modelos funcionem para diversas cultivares e em diferentes condições de cultivo”, explicou.
Uso eficiente da água na agricultura
Outro projeto apoiado pela FAPESP, desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, utiliza radar miniaturizado em drones para criar mapas de umidade do solo. O sistema de radar, que interage com o solo em três bandas diferentes de frequência, pode estimar a quantidade de água disponível nas plantações, como as de cana-de-açúcar.
A tecnologia, que também recebeu apoio da IBM Brasil, resultou na criação da startup Radaz, e foi testada em plantações paulistas. A precisão da estimativa de umidade do solo supera 90%, o que permite prever a produtividade das culturas e ajustar a irrigação com base nas necessidades específicas de cada área.
“A irrigação de precisão ajuda a evitar o desperdício de água, liberando a quantidade exata necessária para as diferentes regiões do solo, garantindo que nenhuma área fique saturada ou seca demais”, explicou Barbara Janet Teruel Medeiros, professora da Unicamp envolvida no projeto.
O sistema desenvolvido pelos pesquisadores também pode contribuir para uma maior economia de água, um tema de grande interesse em projetos europeus. O projeto DATI, por exemplo, busca reduzir o consumo de água em até 20% por meio de tecnologias digitais de monitoramento, como drones e estações agrometeorológicas. Já o projeto Earth Observation for Water Use Efficiency, desenvolvido pelo CSIC, na Espanha, visa otimizar o uso da água em culturas de pastagens e cereais no Mediterrâneo, usando imagens de satélite para monitorar a evapotranspiração e detectar estresse hídrico.
“Precisamos de soluções para a agricultura de precisão, onde o manejo de cada área é feito de maneira personalizada, considerando as diferenças no solo e no crescimento das plantas”, afirmou Irene Borra, pesquisadora do CSIC. A ideia é criar mapas detalhados para gerenciar a irrigação e melhorar a eficiência no uso da água.
Esses avanços, com o uso de tecnologias inovadoras, mostram que é possível aumentar a produtividade agrícola de forma sustentável, reduzindo impactos ambientais e garantindo uma melhor gestão dos recursos naturais.